terça-feira, 31 de março de 2009

Foto ou frame?

Marcos Serra Lima é um amigo bacana.
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(Meio vacilão, pois faz muito tempo que ignora as peladas que a gente joga aos sábados. Ele bota a culpa no trabalho. Acho que é caô.)
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Fotógrafo que compreende muito bem a importância do ritual de capturar um momento.
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Na existência do universo, composta de muitos segundos e milésimos de segundo, congelar um instante para que ele exista eternamente é algo extremamente poderoso.

Vivemos uma época em que todos podem fotografar. A atividade, muitas vezes, parece reduzida ao simples ato de apertar um botão. "Click!", "Flash!" Pode ser de câmera digital ou de um celular.

Marcos percebe que essa realidade é algo infreável. Mas sabe que tirar fotos é muito mais do que "clicar" o botão. Nunca ouvi isso da boca dele, mas poderia apostar como ele acha que uma boa foto começa na cabeça. Antes de apontar a câmera, antes de ajustar o foco. Há que se transpirar razão e intuição, é preciso queimar a mufa antes de sentar o dedo.

Como disse antes, uma foto é o registro de um momento que se eternizou. A humanidade nunca teve o poder de parar o tempo. Quando, no verão de 1826, Joseph Niépce conseguiu a primeira impressão fotográfica através do controle da entrada de luz numa câmara escura, o ser humano percebeu que poderia perpetuar todas as suas memórias.

Isso é coisa séria. Seríssima. Para fotografar, não basta ter inspiração e um bom senso estético. É preciso, como nas outras ciências, estudar muito. Conhecer a máquina e suas possibilidades. Aprender a controlar a qualidade da imagem.

A banalização da foto, de certo modo, desvaloriza a atividade.

Marcos mantém um excelente Blog no globo.com, o Dois Cliques. Com texto inteligente e questionamentos sobre a profissão, ele transformou aquele espaço virtual que poderia ser, apenas, para uma exposição vazia de fotografias, em um fórum para quem quer aprender e discutir o tema.

A última questão levantada por ele foi a seguinte: as redações de muitos jornais e sites já têm o hábito de não mais tirar fotos. Os editores preferem que tudo seja filmado. Afinal, os filmes nada mais são do que uma sequência de "frames". E um frame, numa página da internet, nada mais é do que uma... foto!

"Será que a fotografia, como a entendemos hoje, vai se distanciar do jornalismo? Será que vai se aproximar da arte?"

Marcos, amigo, eu tenho uma teoria...
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Vou recorrer a uma metáfora aparentemente incompatível.

Comparo o gatilho de uma foto ao disparo de uma arma de fogo.

Ambos são poderosos. Explosivos. Existem através de um estampido, facilmente reconhecido por todos. "Flash", é foto! "Pow", foi tiro????
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A descoberta da câmera digital de filmar é como a bomba nuclear. A máquina tem capacidade de devorar frames sem distinguí-los. Engole as imagens. Não sabe separar o belo do tosco.
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Transformar frames em foto é um gesto insensível, é colocar todos os retratos no mesmo saco. É não dar a devida atenção a cada um dos "instantes" capturados.

Quando soltaram o cogumelo sobre Hiroshima e Nagazaki, os americanos não fizeram distinção: uma onda avassaladora varreu soldados, idosos, mulheres e crianças. Indivíduos, cada um com sua personalidade, com suas experiências, foram deglutidos como números.

A mesma brutalidade ignorante está na genética tecnológica de bombas e filmadoras digitais.

O que sobrou para as antigas espingardas, em meio às armas de destruição em massa? Restou um lugar de honra, um lugar nobre, onde a precisão e a dedicação são essenciais: o tiro esportivo nas olimpíadas, por exemplo!

O mesmo século XX, que inventou a bomba capaz de matar milhões de pessoas, concedeu uma aura aos que valorizavam a arte de atirar. Nos jogos olímpicos, pratos são lançados pelos ares. Ganha quem acertar na mosca mais vezes!

A fotografia não morrerá. Pelo contrário, ganhará um espaço cativo, onde especialistas e gênios serão cultuados. Em meio à avalanche de fotinhos de celular e filminhos de youtube, a foto artística bem feita terá ainda mais destaque.

É muito provável que a filmadora faça o jornalismo se divorciar da fotografia. Mas penso que as capas de jornais e sites sempre terão espaço para aqueles cliques de mestre. Fotogramas de rara inspiração nem sempre podem ser captados com o botão"REC".

