quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ 2010!!!

Havia um milhão de pessoas dentro do shopping nesta quinta-feira, 31 de dezembro de 2009.

Turistas do Brasil e do mundo no Rio de Janeiro. A chuva estragou a praia da galera.

E todos infurnados no centro comercial, vizinho da Praia de Copacabana, o maior Reveillon do planeta.

Por coincidência, o tal shopping é, vamos dizer assim, a cozinha da minha casa.

Não ligo o fogão do meu apartamento há 3 anos. Sanduíches caseiros são raríssimos.

Frequento os restaurantes do Shopping todos os dias.

E o que aconteceu hoje? TODAS as opções estavam abarratodas, com filas e números de senha sendo distribuídas!!!

Na loja dos chinelos Havaianas, por exemplo. Sabe o que tinha? Tinha uma corrente segurando a fila do lado de fora, pra não deixar todo mundo entrar ao mesmo tempo!

Cara, você já viu fila pra entrar em uma loja da Havaianas??

Enfim, surrealismo puro!

Exijo que o mesmo esquema adotado para o Reveillon de Copa seja adotado para o Shopping Rio Sul.

As ruas do Bairro são fechadas, ninguém entra de carro ou de táxi!

Exceção, é claro, para os moradores de Copacabana! Claro, eles têm privilégios por residirem no lugar que é visitado por milhões apenas uma vez por ano!

E aí? Cadê a minha carteirinha de habituê dos restaurantes e lanchonetes do Rio Sul!

Quero furar fila, passar na frente!
Gente, vocês fazem comida em casa e tem refeição nos hotéis! Eu não!!!

Termino o ano de 2009 de cara feia, com fome!

Bom presságio para mudanças em 2010!

Feliz ano novo para todo mundo!

Muito obrigado pelas visitas!!!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

1 ano pra frente, 1 ano pra trás

Aperte um botão qualquer do seu computador.

Não importa qual. É apenas um exercício de imaginação.

Transporte-se para este mesmo dia, 30 de dezembro, mas de 2008.

365 dias atrás.

Agora, imagine-se ligando a TV e vendo a chamada para a retrospectiva DESTE ANO, de 2009:

O locutor informa: "Você vai ver os acontecimentos mais marcantes do ano, as imagens, as tragédias, etc..."

E as imagens que aparecem são as seguintes: O Felipe Massa com uma baita cicatriz no olho esquerdo, o funeral do Michael Jackson, o Rio de Janeiro sorteado como sede olímpica, Flamengo hexacampeão brasileiro, avião da Air France espatifado no chão.

Imagina o espanto, o seu espanto, na ignorância de 1 ano atrás, se pudesse ver todas essas imagens do futuro???

O que??? Michael Jackson vai morrer???
Flamengo??? Vai ser campeão brasileiro de pontos corridos???
Rio de Janeiro sede olímpica??? Tá de sacanagem né?
Felipe Massa com o rosto deformado???

Fiquei pensando em como será a chamada para a retrospectiva de 2010.

Se pudéssemos saber dela agora... quantas revelações teríamos, não?

Lúcio levantando a taça do Brasil campeão da Copa de 2010?
Vascão campeão brasileiro na volta à série A?
Obama sofreu um atentado??
Serra celebrando a eleição para presidente do Brasil?
Mísseis nucleares testados pelo Irã?
.
Enfim, que mundo surpreendente o mundo nos reserva.
Em quantas coisas não acreditamos agora... mas serão normais e manjadas daqui a 12 meses?
Que caminhos a vida tem guardados para nós? Para nós, planeta, e para nós, pessoas?

Se você tivesse a chance de dar uma olhadinha na retrospectiva da sua vida daqui a um ano, você espiaria?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal


Na tal data
nos encontramos

Na tal ocasião
ficamos juntos

Fim de ano
lembro
e desejo

desenlaço
surpresas

desembrulho
tristezas

dezembro
esperanças

Jesus
é menino
como a vida
que habita em mim

Nesta data
na tal data
Seja feliz

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Definição: an.gús.tia - sf (lat angustia)

Angústia,

sensação que se esconde lá dentro.

Camuflada, não revela aos outros

sua verdadeira intensidade.


Para que fosse notada,

reconhecida, percebida pelos demais,

e com força semelhante à dor real,

precisaria nascer de uma cena grotesca:


A mão rompe peito adentro,

atropela as costelas, rasga o coração,

alcança as vísceras e as esmaga entre os dedos,

um líquido viscoso explode e escorre pelo braço.


Por dentro, no eco da caixa toráxica

uma tocha acesa, incandescente.

Pelas vias aéreas, um veneno gasoso na respiração,

que queima a cada suspiro.


No estômago, insere-se um bloco de chumbo

denso, pesado, grande o suficiente,

para permitir um trânsito mínimo

do bolo alimentar.


Ah, é claro,

tudo isso com a pessoa bem viva,

acordada, lúcida e consciente.

Pois angústia só se sente

quando não se sabe a hora de acabar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Corolário


Qualquer coisa que tenha pretensão literária deve, necessariamente, ter 141 caracteres ou mais.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Nada a dizer

Só pra registrar,

só pra relatar,

gostaria de acrescentar...


Escrever é força.

Gravar o pensamento.

Lavrar em pedra a sensação.


Hm, tenho a impressão...

Quero dizer, preciso falar,

tenho que me expressar!


Chegou a hora das palavras,

tenho muito a imaginar,

a contar, a declarar.


Escrever.

Pura explosão, puro poder.

Faz existir,
.
mesmo quando não se tem nada a dizer.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Denúncia


Ele é conhecido no Brasil inteiro. Preferência nacional.

Cultuado nos quatro cantos do país.

No entanto, foi assassinado!!!

E eu sei quem foi!!!
-----------------

Guaraná.

De preferência, Antárctica. (Claro, é o mais gostoso).

Mataram o bom e velho guaraná. E eu conheço o criminoso.

Quer saber quem foi? O refrigerante diet.

Acompanhe minha linha de raciocínio:

15 anos atrás, pedir um guaraná no restaurante era muito fácil.

-Traz um guaraná?
- Sim senhor!

E fim de papo.


Hoje é assim:

-Traz um guaraná?
- Normal ou diet?
- Normal!


Hoje em dia, todo guaraná tem que ser pedido com explicação.

O guaraná sem complemento, por consagração do uso, por antiguidade e tradição, deveria ser compreendido como "normal". Quero guaraná e pronto! Não quero explicar!

Mas não é assim que funciona. Todo garçom pergunta qual eu quero: normal ou diet??

Caceta, se eu quisesse o diet teria dito logo de cara!

Às vezes, eu mesmo me pego pedindo guaraná normal!
- Quero guaraná normal, tá?

Sem perceber, traio meus ideias e minhas convicções.

É uma manobra sórdida dos refrigerantes dietéticos.

Sabe aquele ameaçador dito popular: "Vou cair mas vou levar você junto?"

Pois é. As cocas e guaranás diet chegaram e transformaram nossos pobres guaranás. Como toda bebida dietética tem que ser pedida com explicação, fizeram com que os normais também tivessem que ter esse sobrenome: "Normais".

Só porque têm gosto de remédio purgante ficam envenenando a vida dos deliciosos irmãos.

Fico pensando:
Normal.
Qual seria o oposto disso?

Guaraná anormal? Será que o Kuat ou Schin podem ser considerados anormais? (Acho que sim).

Vivemos a época da segmentação.

Todos os produtos estão disponíveis para o consumo dos mais diferentes perfis de gente.

Tem normal, diet, de laranja, de chocolate, de jiló.

TV a cabo tem canal de sitcom, de documentário, de filme, de esporte, de criança, de animalzinho.

Para fazer gosto a todo mundo, há várias opções de tudo.

E quanto mais segmentação, menos autenticidade, menos genuinidade, mais explicação.

O vovô guaraná, o Antarticão de garrafa de vidro e tampinha de ferro, deve dizer para seus netinhos-pet:

-Meus pequenos, quando vovô era garotão, todo mundo me conhecia! Eu era o dono do pedaço! Onde já se viu a quantidade de nomes que essa geração usa!!!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Perder

Saber perder.

O ser humano valoriza tanto.

Deve ser

porque é ato sobre-humano,

gesto inalcançável,

distante das nossas ambições.


