sábado, 29 de novembro de 2008

Jantar fora, sábado à noite


1- O garçom traz o bolo. Velinha acesa e todos cantam "parabéns pra você". A aniversariante também canta parabéns e bate palmas (pra si mesma).

Só eu que acho esquisito ou é meio patético quando o aniversariante também participa?

Ao cantar junto, fica um ritual meio hipócrita: o homenageado fica diluído no meio dos outros, repetindo o mesmo gesto de todos.
Não há um destaque, um foco das atenções. É como se todos cantassem e batessem palmas juntos para o nada.


2- R$ 6,00 no Valet-Parking. Será que mereço desconto se o manobrista devolve o carro com cheiro de cecê?

Jeitão carioca

É muito interessante observar a mistura da tecnologia urbana com o jeitão carioca:

passando pelo Humaitá hoje de manhã, olhei aquela placa eletrônica gigante, que indica os pontos de tráfego intenso das proximidades.

ela dizia o seguinte: "4623485763464398393734647383623846473783946348364960"
Era evidente que tinha dado um problema no computador central da máquina.

Mas o placar luminoso continuava lá, exibindo essa sequência nonsense de números.

Penso: Se fosse nos Estados Unidos, Alemanha, ou qualquer um desses países onde há grande controle da ordem urbana, quanto tempo um outdoor eletrônico com dizeres malucos ficaria ligado, exposto à multidão?

É muito engraçado, você dirigindo de Botafogo para o Jardim Botânico, e um colosso de luzes com caracteres aleatórios fazendo parte da paisagem.

E o melhor... deve ter ficado lá assim a manhã inteira.

No fundo, gosto disso.
Não curto a falta de jogo-de-cintura do jeito de ser norte-americano ou germânico. Não gosto da fissura de ser certinho demais, organizadinho demais.

É como se fosse uma instalação de arte contemporânea em pleno caos da rua Humaitá.

"4873984738947938" não quer dizer nada. E daí?

Quando não descamba para o desrespeito ao próximo, o jeito relax do carioca é uma ótima válvula de escape para as neuroses do dia-a-dia.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Só toco cover

Estou muito longe de ser um virtuoso. Minhas habilidades no violão só conhecem as notas maiores e menores do Dó até o Si.

Variações de acordes além destes não existem no meu dicionário de música. Mesmo assim, às vezes tenho impulsos de tentar compôr alguma coisa.

Mas toda vez que isso me ocorre, fico frustrado. Quando ouço Dave Matthews, tenho a nítida impressão de que todas as melodias e letras mais belas já foram criadas por ele.

É um monstro da sensibilidade, das bonitas canções, e das inovações.

Já compôs centenas de músicas. Quase todas, magistrais. Te tocam de alguma maneira: dependendo do momento de vida, umas mais e outras menos.

Aí penso... sobrou algo pra mim?

É como jogar uma pelada de futebol, e o capitão do time adversário formar a equipe dele com Pelé, Garrincha, Zico, Puskas, Zidane...

Quem resta para começar o time?

Parabéns, Dave Matthews. O maior inibidor de possíveis talentos ao violão!



Situação fictícia

Imaginemos uma situação fictícia:

O que era um país virou dois há 60 anos.

Rachou por causa de conflitos religiosos, o pior tipo de rivalidade. Não é baseada na razão, na lógica, mas sim na fé de que se está certo e o adversário está errado.

Os dois países são vizinhos. Guerras marcaram a história da fronteira entre os territórios.

Um desenvolveu a bomba nuclear. O outro correu atrás e também conseguiu a sua. Ambas nações de população paupérrima, vale destacar.

Um belo dia, a cidade mais importante de uma das nações é invadida por um grupo financiado pelo país inimigo. Em ataques coordenados, explosões, sequestros, 100 mortos e 300 feridos.

Como se não bastasse, o ato terrorista não se resume a um instante. Dura horas. Além da chacina em vários pontos da cidade, terroristas invadem dois dos símbolos mais luxuosos do lugar. Fazem reféns.

Aprendizes do 11 de setembro, usam as câmeras da tv ao vivo para fazer a nação inimiga sofrer horrorizada: 24 horas no ar, a imagem de um hotel incendiado, com os criminosos do lado de dentro, mantendo vítimas vivas, com intenção de derramar mais sangue.

Essa imagem da construção ardendo em chamas é a metáfora de um campeão saboreando a vitória e ainda tripudiando do inimigo nocauteado.

Nesta cena fictícia, o Primeiro-Ministro do país atacado declara guerra ao país vizinho. O uso da bomba atômica depende de um dedo e um botão.

E se a situação fosse real, como terminaria essa história?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Seu laptop dá choque?

Coloco as mãos pra escrever no teclado, e sempre levo choque embaixo dos dois punhos.

Será que é normal?

Um andídoto é permanecer de tênis no pé. A borracha da sola impede a circulação da corrente elétrica.

Ironia: a única regra que sigo na minha casa é tirar os sapatos para não trazer sujeira pra dentro.

E depois dizem que a tecnologia não manda no homem.

Spoleto em 3 tempos

1- Nunca peça três porções ou mais de mussarela entre suas oito opções de ingredientes no Spoleto quando estiver com pressa.

A garfada de ida será igual a todas. A volta trará um fio de queijo bem elástico. Quanto mais porções de mussarela, mais longe seu braço alcançará antes de romper o fio.

Não é nada fast food.




2- Meu prato no Spoleto é sempre o Mega Piatto, 10 ingredientes em vez de 8;

4 de gorgonzola, 4 de peperoni, 2 livres para o gosto do dia.

fetuccine, molho ao sugo, gratinado.

uma bomba-relógio.



3- A propósito daquela comunidade do Orkut "Tenho medo do cara do Spoleto!"...

Acho que o processo todo de pedir comida nos remete à uma imagem de estudante do primário:

- É sua vez! Sem trazer cola! Rápido, teste-relâmpago! Oral! Cite os dez ingredientes que você quer no seu macarrão! Ok, o primeiro é gorgonzola! Próximo! Ahn, que mais?

Aquela batidinha da colher no metal do fogão acompanha a voz apressada! Recurso para apressar mais ainda!

É a adaptação, 100 anos depois, daquele professor impaciente de palmatória na mão.

toc toc toc

Da próxima vez, levo uma apostila pra casa pra estudar.

Um grito na floresta

Dar um berro na floresta.

pra que serve?

não há ninguém por perto.

Que som faz, se ninguém escuta?

alguns animais hão de sair voando

a mata mexendo

mas o berro logo se perde em meio aos outros sons

vento, chuva, cigarras, cacarejos

de que valeu gritar?


E pra que serve escrever um blog?

uma só voz

um zerinho perdido no meio do bilhão


alguém precisa escutar o grito

no meio da mata

para ele existir?


pode haver quem ouça

pode haver quem ouça


mas o berro

rumo à imensidão da selva

é, na verdade

para se ouvir sozinho