Marcos, se a explosão atômica das fotos e filmes de celular realmente prevalecer sobre a Terra, estou certo que você será um dos atiradores olímpicos. Desses que treinam muito e tem amor à própria arte.
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Em meio à névoa e à fumaça, ainda existe horizonte para os que suam em busca da medalha. Apontar... clicar....Flash! É de ouro.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A história de um nobre inglês

Reza a lenda que um nobre inglês era viciado em jogar cartas.

Daqueles vícios que não se abandonam nem por um segundo. Fissurado mesmo.

No século 18, um lorde europeu não tinha mesmo muito o que fazer. Trabalhar estava fora de cogitação. Viajar o mundo era uma boa opção, coisa que John Montagu fez bastante.

Mas como passar o tempo livre em casa? Jogando cartas.

O conde só parava para ir ao banheiro. E queria encontrar uma maneira de não interromper a jogatina nem para comer.

- Criado, estou com fome! Traga-me algo, rápido! Não quero parar o jogo nem por um minuto!
- Mas como o senhor vai comer enquanto joga?
- Dá seu jeito!
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Foi aí que o criado pegou dois pães e lançou uma fatia de carne no meio. Estava inventado o sanduíche! Rumores dão conta que o Conde de Sandwich nunca mais jantou uma refeição tradicional.
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E é o sobre o sanduíche, e sobre essa intimidade de pegá-lo com as mãos, que quero escrever hoje!

Faz poucos minutos, fui ao shopping e comi numa lanchonete. Como se diz aqui no Rio, "casa de sucos".

Por que essa opção? Pela mesma razão que fascinava o Conde de Sandwich ontem, e continua seduzindo as pessoas hoje em dia.

Fast-food. Comer rápido.
Às vezes, você só quer uma refeição saborosa que não gaste muito tempo. Mal sabia o nobre inglês que seria responsável por popularizar uma das maiores febres do século XX.

Viciado no baralho, ele se alimentava enquanto tinha as mãos livres para se divertir. Hoje, escravos da velocidade cotidiana que somos, submissos aos mandos do relógio, comemos rápido para voltar ao trabalho. Comemos sanduíche para continuar folheando um jornal ou manuseando o celular.

É um hábito meio nojento. Mas não me espanta, dado que, na sua origem, lá na Inglaterra dos anos 1700, a higiene não era um dos valores mais cultuados.

(Quem não se lembra do filme Carlota Joaquina, que retratava a corte portuguesa de D. João VI, comendo frango com as mãos engorduradas, que já vinham sujas desde sabe-se lá quando? Alguns hábitos de limpeza eram impensáveis para nobres europeus.)

Mas é exatamente por essa origem tosca, suja, apressada, engordurada, com molho escorrendo pelas beiradas, é que faço uma 'Ode ao sanduíche'.

Esta iguaria é para ser consumida exatamente como nos tempos em que foi inventada! Com as mãos!

Por isso, fico raivoso quando me entregam talheres na bandeja do sanduba! Acho hipócritas as pessoas que fatiam-no com garfo e faca!

Sanduíche não comporta frescura! Há um grito primitivo dentro de cada um de nós que sente prazer em manusear a comida. Deve ser herança dos nossos ancestrais nas cavernas!

Eu, por exemplo, acho que pizza tem um sabor quando se come com talheres... e outro totalmente diferente quando se devora enrolada no papel toalha, encharcada de óleo, esticando o queijo ao seu limite com a boca.

Tocar a comida com as mãos pressupõe intimidade, remete à sensação de sobrevivência.
Claro que nunca faremos isso com arroz e feijão. Mas quando o lanche pode ser tocado
diretamente com os dedos, pra que intermediários??

Naqueles almoços de família, quando chegamos cheios de fome, o aperitivo de pãozinho com azeite ou pasta de atum é muito mais gostoso que a refeição propriamente dita. Vai dizer que você nunca teve essa sensação?

E não é apenas pelo sabor do petisco. A sensação boa se deve ao contexto inteiro. Os paezinhos, você ataca com voracidade, sem se preocupar muito com a boa educação. É um costume informal, onde estão presentes o instinto e o improviso. Todos vão petiscando enquanto estão conversando. É algo informal e prazeroso. E, antes de tudo: é um hábito que se realiza com as mãos!

Na hora da refeição, é diferente. O barulhinho dos talheres metálicos tocando os pratos vão fazendo uma sinfonia. É o som de um ritual super formal, quase ensaiado, pouco espontâneo. Claro que o aperitivo de 30 minutos atrás estava muito mais gostoso!

Por tudo isso, pego sempre meu sanduíche com as mãos! Esta é minha homenagem ao ritual autêntico daquele nobre inglês.

Mas graças ao Século XX, que deixou alguns bons legados, as lavo bem antes... e depois.
Disso, não abro mão.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Como desaparecer por completo

Como desaparecer por completo.