Pois veja,

quantas certezas temos na vida?

Só uma. Apenas uma.

A de que vamos perdê-la.

Tudo muda. Mas perder, não.

Perder é ponto sem discussão. Sem negociação.


Dramático,

trágico destino do homem.

E como dele não se foge,

como admitir

tantas pequenas perdas vida afora?

Não basta uma, a maior de todas?


Não adianta,

não sabemos, não aceitamos,

dói demais, esse negócio de perder.

.
Perde-se o útero,

casa,

perde-se a infância,

mágica,

perde-se a juventude,

explosão.


Perdem-se os queridos,

ferida,

perde-se a saúde,

derrocada,

perdem-se os amores,

vácuo.


Perder.

Palavra sem sinônimo.

Absoluta.

Basta uma no vocabulário.

Para que ninguém corra o risco de perder

mais do que pode aguentar.


Perdas.

Às vezes nos tiram, nos tomam à força,

às vezes somos nós que as provocamos.


Não adianta,

não cai a ficha,

não admito, não engulo,

que ao me darem a vida,

presente divino,

me impuseram também uma única e cruel direção.


Tolice pensar,

que viver é ganhar.

Ganhar vida, chances, felicidade,

experiência, amores, oportunidade.

Morrer é perder.

Viver também é.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Feto

Abrem-se os olhos,
pum,
vivo!

Ar nas narinas,
pulmão funcionando,
tudo muito estranho,
neste corpinho de gente.
.
Bem, tenho uma novidade,
e não é boa:
viver não é nada fácil.

Sem convite,
sem querer,
sem entender,
caímos no mundo.
.
É hora de, simplesmente, caminhar.

Tente, tente porque é o destino humano.
Tentar entender, compreender.
Os porquês, os pra quês de tudo.
.
Tente, tente controlar o sentimento,
o tormento,
é do jogo.

Pois só se aprende,
que não se controla,
que não se entende,
tentando.

E vivendo.
E caminhando.
.
Respira
e sofre
respira
e vive
respira
e dói.
.
Sorria.
Sim, sorria,
mas saiba,
que felicidade
pura, em estado bruto,
não é algo próximo ao ser humano não.

Bifurcação.
Às vezes toma-se um caminho
sem nem saber por quê.
.
É do jogo, é da vida.
É ferida.
.
Como era antes,
dos olhinhos abertos,
do nariz respirando?

Não sabemos, não entendemos,
só conhecemos esta, que fere, corta, rasga, machuca.

Viver
é não saber.
Vai entender!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Celular e fones de ouvido

Estão na moda esses fones de ouvido acoplados ao telefone celular né?

Com eles, o cara pode falar ao celular até dirigindo. Já viram?

Outro dia, um amigo teve uma tirada muito boa.

Já era a terceira ou quarta vez que eu passava por ele e o via falando ao telefone com aquele aparelhinho. Aproveitei para provocá-lo:

- Cara, toda vez que passo por você e você está no celular com esses fones de ouvido, tenho a nítida impressão de que você está falando sozinho! É muito estranho.

- Deixa eu te contar uma coisa: na verdade, eu estou falando sozinho. Coloco os fones de ouvido só para disfarçar.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Contra o tempo

Corro contra o tempo!

Ainda tenho dezesseis minutos.

Mas a cada linha que escrevo, terei menos.

Cada letra a mais, um segundo a menos rumo a dezembro.

E pra que essa pressa toda?

Porque quero escrever este post no mês em que o blog completou um ano.

1 ano.

O dia exato foi 25, quarta-feira passada.

Não escrevi nada por esse ou por aquele motivo.

Mas sinto, nas regras fictícias do meu pensamento, que escrever em novembro seria, ainda, uma forma de celebrar este um ano em tempo!

Neste momento, gostaria apenas de dividir com vocês essa satisfação e essa alegria.

Neste um ano, vários textos que postei aqui nunca teriam existido não fosse o simples ato de escrevê-los.

Óbvio isso, não? Muito óbvio.

Mas é uma afirmação de força gigantesca.

Fico imaginando: que frustração a minha seria ter tido tantas idéias, algumas toscas outras bacanas, e nunca ter podido torná-las concretas.

Idéias que me viriam à mente e sumiriam no instante seguinte.

Aqui, no blog, tive a oportunidade de capturar algumas delas, na rede de caçar borboletas esvoaçantes, e transformá-las em texto.

Um ano depois, é bacana olhar pra trás e ver, catalogados, tantos posts sobre diferentes temas.

Posts, textos, assuntos que puderam ser divididos com vocês. E isso é o mais gratificante.

Temas bobos ou complexos, textos aos quais me entreguei totalmente... e outros deles fiz por pura diversão. Tudo muito pessoal, tudo feito pela pura curtição de escrever.

E saber, que apesar do motivo quase lúdico e sem ambição da existência deste blog, muitos de vocês tiveram o carinho e o interesse de deixar comentários, observações, sugestões e críticas.

Enfim, tiveram o ímpeto de participar, interagir, conversar.

E isso é o mais bacana de tudo.

Por isso, após um ano, doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias, só tenho a dizer um sincero "muito obrigado"!

Corro contra o tempo! Ainda tenho seis minutos antes de bater meia-noite.

Será dezembro. Será tarde demais.

Agradeço à Maria Clara, meu amor, que me visita e me apóia desde o dia 1. Agradeço a meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha família, minha Tieta Helena, felipinho, Cristiano Hirmão, Valmir, Marquinhos, Marina W, Chico, Zé Luis, Rachel, Touro, Daniel Dandani e todos os queridos, quadradinhos e cabecinhas aí embaixo, que são seguidores do blog.

Cometerei uma injustiça ao não citar nominalmente, um por um, cada pessoa que já comentou e visitou o blog.

Mas faço isso por um bom motivo.

Faço porque corro contra o tempo.

Faltam dois minutos apenas.

Dois minutos para a meia-noite.

Quero postar ainda em novembro.

Corro contra o tempo!

Mas, por causa do blog e por causa de vocês, corro a favor dele também.

Ano que vem, terei tantos mais posts e conversas para lembrar!

Tudo arquivado.

No tempo.

Que está a meu lado.

Obrigado!

Beijo a todos!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Plano de vôo

Amigos,

nos últimos meses, empaquei.

Por uma coisa ou por outra, está difícil criar, escrever, pensar, imaginar, refletir, mergulhar.

As letrinhas nos teclados andam enferrujadas, insensíveis ao toque dos dedos.

Não deslancham, não desabrocham, não despertam.

Blogspot, pista de decolagem. Tem sido difícil sair voando, fazer manobras, dançar no ar.

O avião anda sem combustível. Ou o céu está carregado mesmo, impróprio para vôos.

Aos poucos amigos que insistem e dão sempre um pulinho aqui, agradeço.

Aguardo previsões meteorológicas otimistas, ou soluções de mecânica para aeronaves.

Enquanto isso não acontece, continuo em terra firme.

Bem menos emocionante. Mas mais seguro.

Beijos a todos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

16:57

Assim que ouvi a notícia, olhei no relógio.

Era pra marcar bem a hora.

Fixar os olhos em uma verdade real, visível, me ajudaria a não duvidar do que escutavam os ouvidos.

A rádio CBN divulgou a seguinte notícia:

"Foi encontrada, no Largo do Machado, uma carteira com R$ 1.400,00 em dinheiro, cartão de crédito, cheques e um anel de ouro. A Guarda Municipal ligou para a dona dos objetos imediatamente e a carteira foi devolvida."

Estou enganado ou a manchete, antigamente, era dizer que alguém foi roubado???

Falar nisso... qual foi a última vez que um assalto de carteira na rua virou notícia?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os três azares do morcego

Alguém teve uma caridosa idéia:

Colocar, no alto de uma árvore, uma garrafa plástica cortada ao meio com pedacinhos de banana descascada.

Quando parei o carro, à noite, na porta do meu prédio, percebi um morcego dando vôos rasantes sobre os galhos.

Meu primeiro pensamento foi: -Como vou sair deste carro sem ser atropelado pela criatura?

A fórmula não é complicada, mas requer coragem.

Abra a porta, dê o fora rápido, bata a porta, saia correndo e não olhe pra trás.

É uma pena.