Essa fórmula existe. Foi escrita em inglês.

É uma letra de música do Radiohead, banda que se apresentou, na semana passada, no Rio e em SP.

Toda vez que ouço essa canção, do disco Kid A, acabo viajando nos seus versos:

A letra diz o seguinte:

"Este aí
não sou eu.


Eu não estou aqui
e isto não está acontecendo.

Eu vou
onde eu estiver a fim

Eu atravesso paredes
e flutuo sobre o rio

Daqui a pouquinho
Já terei ido embora

E o momento já passou
Sim, já foi

E eu não estou aqui.
Isto não está acontecendo!"
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Incrível uma letra que contraria a realidade mais concreta que conhecemos: Nós existimos!

E só existimos porque temos corpo. Podemos tocar e ser tocados.

O poder desta canção está exatamente na negação deste aspecto tão visível da vida.

Quando Thom Yorke, vocalista do Radiohead, diz "Eu não estou aqui./ Isto não está acontecendo"... o que ele pretende?

Todo mundo sabe que as palavras têm poder. Experimente chamar alguém de fraco a vida inteira, ou de burro, ou de incapaz... o que essas pessoas se tornarão, senão exatamente o que ouviram a vida toda?

Se as palavras têm poder, será que somos capazes de nos abstrair da nossa própria realidade? Será que repetir os versos "Eu não estou aqui, isso não está acontecendo?" serve para alguma coisa?

Será que as pessoas infelizes podem usar esse recurso para escapar da vida difícil?

Será que somos capazes, ao negar a realidade, de convencer nosso cérebro e nosso corpo de sentir menos dor? Dor física e psicológica?

Repare que o título da música não fala em "ficar invisível". Não é um conceito divertido, tipo aquele sonho de criança (e alguns adultos) de poder escutar a conversa dos outros e entrar no vestiário feminino sem ser visto. A canção fala em desaparecer. Sumir.

A música tem uma cadência bem lenta, bem lamuriosa. Segue um embalo triste, quase um choro, embora belíssima. Como um mantra, vai, lentamente, através da repetição, dissolvendo o ego de quem a escuta.

Em última instância, os versos da música estão cobertos de razão. Ela trata não apenas do questionamento da própria existência, mas fala também do caráter passageiro do tempo: "Este momento já passou./ Sim, já foi"

Ao cantar a velocidade de segundos e minutos, ao prosear sobre o ser humano que deixa de existir no próprio corpo, a canção retrata algo óbvio: Em breve (ou não tão breve assim), cada um de nós não existirá, e nada estará acontecendo.

É uma letra existencial, na qual mergulho cada vez que escuto.

Hoje, ou daqui a 100 anos, ela será real.

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Ps 1: Não estou deprimido nem triste! Pelo contrário! É que esta música desperta o meu lado filosófico mesmo.

Ps2: Quem também quiser viajar na canção HOW TO DISAPPEAR COMPLETELY, é só clicar aí embaixo. É preciso estar preparado. Não dá pra ouvir como uma trilha sonora enquanto se faz outros afazeres. É necessário tempo para apreciá-la (Ah, e boas caixas de som também!)


O vizinho do Capeta

Esta é em homenagem a meu primo Touro:

Comentando o post lá embaixo, ele disse que a "camiseta com mensagem" mais engraçada que ele já viu foi esta!

Realmente, muito boa sacada!

667 - o vizinho do Capeta

quarta-feira, 25 de março de 2009

3... 2... 1... Parem de comer!

Um buffet com contagem regressiva.

Já viu isso?
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As experiências gastronômicas de um turista ocidental na China são surpreendentes.

A comida é muito diferente do China In Box, por exemplo. Tudo é muito oleoso, os temperos têm um cheiro estranho. E os chineses têm uma paixão indescritível por pimenta.

Comer no McDonalds, por exemplo, é uma aventura. É como se o quintal da sua casa fosse um campo minado!

Você conhece bem, se sente super à vontade quando vê aquele "M" amarelo em fundo vermelho! Mas quase todos os sanduíches do cardápios são ultra-apimentados!

E as tortinhas de sobremesa? Maçã? Banana? Nada disso. A torta do (antes) familiar McDonalds é de feijão! Sério!

((Outra curiosidade de McDonalds:

Sabe aquele slogan 'Amo muito tudo isso'? É um bordão internacional. Como se pode ver na foto, em inglês é "I´m loving it!" Abaixo da frase em inglês, contudo, está a mesma frase em chinês.