Os morcegos podem ser as criaturas mais dóceis do planeta Terra, mas nunca terão a oportunidade de mostrar suas virtudes para o mundo.

Fosse um cachorrinho ou um filhotinho de gato buscando comida, todos iriam parar para admirar a meiguice do animal.

Mas a fome do mamífero voador, essa não.

Esta é recebida com repulsa pelas pessoas.

Não é à toa que estes seres quirópteros decidiram, no seu processo evolutivo, só sairem da toca à noite.

Com tanto preconceito, restou-lhes adotar uma forma de vida bem afastada do convívio social.

Na verdade, o animal não é dotado de muita sorte. Pelo contrário.

Pesa sobre si a capa da maldição. São três, e não mais que três, os azares do morcego:

1- A aparência repugnante.

Tiveram a infelicidade de nascer parecidos com monstrinhos. Muitos os associam a ratos voadores. Que culpa têm as criaturinhas de possuir asas que nascem de longos dedos e braços raquíticos? Em vez de penas, uma membrana. É esquisito realmente. Os designers dos pássaros capricharam mais no acabamento. Mas fisionomia não deve ser motivo para discriminação.

2- São cegos.

Seus parceiros de vôo, as águias, além de lindas, têm a capacidade de enxergar uma moeda de 1 real a 1 km de altura. Já o feioso não vê um palmo à frente do nariz em formato de tomada. Quanta injustiça! Dessa forma, os vôos do morcego são muito mais descontrolados e ameaçadores. Guiados pela essência da banana sobre a árvore, fecham os olhos e mergulham no ar rumo ao rastro de cheiro. Melhor sair da frente.


3- Comparações bizarras.

Não bastasse possuir deficiência visual e ter um semblante horripilante, o morcego foi, historicamente, comparado a seres malvados e sinistros. Se Conde Drácula e seus vampirinhos se transformassem em gansos, certamente a rejeição dos mamíferos voadores não seria tão grande. No entanto, vemos a criatura como chupadora de sangue, no melhor estilo Nosferatu. Que erro de avaliação! E pensar que a maioria absoluta dos morcegos prefere as frutinhas da estação ao líquido vermelho-ferro.

Talvez o Batman tenha sido o único cabo eleitoral fiel a tentar lhe levantar o moral.

Vamos torcer que o fenômeno Crepúsculo abra novos horizontes na rasa mente humana.

Feio. Cego. Motivo de chacota.

O mundo, definitivamente, precisa de mais tolerância.

A começar por nós.

Da próxima vez, não sairei correndo do carro.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pseudo-poema

Um professor dizia

todo poema é sobre sentimento.


A única outra possibilidade,

caso seja seco e sem vida,

poesia careta e combalida,

deve ter métrica, ritmo ou rima.


Se não tiver um

ou o outro

não é poema.


Pois eu não faço poema,

Se faço, é pra contrariar.

Faço-o vazio, sem alma.


O que sinto?
.
Eu sei.
.
Vocês não.


Poesia de araque,

que esconde, oculta.


Versos inúteis,

nem métrica tem.

Rima? De vez em quando.

Feita à Bangu.


Estrofes desnutridas,

idéias caídas,

palavras a esmo,

mal-escolhidas.


Professor,

você estava errado.

Eis um pseudo-poema

sem seus pré-requisitos.


É, professor.

Acho que você estava certo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Não


Um tiro de calibre trinta e oito.

Seco. Objetivo.

Estampido alto e breve.

- Não!

Um 'não' é forte, preciso e decidido.

Parece não deixar margem para dúvidas.

Três letrinhas escolhidas a dedo.

Um comprimido tarja preta, compacto, de pura negação.

Pense um pouco.

A palavra 'negativo' tem o mesmo significado.

- Vai ao jogo?
- Negativo.
.
Mas dizer 'negativo' é muito mais suave do que dizer 'não'.

No negativo, os ingredientes da recusa estão uniformemente diluídos nas letras.

Uma consoante, uma vogal, uma consoante, uma vogal... equilíbrio total.

É como tomar novalgina misturada na água.
Só se sente o sabor amargo bem de leve.

O não é diferente.

É um sossega leão de efeito imediato.

Se não for engolido com água, pode ser injetado na veia ou até invadir feito supositório.

Êne, a, ó, til.

O 'til' faz toda a diferença. Talvez seja a substância mais forte, o princípio ativo mais poderoso do medicamento.

O til se pronuncia com voz anasalada.

Nenhum som passa pela caixa sonora do nariz discretamente.

Pra se dizer 'não', tem que fazer força.

-Não!

A letra 'n' e o til vibram no aparelho vocálico.

Faz tremer o corpo, faz mexer as moléculas de som, explode no tímpano do ouvinte.

É como sentir no peito o eco de uma caverna após um grito.

Assusta os morcegos e desperta as feras adormecidas.

-Não!

Pois veja o 'sim'.

Muito mais amigável, mais agradável.

O 'sim' desliza boca afora. É uma palavra escorregadia.

O 'S' se encarrega disso. Por isso é tão fácil dizê-lo.

Já o 'não' não. Só se diz com uma boa razão.
---

Epílogo

A espécie humana, cada geração a seu tempo, se julga capaz de estabelecer a verdade sobre todas as coisas.

Mas é também da condição humana viver, evoluir, para descobrir que todas as verdades de 100 anos atrás eram, na verdade, uma grande mentira.

O 'não', tão temido e malvado apresentado no texto acima, nada mais é do que uma grande falácia.

Ele não é tão decidido e obtuso quanto parece.

Se aparentemente ele não deixa incertezas, conhecendo-o um pouco mais descobre-se que é um poço de contradição.

Veja o exemplo.

Se pergunto:

- Quer ir ao cinema hoje?
- Sim.

(Não dúvidas quanto à resposta. A pessoa aceitou o convite)

Mas se pergunto:

- Você não quer ir ao cinema hoje?
- Não.

E aí? A resposta 'não' é para dizer sim ou não?
É para concordar com a pergunta e dizer "eu não quero ir ao cinema"?

Ou é pra negar a pergunta e responder, na verdade "Não! Eu quero sim!"
Na verdade, o 'não' é um grande escravo da vírgula.

Por causa dela, as duas respostas seriam totalmente diferentes.
- Não quero!
- Não, quero!

Quem diria.
O não, afinal de contas, não é tão durão assim...

Ou não?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Os Substitutos

Na falta de algo bom pra contar ou comentar, vou falar de um filme que eu vi.

Os Substitutos, com Bruce Willis.

Sabe aquele jogo Second Life? Você cria um bonequinho, escolhe a idade, a aparência e as características dele e sai jogando, interagindo com outros bonequinhos mundo afora, controlados por outros internautas?

O filme fala exatamente desse jogo...

mas passado na "vida real".

Imagina só.

Uma época, (nada distante da atual), em que "internautas" possuem personal-andróides.

O cara fica em casa, em frente a um computador, e dá os comandos a um ciborg que vive a vida de um cidadão comum.

O usuário pode ser um gordinho barbudo de 30 anos, mas seu andróide pessoal pode ser uma jovem bonita de 18 anos, curtindo todas na noitada.

Uma ficção científica (assustadoramente familiar aos cidadãos do século XXI), em que marido e mulher não interagem mais no téte-à-téte, mas apenas pelos seus robôs.

História superverossímel.

Um Bruce Willis de cavanhaque (já abatido pela calvície e castigado pelas rugas) controla, da sua poltrona, um ciborg feito à sua imagem e semelhança... com a pele mais lisinha e um vasto cabelo loiro bem cafona, daqueles que exageram no visual porque têm dificuldae de lidar com a idade já avançada.

Ele é um policial que, subitamente, se vê envolvido na história principal do filme (não vou contar).

O interessante é a forma como os tais bonecos, na trama, são vendidos aos consumidores.

Além dos benefícios de poder adotar a estética que bem quiser, os robôs reduzem drasticamente as taxas de acidentes, roubos e assassinatos. Claro, caso o seu andróide seja atropelado, você estará são e salvo em casa. Basta comprar um novo e colocá-lo nas ruas novamente.

E nem adianta dizer "Ah, mas ninguém toparia isso na vida real! Quem aceitaria viver a vida através de um robô?"

Os internautas dos dias de hoje são a melhor resposta.