Se pronuncia assim "Wo jiu xihuan". Ao pé da letra, significa "Eu mesmo (ênfase) gosto!"))
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Mas voltando à história do buffet com contagem regressiva. Não foi no McDonalds.

Era uma cadeia de restaurantes metida a americanizada chamada "Origins". Como no Brasil, era só entrar, pegar seu prato, talheres, e se servir.

O detalhe era o seguinte: os megafones ficavam repetindo a mesma música, intercalada por uma mensagem "Bem-vindo ao Origins. Vocês têm uma hora e meia para terminar a refeição. Passando disso, tem que pagar mais!"

!!!!

Na minha reles opinião de frequentador de restaurante, o ambiente leve e aconchegante criado pelo dono do estabelecimento de nada servia, pois esta frase desabava feito bigorna sobre as cabeças dos clientes!

Como assim, eu tenho 1 hora e meia para acabar de comer?

Isto é algo profundamente mal-educado. É como se o dono dissesse: "Estou de olho! Pensa que eu não sei que você não come desde ontem à noite só para poder passar o dia aqui hoje se empanturrando??"

Engraçado como a China, recém-saída da economia comunista, ainda não aprendeu as nuances da economia de mercado. O capitalismo, malandro, sabe seduzir o freguês. Sabe ser cortês para fisgar o cara. Sabe passar a ilusão de que o sujeito é um cliente especial quando, no fundo, visa apenas a obter o máximo de lucro.

Em Pequim, tive a impressão de que essa relação comércio-cliente ainda é meio tosca.

Mas a raiz disso pode ser, também, histórica.

A China tem um bilhão de estômagos para alimentar. A fome sempre foi um dos maiores
problemas daquele povo.

Agora que os nativos das cidades grandes têm acesso à fartura e ao desperdício do fast-food, a
preocupação é que comam demais.

- Uma hora e meia apenas de boca-livre! Nem um minuto a mais!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Quem se importa? Quem importa?

Sabe aquela sensação banal de cruzar com alguém na rua, de passagem?

Situação que acontece tantas e tantas vezes e não deixa marcas nem sequelas.

Mas hoje foi diferente. Conforme caminhava para o trabalho e me aproximava da adolescente que vinha na direção contrária, comecei a ler o que estava escrito na camiseta dela.

Os dizeres eram os seguintes: "No one cares about your blog!"

-Hã!??, Pensei. Será que estou lendo direito??

Ainda deu tempo de ler mais uma vez para confirmar. O texto dizia exatamente isso. Em inglês, "ninguém se importa com o seu blog!"

Dois pensamentos dispararam feito tiros da minha mente. Um em cada direção, como balas de espingarda de dois canos.

Com um dos pensamentos, eu divagava: "Caramba, como os jovens estão antenados com a modernidade! Antigamente, o legal era ter camisetas fazendo gracinhas ingênuas. Do tipo, 'tem um corno me olhando!' Agora, os temas são super atuais, como blogs, ipods e internet"

Mas meu outro pensamento era bem mais impactante. Fiquei viajando naquela mensagem da camiseta: "Ninguém se importa com seu blog!".

- Putz, foi no meu calcanhar de Aquiles!!
Lógico que vesti a carapuça! Todos os blogueiros vestiriam! (Ok, excluindo o Kibeloco).

Escrever um Blog tem função terapêutica. Em tese, não precisa que ninguém leia. O simples ato de despejar idéias neste espaço virtual é profundamente edificante! Cada dia você está de um jeito, está com um estado de espírito diferente, um humor diferente. Cada texto reflete estes diversos momentos. É um ato bacana por si só.

Mas só quem escreve blog sabe, também, da importância dos leitores. Sabe como é legal trocar idéias, ver que as pessoas reagem aos seus textos. Você logo percebe que alguns preferem os textos bem humorados, outros curtem os mais filosóficos. Tem gente que gosta dos posts curtinhos mesmo, pra ler rapidinho. Algumas pessoas curtem comentar, outras só dão uma passadinha em silêncio. E tudo isso é muito, muito legal!

Por isso, fiquei encasquetado com a bendita camiseta! Dou os parabéns para aquela garota de 14 anos, super atenta aos hábitos que ganham importância nos dias de hoje. "Blogar" é um desses hábitos.

Ao dizer que ninguém se importa com esse ritual particular do qual, cada dia, cada vez mais internautas participam... ela atingiu um monte de gente!

Parabéns, menina! Você arrebentou!
Sua camiseta me fez pensar.
Sabe o que concluí?
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Talvez ninguém se importe com o meu blog.
Mas quem precisa, afinal, se importar com ele?
Quem eu quero que se importe?