Muitos preferem existir no Second life a viver a vida de carne e osso.

Para muitos, a vida real é mais sofrida que a idealizada, virtual. É ou não é?

E ainda tem aqueles twitteiros frenéticos. Quem não tem um amigo próximo que não consegue mais viver em sociedade?

Basta sentar numa mesa de bar, ou na praia, ou em qualquer canto, que abrem mão da companhia e da conversa dos camaradas para ficar mandando frases para o Twitter, do tipo:

"Estou reunido com amigos no barzinho. Faz muito tempo que não os vejo, estou curtindo muito!"

Está mesmo? Esses viciados nas mensagens curtinhas parecem não se interessar em mais nada a não ser essa idiota e vazia sensação de se comunicar com todo mundo e com ninguém ao mesmo tempo.

Os Substitutos.

Um filminho bacana. Vale a pena ver.

Ver e pensar.

Pensar em como, sem perceber, deixamos nossas vidas serem drenadas pela experiências tecnológicas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Fora do ar


Desculpem o transtorno.


A programação do Blog 'De vez em quando' continua fora do ar.


Dentro de alguns instantes, vamos restabelecer o sinal.


Obrigado pela paciência.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Inspiração

Resseca

a pele, o nariz, a folha de outono.


A inspiração,

às vezes,

também resseca.


A inspiração

fica com aquele aspecto sem cor, farelento,

como se, de lá, nunca tivesse saído nada.


Como se aquela inspiração,

útero, mãe das idéias mais loucas,

nunca tivesse gerado vida.


A inspiração,

árida,

não presta.


Inspiração,

literalmente,

significa ingerir ar.

Só.

É pobre.

Busco a velha inspiração,

cheia de sentido e explosão,

cheia de luz e movimento.


Inspiração revigorada,

quente e pulsante.

.
Por ora, nada brota.

Por ora.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Óbvio ululante

- Me explica esse mapa de Paraty?
- Ah, claro, senhor. Olha. Aqui é a ponte que leva ao Centro Histórico.
- Ponte? Só pra pedestres?
- Isso.
- Ahm. E onde fica o restaurante Margarida Café?
- Ah, senhor, ele fica aqui onde está a letra G no mapa.
- Letra G né?
- Isso.
- Ahm bem. Tem outro lugar que eu queria ir. Me falaram de um restaurante chamado Merlin o Mago...
- Olha, o Merlin fica aqui mais pra direita, aqui onde está a letra H.
- Aqui né?
- Isso.
- Então se eu pegar a ponte e andar reto, chego lá sem problemas né?
- Isso.
- Posso ir a pé? É pertinho?
- Isso, senhor. A pé dá uns 5 minutos. Mas se o senhor quiser, a pousada pode chamar um táxi ao custo de R$15,00.

((Atenção: Clímax da conversa se aproxima))

- Nossa! Aqui diz que Paraty tem aeroporto! Paraty tem aeroporto?
- Bem, é...
- Sério? Eu não sabia? É aeroporto mesmo, pra valer?
- Não, na verdade é mais pra pousos... e decolagens.
--------
Emergência!!!! O dia em que descobrirem um aeroporto para outros fins, pelamordedeus, me avisem!!!!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Verídica #3

Eu estava atrasado para uma festa de formatura.

Eu morava no alto de uma ladeira de paralelepípedos.

Estava começando a chover.

Eu estava com pressa.

Todos esses fatores combinados resultaram numa das histórias mais incríveis da minha vida.
---

Peguei o carro e saí da garagem.

A roupa amarrotada de quem se vestiu rápido demais. O paletó no banco do carona.

Fiz a primeira curva e avistei um carro subindo na direção contrária.

Estava longe, mas não o bastante.

Tentei frear, mas a chuva fina fez o carro deslizar.

Não pude evitar a pancada.

O motorista saiu do carro dele, com toda razão, muito p... da vida.

- O que você fez??
- Desculpa, a culpa é toda minha.
- Não acredito. Não acredito!
- Desculpa mesmo! Eu tentei frear mas não consegui.
- Você assustou meu filho. Olha só. Ele é pequeno. Tá chorando!
- Amigo, me desculpa mesmo. Não tenho o que dizer.
.
Estava visivelmente irritado, falando duro comigo. Mas não me destratou em nenhum momento. A mulher dele saiu do carro com o filho no colo.

- Amor, vai indo lá vai. Vai a pé mesmo, sobe a rua só um pouquinho. Vou ficar aqui resolvendo isso.
- Amigo, me desculpa mesmo. Eu tava indo para uma formatura, o piso está escorregadio. Eu não percebi. Foi mal mesmo.
- É. Vamos ter que chamar a polícia para fazer um boletim de ocorrência.
- Sem problema. Pode ligar. Eu assumo toda a responsabilidade.

Alguns minutos passaram. O cara ligou pra polícia, relatou o acidente, pediu que eles subissem a rua. Ficou alguns instantes em silêncio, olhando para o amassado no próprio carro.

- Você tem seguro?
- Tenho sim. Vou assumir todos os custos. Deixa comigo.
- Você tem carteira de motorista, menino?
- Tenho, claro.
- Tem mesmo?
- Tenho.
- Deixa eu ver.

Ele olhou o documento por alguns segundos. Percebi que ficou um pouco nervoso.

- Esse seu sobrenome aqui. Você conhece alguém com esse sobrenome?
- É claro, é meu sobrenome. Minha família toda tem esse nome.
- Você conhece algum Beto?
- Beto? Claro. É meu pai.
- Glup.

De toda a frota de milhões de carros do Rio de Janeiro, de todas as ruas possíveis, de todas as horas possíveis, Deus quis que eu batesse o carro justamente no subordinado do meu pai.

- O seu pai... ele... ele é meu chefe!
- Não acredito! Que coincidência!
- Acabamos de chegar de viagem juntos. Viajamos a trabalho... Ele chegou há poucos dias de Los Angeles não é?
- É, isso mesmo!
- Não é possível. Ah, se eu soubesse, a gente nem tinha chamado a polícia. Tinha resolvido tudo aqui mesmo.
- Não, não se preocupa. Vamos seguir os procedimentos da seguradora como faríamos desde o início. Fica tranquilo.
- Olha, desculpa qualquer coisa. Eu fiquei muito nervoso! O meu filho estava no carro.
- Claro, claro. Eu que peço desculpa. A culpa foi toda minha. Pede desculpa pra sua mulher por mim, por favor.

Ele se afastou um pouco e pegou o telefone celular.
.
- Alô, amor? Sabe o menino que bateu na gente? Pois é... filho do Beto.

Só Deus sabe que palavrão a esposa dele usou do outro lado.

Verídica #2

Um jogo de baseball pode demorar muitas horas.

4, até 5.

Não há limite de tempo.

Basta terminar empatado que os times jogam até haver um vencedor.

O ritmo é bem lento. O jogo pára toda hora, troca-se os jogadores.

A bola passa mais tempo parada do que em jogo.

Ainda assim, há fãs no mundo inteiro.

Eu mesmo gosto do esporte.

Mas admito que a maioria acha um tédio.

Chato. Nada acontece. Demora muito para engrenar.

Às vezes, é enfadonho até o fim.

Como este post. Chato e paradão.

Até que uma moça resolve mandar um email para o canal de televisão...
---
- Amor, vem dormir!
- Ah, mas eu tô vendo baseball.
- Ainda?
- É.
- Mas são quase duas da manhã!
- Mas é assim mesmo, Cynthia!
- Caramba, como demora.

O marido na sala. A mulher no quarto.

Ele não desgrudava da TV.

Ela resolveu ligar o computador. Navegar na internet.

Teve uma grande idéia.

Mas era pra ser apenas um desabafo.

Não contava com o que ia acontecer...
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- Bom, já vamos chegando ao fim do jogo, mas a partida continua empatada!

- É verdade, mas agora vai entrar o número 23 do New York Yankees. Ele rebate muito forte e pode decidir a parada.

- É isso aí! São as emoções do baseball, e você só vê aqui, no canal de esportes por assinatura! Obrigado ao telespectador que nos acompanha até essa hora.

- Teo, chegou um email aqui na redação muito curioso. Olha só: A Cynthia, do Rio de Janeiro, faz uma pergunta inusitada: - Que horas vai acabar esse baseball pra vocês liberarem meu marido???

- Hahahahah! É Cynthia, obrigado pelo email. A essa hora, minha mulher já está dormindo em casa...

O marido Fernando não acreditou.

Ficou estático.
.
Se Cynthia queria chamar a atenção dele durante o jogo, conseguiu.

Verídica #1

O camarada chega de noite.

O corredor faz eco. Só se ouvem os passos e o tilintar das chaves.

Usa uniforme. É responsável por fazer a coleta.

Pára em frente à máquina de refrigerantes. Perde um tempo procurando a chave correta.

Encontra. Mete na fenda. Surpresa.

Percebe que várias latinhas foram consumidas.

Mas no lugar do dinheiro, não há nada.

Só uma poça d'água.
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Jornalistas reunidos para a cobertura de um grande evento podem ter idéias fantásticas.

Pena que, algumas vezes, não são grandes sacadas de pauta ou de boas reportagens.

Essa história aconteceu na Alemanha, na Copa do Mundo de 74.

No hotel, perto dos quartos, havia duas máquinas: uma de bebidas e outra de pacotinhos de biscoitos.

Um brasileiro teve a idéia.

Chamou os amigos.

Pegou uma moeda local. Fez um molde perfeito num pedaço de pão, bem consistente.

Encheu o buraco com água e pôs no congelador.

Meia-hora depois, estava pronta:

Moeda de gelo.
.
Réplica perfeita da original.

Não confeccionou uma só não. Fez várias.

- Abre a porta! Deixa eu passar que vai derreter.
- Corre, corre!
.
Pôs a moeda máquina adentro. Pôs outra. Quis uma Coca-cola. E conseguiu!

Estava descoberta a mina de ouro.

O lanche de graça dos brasileiros durou apenas alguns dias.

Ao fim de uma semana, interditaram as máquinas.

Talvez os alemães não tenham desvendado, até hoje, o mistério do sumiço da comida e do surgimento daquela poça.
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Como as pessoas usam a mente pro mal, não é?

Mas eu tiro o chapéu. Foi uma sacada genial.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ginástica matinal

Parabéns. O Rio de Janeiro será sede das Olimpíadas de 2016.

Eu já posso me inscrever em uma das modalidades:

Heptatlo matinal contra o relógio.

Consiste em conseguir sair do carro e caminhar até a porta de entrada do trabalho carregando, sem deixar cair, todos os pertences (cerca de 7).

Aí vai a lista dos itens que, dia após dia, preciso levar comigo (entre objetos e alimentos do desjejum):

- Chaveiro com chave do carro
- Telefone celular
- Rádio Nextel
- Carteira de dinheiro
- Jornal O Globo
- Toddynho
- Casca de banana (devorada no carro)
- Mochila

Dificulta, e muito, o fato de cada objeto ter um destino diferente.

A casca de banana vai para a lata de lixo mais próxima.
As chaves vão pra dentro da mochila.
Celular, Nextel e carteira vão para o bolso da calça.
Toddynho vai na mão mesmo.
Jornal O Globo vai na mão (e ainda há a atração irresistível de já ir lendo alguma manchete no caminho).
Mochila vai nas costas, mas precisa ser acessada durante o percurso, pois o crachá está dentro dela.
Adicione, por favor, um ingrediente importantíssimo: a pressa!
Como controlar tantos objetos?

O certo seria parar um pouco, encostar a mochila no carro e resolver, pacientemente, todo o jogo de encaixe, tira e bota.

Mas não esqueçamos que é uma prova olímpica. Velocidade é uma virtude (e a falta de paciência a maior das responsáveis pela bagunça).

E quem disse que, sempre atrasado, me permito 30 segundos para organizar os objetos e seguir viagem mais tranquilo?

Manhã após manhã, quem passa pelo Jardim Botânico pode ver a cena de um cidadão mal-humorado caminhando com dificuldade, equilibrando objetos de diferentes formatos e texturas entre os dedos, se esforçando para não deixar nada escapar.

Não há nada mais irritante do que um celular se espatifando no chão às 7h da manhã, exatamente quando você está impossibilitado de usar seus reflexos para um resgate em pleno ar, com as mãos ocupadas demais para desfilar os instintos ninja.

O primeiro obstáculo da gincana é sair do carro todo carregado e conseguir bater a porta.

Por razões óbvias, o glúteo e o movimento de cintura são responsáveis por realizar esta tarefa.

O desafio seguinte é apertar o botãozinho do alarme, no chaveiro, para trancar o carro.
Acredite, amigo, há certos momentos na vida em que nada é mais difícil do que fazer o polegar acertar um alvo.

O que segue, agora, é o relato do que ocorreu hoje de manhã:

Abri o zíper da mochila para colocar o chaveiro.

Na hora de acionar o alarme do carro, deixei cair a casca de banana.
Abaixei para pegá-la. No que agachei, um lápis escapoliu zíper afora.

Peguei a casca, o lápis e consegui deixar o chaveiro dentro da mochila.

Me distanciei uns vinte metros do carro e... putz! Ainda estou de óculos escuros!

Botá-lo na mochila, sem a devida proteção, arranharia a lente.

Voltei pro carro.

No caminho, um colega de trabalho passou por mim:

- Esqueceu tudo, é? Hihihihi...

Uma risada eqüina que nada contribuiu para meu bom humor.

Tudo outra vez.

Abri a mochila, peguei o chaveiro, destranquei o carro.

Óculos na caixinha, caixinha dentro do carro, porta fechada de novo.

Pude seguir meu destino.

Celular, Nextel e carteira nas mãos.

Em movimento, acertar o bolso da própria calça é uma tarefa para a qual ainda não tenho o devido treinamento.

Cheguei na catraca.

Semblante desanimado. Eu tinha esquecido. É hora de dar um jeito de pegar o crachá...
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Por enquanto, sou um mero cidadão atolado. A vontade que tenho é de zunir todos os objetos longe.
.
Até 2016, prometo. Estarei tinindo, buscando medalhas para o Brasil.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O homem mais rápido do mundo

O homem mais rápido do mundo.

Tão confiante. Tão sorridente.

Na apresentação, todos estão tensos. Menos ele.

A câmera aponta na sua direção. Ele faz careta, mostra a língua, faz gesto de arco e flecha com os braços.

Parece aqueles papagaios de pirata que ficam no centro da cidade procurando o link ao vivo do RJTV. No ligar da câmera, fazem de tudo para aparecer.

Ou aquela mulata na Marquês de Sapucaí que já dá sinais de cansaço. Pé ante pé, arrastando no chão, mostra que precisa mais de uns goles de ar do que de continuar rebolando. Basta o cinegrafista apontar as lentes que ela volta a todo vapor, sorrindo e sambando.

O homem mais rápido do mundo aproveita.

Lambe os beiços.

Saboreia aqueles breves instantes, aquelas breves imagens no telão do estádio a nas tevês de todo o mundo, enquanto o público e os telespectadores se matam de dar risada.

- Como pode um homem debochar tanto dos outros competidores? Como pode ser tão superior e tão bonachão?

Passadas as risadas, hora de largar.

Preparar, apontar e... tiro para o alto!

O homem mais rápido do mundo leva 9s58 para correr 100 metros.

Abre os braços, relaxa os músculos do rosto, cruza a linha muito antes dos demais, esbaforidos, correndo no limite de suas forças.

Mais câmeras. Mais focos. Mais caretas do atleta mais veloz da humanidade.

Uns sorrisos mais, muitos aplausos, um pódio.

A medalha de ouro, um último aceno.

E aí, a escuridão.
---

Por que Usain Bolt brinca tanto com a câmera?

Por que faz tanta careta? Por que é tão irreverente?

O Jamaicano explode de paixão, transborda de carisma porque quer viver, na plenitude, todo o reconhecimento que merece.

E sabe quanto tempo dura esse reconhecimento, essa celebração? Pouco mais de dez segundos...

Bolt é um paradoxo.

É o homem mais rápido que já existiu, mas implacavelmente, sua fama dura o mesmo piscar de olhos de sua façanha.

Que frustrante deve ser.

Acordar cedo, dormir cedo, ter alimentação ultrarregular, tomar cuidado com o doping, abdicar de uma vida normal.

Treinar, treinar muito, treinar todos os dias.

Após uma vida de sacrifícios, com o palco armado e e a platéia ansiosa, o que acontece?

A performance do artista dura meros 10 segundos. Nem isso.

Que ídolo do rock suportaria isso? Subir no palco, tocar três acordes e ter que terminar o show?
Que estrela de Hollywood aguentaria? Aparecer no cinema por 10 segundos?
Que ícone do futebol ficaria satisfeito? Ter a bola aos seus pés por reles instantes?

E não são apenas os 9 segundos e 58 centésimos.

Há que se esperar quatro anos para maravilhar o mundo. Os 100 metros rasos só dão ibope nas olimpíadas.

E não adianta viver de marketing, viver de vender produtos Adidas e aparecer em comerciais de televisão.

Todo artista precisa fazer o que sabe, e ser reconhecido por causa disso.

Apenas algumas arrancadas de Usain Bolt chamam a atenção do planeta. As outras, em eventos inferiores, passam despercebidas.

Enquanto isso, bandas de rock fazem turnê mundial, tocam dia após dia para ginásios lotados.
Jogadores de futebol jogam 60 jogos por temporada.
Astros do cinema ficam em cartaz por semanas, depois viram DVD e nunca param de rodar filmes.

Enquanto isso, uma mancha amarela passa correndo lá no fundo.

Usain Bolt faz gracinhas para a câmera.

Ele deseja, com todas as suas forças, gozar seu merecido reconhecimento.

Se pudesse, pararia o tempo, congelaria os aplausos no estádio abarrotado. Correria por toda a arena, demoraria-se olhando nos olhos impressionados de cada espectador.

Se pudesse, gritaria em desabafo até quando não aguentasse mais, devorando com força aqueles instantes de exaltação máxima.

Não economizaria sorriso, saltaria de júbilo ante a platéia encantada, boquiaberta, como uma multidão de estátuas.

Bolt só deixaria o tempo correr novamente quando estivesse absolutamente realizado.

Como não pode fazer nada disso, o homem mais rápido do mundo segue seu destino inexorável.

10 segundos.

10 segundos apenas.

E nada mais.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Altos, baixos, altos, baixos

Tristezas, aniversários, trabalho e agora, no fim-de-semana, viagem.

Uma semana atípica, intensa.

Desculpem pelo longo tempo sem atualizar o blog.

Sabe quando você vai vivendo e anotando várias idéias pra escrever depois mas nunca tem tempo?

Pois é.

Semana que vem, se tudo der certo, elas virão à tona.

Grande beijo a todos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mistérios do fabricante

Todo mundo sabe que não se pode balançar uma lata de refrigerante antes de abrí-la, não é?

Todo mundo, por experiência própria, já viu bem de perto aquele líquido vulcânico sendo cuspido para o alto.

Já tentou, em vão, tampar o buraco com o dedo.

Todo mundo já xingou um palavrão instantes antes de ficar com a blusa encharcada e açucarada.

((Pobres humanos. Aprendem, da pior maneira, que algumas bebidas devem ser chacoalhadas antes de beber... outras não)).
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Sendo todas essas informações de conhecimento comum aos habitantes do século XXI, algo muito me intriga:
.
As máquinas automáticas de vender bebida gasosa.

Por que será que elas arremessam a latinha com toda força para baixo?

Não é só a pancada.

Ainda há aquele barulho característico que, amplificado pelo eco do interior metálico da máquina, mais parece uma batida de carro!

Tenta comprar um guaraná de máquina e abrí-lo instantaneamente pra ver o que acontece.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Baba-card

Parei no posto de gasolina pra colocar gasolina. Só R$ 30. Só pra completar mesmo.

O frentista me atendeu prontamente. Perguntou se era débito. Eu disse que sim. Ele me disse pra passar o cartão com o garoto um pouco mais à frente.

Saí do carro e entreguei o cartão pro garoto. Ele se distraiu por um segundo e foi atender, rapidamente, uma outra cliente.

Quando voltou da tarefa-relâmpago, veio segurando meu cartão na boca.

Veio segurando meu cartão na boca.

Isso mesmo.

Segurando meu cartão.
.
Na boca.

Caminhando com o olhar perddo, entretido nos próprios pensamentos. Tão relaxado a ponto de, despojadamente, prender o cartão entre os lábios. Só que era o meu cartão.

Não tive nojo, propriamente. Mas, confesso, estranhei um pouco a cena.

Pensei: "E se eu quisesse passear com o meu cartão na boca? Já seria um cartão batizado! Cada um que bote suas próprias coisas na boca, como canetas, crachás, unhas".

Fiquei olhando o jovem frentista para ver se ele percebia a situação singela, porém esdrúxula, que estávamos vivendo naquele momento.

Se ele notou, não demonstrou. Seguiu em frente, passou o cartão, disse boa tarde e muito obrigado, me devolveu o objeto e foi atender um outro motorista.

Guardei meu Visa levemente babado.

Enquanto saí dirigindo, pensei:

Isso é que é atendimento personalizado, íntimo mesmo.

Será que ele faz isso com todos?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dia mundial sem carro

Confesso.
Peguei a chave do carro ontem.

Liguei a ignição e acelerei em direção ao trabalho.

No início da manhã, o trânsito estava igual a todos os outros dias. Aparentemente, os automóveis não ficaram nas garagens.

Peço desculpas. Meu desejo era deixar o carro em casa.
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Mas a conveniência falou mais alto. Minha bicicleta não estava em casa. Nas nuvens, uma ameaça de chuva.

E, admito, acordei um pouco atrasado. Precisava de algo com motor para chegar mais rápido.
---

Não sei avaliar, ainda, a eficácia deste Dia mundial sem carro.
Sem dúvida, é uma boa iniciativa.

Se servir para a humanidade dar um "clique" e perceber que a vida é possível, e mais saudável, sem carro, a idéia é bem-vinda.

Mas não escondo que tenho um pé atrás com esse movimento.
Apóio a causa, mas não tanto o modo de fazer.
.
Acho esse formato "Dia sem carro" tão ineficaz como abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas para pedir paz, ou hastear bandeiras brancas nas janelas para dar um basta à violência.

Na minha opinião, aqueles que aderem o fazem para apoiar um movimento de vida curta.

Durante 24 horas, livram suas consciências e se sentem parte de uma grande onda do bem.

Mas logo voltam às suas vidas, numa sociedade onde nada mudou.

Sugiro um outro formato, e de muito mais impacto, para mudar a vida motorizada.

Que tal o movimento "Vida sem carro"?

O governo abre mão da grana e impostos das montadoras, indústrias automobilísticas e postos de gasolina.
.
Além disso, inicia um programa para comprar carros de quem os queira vender, por preços muito acima do mercado. Um incentivo real para esvaziar as ruas das grandes cidades.

Abre os cofres e investe pesado na melhoria do transporte público, com mais linhas de ônibus, e da manutenção das rodovias.

Faz mais estações de metrô.

Investe pesado para transformar grande parte das vias urbanas em ciclovias bem sinalizadas.

Restringe a área de circulação de carros nas grandes cidades.

Estabelece um sistema de salgadas tarifas para quem quiser ir de carro aos bairros superpopulosos, assim como acontece no centro de Londres.

Faz tratamento de choque na população, radical, implementando restrição ou rodízio de automóveis imediatamente.

Eu topo! Vida sem carro.
Quem adere?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Murphy e os semáforos

De todos os "Murphy" que eu conheço, nenhum é o criador da lei.

Não foi o Eddie Murphy.

Não foi o Peter Murphy, cantor da obscura banda Bauhaus.

Nem aquele Murphy que, depois de baleado várias vezes, ficou aprisionado dentro da armadura de metal do Robocop. (Quem lembra? O personagem tinha esse nome).

De qualquer forma, a tal lei é mesmo poderosa. Nos lembramos dela em várias ocasiões no dia a dia.

Um dos momentos em que se manifesta com mais força é no duelo contra o semáforo.

Quanto mais o motorista quer passar num sinal verde, mais certo é que o sinal vai ficar vemelho antes que ele consiga atravessar.

Comigo acontece assim:

Se estou com muita pressa e preciso passar no verde, acelero enquanto mantenho os olhos fixos no semáforo. Perda de tempo.
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Antes que eu chegue perto, vejo-o descolorir de verde para amarelo, e logo esbanja aquela risada vermelha da minha cara de tacho. Escárnio puro!
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Já aprendi qual é a melhor conduta. Fingir que não faço tanta questão de passar no verde.

Se eu vejo de longe o semáforo, não crio expectativas. Não aposto corrida contra ele.

Mantenho o ar blasé, olho para os lados, faço cara de pouco caso. Se ele não notar que está duelando com você, melhor!

Acabo passando, calmamente, sob a luz verde. O verde do acolhimento, o verde que me diz "bem-vindo!"
.
E, com certeza, vai fechar na cara do apressandinho que vem logo atrás.
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Segundo o oráculo dos novos tempos, o Wikipedia, o Murphy da lei poderia sim ser chamado de "Eddie Murphy".

Edward A. Murphy foi um engenheiro aeroespacial que formulou a máxima "tudo o que pode dar errado, vai dar" para tentar se proteger de todos os acidentes que poderiam acontecer durante um teste tecnológico.

domingo, 20 de setembro de 2009

A arte de não dizer nada

Escrever muito não é sinônimo de comunicar muito.

Falar muito também não.

Este é um dos maiores engodos dos nossos tempos.

Arnaldo Jabor, por exemplo, diz que Lula finge que governa e comanda, mas, na verdade, se expressa por palavras vazias e conceitos vagos.
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A enxurrada de palavras camufla a falta de conteúdo. Com o cotidiano tão acelerado, o cidadão não pára para refletir sobre a falta de idéias.
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Aceita a verborragia e se dá por satisfeito.

Concordo com Jabor, mas não vou entrar na crítica do presidente agora.
A citação foi algo irresistível, de carona no assunto de "falar e não dizer nada".
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Escrevo este post, na verdade, para dividir com vocês o conteúdo de uma etiqueta da loja feminina Checklist, muito famosa aqui no Rio de Janeiro.
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O texto é a apresentação da nova coleção, batizada de "Beach Divas".
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Transcrevo tudo, sem tirar ou pôr uma vírgula (atenção para os termos em negrito):


"Beach Divas

Uma nova leitura do glamour característico de balneários sofisticados espalhados pelo mundo.

Com um pouco de tudo que há de mais hype, a garota bohemia-viajante mistura agora uma moda urbana-romântica com um navy estilizado, acrescenta alguns acessórios inspirados no Rock n' Roll e sai às ruas sem perder seu frescor carioca cheio de charme."
---

Percebe o desespero para abraçar o mundo e não abrir mão de nada, como se acumular qualidades fosse sinônimo de atingir a perfeição suprema? (Como é ansioso e obcecado esse nosso capitalismo).

Percebe o uso de termos em inglês (hype, navy, Rock n' Roll) que, juntos, não querem dizer rigorosamente nada?

Percebe o uso de palavras compostas (bohemia-viajante, urbana-romântica) e como elas deveriam causar constrangimento a quem as escreveu? Parecem piada...

Acho que o objetivo da marca era vestir a mulher contemporânea ideal.

Com tantos atributos, me parece que o público-alvo é um bicho de sete cabeças.

O que vende, afinal, a Checklist?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cera quente

Impressionante como somos alvo dos mais toscos modismos.

Impressionante, também, como as propagandas nas traseiras dos ônibus têm me provocado a reflexão.

Outro dia, vi um anúncio que era o seguinte:

Centro de depilação total! Por X R$, faça perna, meia-perna, virilha e etc!

Como figura principal do pôster, uma moça morena, com as mãos espalmadas e unidas, braços longos, ponto vermelho na testa e roupas indianas.

Claro, o mote do comercial era a novela "Caminho das Índias".

Índia e depilação. Sabe o que isso tem a ver?

Não sei. Mas sei muito bem no que os dois não tem a ver.

Quando minha irmã morou nos Estados Unidos, andava com gente do mundo inteiro.

Americanos não. Americanos não gostam muito de se misturar aos estrangeiros.

Mas havia cubanos, chineses, alemães, indianos.

Um dia, uma amiga indiana virou para minha irmã e perguntou:

- Você faz depilação?
- Claro.
- E como é a que você faz?
- Bem, lá no Brasil é muito comum. Todo mundo faz. Todo mundo vai à praia e mostra o corpo e, em geral, as mulheres se sentem melhor se estiverem depiladas.
- Você poderia me ajudar? Meu namorado quer que eu depile. Lá na Índia não é muito normal.
- Claro, claro. Que tipo de depilação que você quer? Quando foi a última vez que você passou cera?
- Nunca.

A moça indiana tinha uns 22 anos na época.
---
Cada um com a sua cultura. O que é normal para uns é estranho para os outros. Faz parte do jogo.
.
Mas não venha misturar bugalhos com alhos.

Anunciar depilação com Caminho das Índias é a mesma coisa que vender Samba made in USA.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O dia em que aprendi informática com um gato

Qual foi o último ser humano que você conhece que teve aulas de informática com um gato?
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Não deve ser muito comum por aí.

Bem, me apresento:

André. 29 anos. Moro no Rio de Janeiro. E, sim, recentemente, um gato me ensinou noções de computação.
Antes de contar essa história, é preciso apresentar a protagonista.

Uma gata fêmea, vira-lata, meio cinza, meio marrom. É da minha namorada, MClara.
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Um jeito de sonsa, mas muito charmosa e carismática.

Muito cara-de-pau; tem por hábito explorar os lugares proibidos da casa e manter o ar blasé.

Um jeito pacato, um ar fofinho, mas arruma briga às escondidas com outra gata da casa que, inclusive, está com câncer.

Um personagem e tanto.

Nome da criatura: Cat Moss.

O apelido (que pegou mesmo) é "Chats". A chatice é o único motivo para o vulgo do felino.

Mas como este animal me fez descobrir funções do meu computador que eu nem imaginava que existissem?
.
Dois foram os pré-requisitos:

- Para assuntos de informática, sou um beócio.
- Chats não tem medo de levar bronca e gosta de dormir em lugares quentinhos.
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Meu laptop fica sobre a escrivaninha da sala. Em geral, fica aberto e ligado.

Saímos de casa para almoçar. Quando voltamos, lá estava a Chats sobre os teclados.

Repousava docemente sobre as patinhas, com a cara mais lavada do mundo.

Na tela, uma janela de ajuda aberta, o Internet explorer também, e a seguinte sequência digitada no campo de texto:

"iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiijjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii"

Espantei-a dali com rispidez.

Mas, confesso, achei graça do que ela tinha feito. Eu nem sabia que aquela tela de ajuda existia. Não tenho curiosidade para explorar as possibilidades do computador. Ainda bem que a Chats tem.

No segundo dia, saímos de novo. Deixei o Notebook aberto, como de costume.

Quando voltamos, lá estava a gata de novo sobre os teclados. Dessa vez, não se contentou apenas em abrir programas desconhecidos.

Organizou diversas janelas em modo 3D. Eu já tinha visto isso no Mac, mas nunca num PC.
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Fica um visual alucinante. O Youtube, o Itunes, o Globoesporte.com, o Blogspot, todos organizados um na frente do outro, como uma sequência de dominós em pé, prestes a desabar uns sobre os outros.

Comecei a curtir aquilo ali. Demos muita risada da Chats, suas descobertas involuntárias amparadas por aquela cara de dissimulada.

Mas eu tinha certeza que não havia mais o que um gato pudesse remexer num laptop.

O problema é que minhas certezas, geralmente, dissolvem no ar como nuvens.

Não fui testemunha da peripécia seguinte. Mas MClara foi.

Quando voltou pra casa, Chats estava de novo sobre as letras do computador. Dessa vez, superou todos os limites.

Enquanto passeava sobre o teclado, sua imagem aparecia na tela, com num espelho.

De alguma forma, a gata ativou a câmera do monitor. E fazia, com sua leveza felina, uma apresentação narcisística para as lentes.

Deus sabe quanto tempo deveria estar ali se filmando, se curtindo.

O pai da MClara brincou dizendo que ela apresenta um telejornal pela web só para animais de estimação.

E pensar que eu nunca usei este aplicativo do meu próprio PC. Nem saberia direito como chegar até aquela tela.

Claro, aquele foi o climax de Chats.

Nunca mais desvendou um software tão interessante.

Mas não se despediu da minha casa sem antes deixar mais uma marca.

Até hoje, no alto, à direita da tela, logo abaixo do relógio, vejo um ícone pequeno e retangular que me mantém atualizado com as movimentações do mercado financeiro.

Eu nunca saberia como colocá-lo ali. Nem sei, sinceramente, de onde veio aquilo.

Para não parecer que estou mentindo, te digo o que os indicadores da bolsa de valores dizem neste momento (vou apenas reproduzí-los, pois não consigo interpretá-los):

$INDU - 9.626,80
$COMPX - 2.091,56
$INX - 1.049,32
- cotações da IDC Comstock./ Atraso de 20 minutos

Será que havia um atalho para isso no meu próprio laptop? Ou seria necessário fazer download de um site especializado?

Creio que nunca saberei.

Apesar de ser extremamente habilidosa com computadores, nada indica que Chats vá me revelar os seus segredos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Estratégia

A idéia veio de alguém de porre.

Não ouvi, mas conheço quem ouviu.

Politicamente incorreta mas, sem dúvida, genial.

O indivíduo, entre 30 e 40 anos, anunciou que havia descoberto a fórmula para bebuns conseguirem driblar a Operação Lei Seca.

Uma tática muito mais evoluída que algumas já conhecidas:

Tem aqueles que, ao avistarem a blitz da PM, encostam o carro e abrem o capô. Simulam um problema no motor para não terem problemas com a lei.

Outros confiam no celular conectado à internet. Uma rede de dedos-duros no twitter anuncia os pontos da cidade que estão sendo fiscalizados. Basta, ao motorista alcoolizado, desviar daquele trajeto.

Mas o plano do nosso personagem é bem mais engenhoso.

Funciona melhor se o motorista-cachaça tiver filho pequeno. Se não tiver, basta colocar uma criança no carro:

- Amigo, encosta o carro!
- O quê?
- Isso aí! Encosta o carro! Ih, esse tá bebum!
...
- Por favor, venha por aqui. Fazer o teste do bafômetro.
- Pois não.
...
- Meu senhor, o senhor está muito bêbado!!! Extrapolou a tolerância!
- Eu??? (Hic!) Tem alguma coisa errada!!! Eu pareço estar bêbado?
- O senhor está brincando, né?
- Pode dizer! Eu pareço estar alcoolizado por acaso???
- Meu senhor, o senhor está cambaleando. Nem um gambá fica mais alterado que o senhor! Nem precisava de teste de bafômetro. Até o bafômetro ficou bêbado depois dessa baforada!
- Seu policial, tem algo errado aqui. Esse aparelho está quebrado. Eu não bebi nada!
- O senhor só pode estar me sacaneando.
- É verdade. Não bebi, não bebi e não bebi... nada!
- Chega de papo, o senhor exagerou. Está, inclusive, preso.
- Prostesto! Sei que esse bafômetro está com problema! Quer ver? Filho, desce do carro...
...
- Isso filho, agora sopra aqui nesse canudinho por favor. Isso, sopra. Não, não é pra babar não, filhão. Só pra soprar, tá? Isso, isso mesmo.
...
- Aí está, seu guarda. Dá uma olhada! Te falei que esse aparelho estava quebrado?
- Não é possível. Isso nunca aconteceu antes.
- Pois está aí! O ponteiro está mostrando. É como se meu filho estivesse alcoolizado. Meu filho de 4 anos! Bêbado!! Sinceramente! Tchau, seu guarda!
- Mas espere! Não estou entendendo nada. Não é possível... vou chamar meu superior!
- Tchau, seu PêÊme. Vou embora. Fui. Vem filhão. Vamos, porque esses caras não sabem nada.

((Carro acelera. PM com cara de bobo)).
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40 minutos antes...

Pai e filho saíam do restaurante. O pai acenou para os amigos, deu tchau a todos, saiu trançando as pernas. Já tinha pago a conta, mas se lembrou de algo importantíssimo:

- Vem, filhinho! Dá um gole nessa cachacinha aqui, dá!
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Agora sério:

Se beber, não dirija! Mesmo.

Arroba


Por falar nisso, alguém aí sabe pra que servia a arroba antes da internet?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O vendedor pit-bull

Na janela traseira do ônibus, a propaganda:

Batemos metas!

Tratar aqui.

O guia do vendedor pit-bull para o sucesso definitivo.

Ao chegar em casa, descobri que o tal autor do livro, Luis Paulo Luppa, é um dos (sic) palestrantes-revelação do ano. Ele não tem apenas um livro, mas também dvds gravados com seus ensinamentos.

Não sei, e nem me interessa, se a obra do cara tem qualidade. Deve ter.

Mas me intriga muito como é vendida a idéia desses livros de auto-ajuda profissional.

Repare bem no termo: Vendedor pit-bull.

A mensagem: transforma-se seres humanos em profissionais ferozes que latem, intimidam e partem pra cima de forma irracional.

Atenção, também, para o termo: "o guia para o sucesso definitivo".

Sucesso definitivo.

O que seria isso? Um estado de espírito e de realização profissional tão pleno e inconstestável que, quando alcançado, esvaziaria, até mesmo, a razão de continuar existindo?

Nada mais vale a pena na vida após atingir o "sucesso definitivo".

Poção mágica, solução instantânea: "batemos metas, tratar aqui".

Em tempos de desespero entre os desempregados e insatisfação de boa parte dos empregados, me assusta como são vendidos esses produtos de eficácia profissional.
.
É como um viagra do trabalho! Compre o super pit-bull vendedor e jamais esmoreça!

Fico triste não só com os milhares de desempregados se estapeando por trabalhos que pagam mal e subutilizam o ser humano.

Fico mal de perceber como, em tempos de tantas cobranças, nessa época da fissura pelo dinheiro, o cara perde a si mesmo nas horas desgastantes do dia-a-dia.

Mergulha nas funções e obrigações e se esquece da própria vida.

É uma armadilha difícil de se escapar. Não é nada mole, e nem viável, frear o turbilhão das exigências do emprego e priorizar o gostoso caminho do lazer.

Tem gente que mal consegue arrumar tempo pra relaxar.

Me preocupam muito os pit-bulls do trabalho, rumo ao êxito definitivo.

Nas folgas, no tempo livre, na curtição, ninguém quer, e nem precisa, de focinheira.

A desinvenção do carro

Enfrentar o trânsito das grandes cidades talvez seja a atividade mais chata que pode ser realizada sobre quatro rodas.

Acho que, em segundo lugar, vem procurar vaga para estacionar o carro.

É uma liturgia diária estressante, desgastante, irritante.

Ou não há vagas, ou há vagas em fila-dupla, ou há vagas com meio-carro em cima da calçada. Péssimo para o balanceamento e alinhamento do carro.

Ou, então, há vagas em lugar proibido, mas onde todo mundo pára.

Se você opta por estacionar, corre o risco de ser rebocado. Se resolve não parar ali, pensa que está sendo o único idiota que vai continuar procurando enquanto o próximo a chegar vai se deparar com "o maior vagão!"

Ou paga dezenas de reais para o pomposo "vallet parking".

Ou fica p... da vida quando achou aquele precioso espacinho, onde seu carro cabe com folga, mas vê surgir o flanelinha, cheio de gestos nas mãos e correndo, esbaforido, para te estorquir algum dinheiro.

Não tem jeito. Procurar vaga pra carro é o maior saco.

Toda vez que perco mais tempo para parar o carro do que com o trajeto propriamente dito me arrependo de não ter saído de bicicleta.

Talvez, num futuro próximo, cada rua tenha câmeras apontadas para as calçadas.

Cada motorista será capaz de, quando estiver chegando perto do destino final, acessar pelo celular o circuito de imagens. Assim, saberá se há ou não vagas disponíveis.

Que ironia.

Uma das maiores invenções do século XX foi o automóvel.

O homem, orgulhoso, projetou naquele objeto motorizado sua masculinidade, sua potência, sua virilidade. Ter carrão é sinônimo de conquistar as "Marias-Gasolinas" e tirar onda com os seress da mesma espécie.

Mas no século XXI, desinventar o carro seria uma das maiores façanhas da humanidade.

Para o bem da nossa paciência, do meio-ambiente e da harmonia social.

Nossa pressão arterial agradeceria. Nosso corações, pulmões e emoções também.