Te respondo:
Não precisa ser o mundo inteiro.
Quem realmente importa... já se importa!

domingo, 22 de março de 2009

Tela de espera

"Inicializando"

Por que será que meu celular me diz "inicializando" na tela de espera, enquanto os dados pessoais estão sendo preparados?

Dói muito dizer, simplesmente, "iniciando"?

Será que a palavra "iniciando" não atende aos padrões de rebuscamento dos termos derivados do inglês, fundamentais na linguagem tecnológica ou de internet?

Meu celular é um ignorante que se acha na moda.

sábado, 21 de março de 2009

História de metrô (pelas lentes de uma mente imatura)

((Caraca, metrô é, realmente, o melhor dos transportes públicos! A gente mal entrou e já sente o friozinho do ar condicionado. Tudo parece limpo. Às vezes, fica cheio. Mas eu gosto assim: fim do dia, horário mais tranquilo, entro logo na primeira estação e sento sem pressa...))

...O trem começa a andar. A segunda estação a caminho...

((O que esse cara tá lendo? Saco, caderno de esportes. Já li inteiro hoje. Tomara que vire logo a página. Agora sim, editoria Rio. Manchete: "Bando faz cinco reféns em prédio da Zona Sul". Na Zona Sul? Em que bairro foi isso? Um grupo de cinco bandidos renderam o porteir... Não, não vira a página ainda! Ah, não! Pior que não vou me lembrar de ler essa notícia quando chegar em casa.))

... O trem pára e as portas abrem. Uma galera entra no vagão...

((Droga, o ruim de pegar lugar no metrô é ter que viver essa angústia. Se chegar um velhinho, vou ter que interagir. Perguntar se ele quer o lugar. Pô, logo hoje que eu queria ficar na minha! Sei que eu não devia, mas fico ansioso! Não sei se a pessoa vai aceitar bem o gesto, ela pode recusar, aí vou ficar com cara de b... sei lá, não lido muito bem com isso.))

... O metrô segue viagem. Portas se abrem na terceira estação. Mais entra-e-sai...
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((Pronto, taí o velhinho. Parado bem na minha frente, de pé. E de costas pra mim. Vou ter que cutucá-lo. Será que ninguém da outra coluna vai levantar pra ele se sentar não? Vou dar uns 10 segundinhos. Juro, nem é questão de egoísmo. Não tô nem aí pra esse lugar confortável. O ruim é esse ritual de ter que chamar o cara! E ele nem parece tão velhinho assim. Pra falar a verdade, velhinho é exagero. Ele deve ter uns 60 anos, 65 no máximo. Mas tá forte, segurando firme no poste do metrô))

... Portas fechadas, o trem começa a andar de novo...

((Saco, 10 segundinhos já passaram. Vou fazer o que? Juro que não é egoísmo mesmo! De verdade! Se eu soubesse de antemão que ele aceitaria o lugar, já teria me levantado! O chato é levar um toco. Tentar fazer um gesto bonito, levar um 'não' e os outros passageiros, confortavelmente sentados, julgando mentalmente meu bom ato. - 'Pagou mico!', poderiam pensar alguns.))

... O vagão ginga no balanço da viagem. As pessoas sentadas se fingem distraídas. Olham para o chão, deixam o olhar perdido. E o senhor segue em pé...

((Por que estou tão agoniado com esse assunto? O que quero mesmo é o bem estar do cara! A cada dia me convenço: Sou mesmo incrivelmente imaturo! Se ele não quiser o lugar, tudo bem! Não vai tirar pedaço, eu volto pro assento e acabou o problema! Chega, decidi! vou cutucar o cara!))
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Eis que uma menina se antecipa, sai lá de trás e caminha até o senhor.

Simpática, pergunta se ele quer o lugar dela, e aponta lá para o fim da fileira.
Ele nega, diz que está bem ali.

Ela não quer perder a viagem. Insiste, deixando clara a intenção de ceder o lugar.
Ele não está fazendo cerimônia. Esté convicto da idéia de continuar ali, se equilibrando no chacoalhar do vagão.

Vendo que já tinha atraído a atenção de todos que seguiam a viagem outrora monótona, não fosse aquele cabo de guerra entre gerações, tentou convencê-lo, pela terceira vez, a aceitar o gesto generoso.
Resposta: Não!

Acanhada, alvo de todos os olhares, a única pessoa solidária do vagão, a única que teve coragem de quebrar o gelo, voltou sem graça para o seu assento.

Na minha mente imatura, acho que o arrependimento dela pelo mini-constrangimento público foi maior do que a sensação do dever cumprido.

Minha conclusão é a seguinte: sentar-se no metrô é um risco tremendo! Para evitar fortes emoções, o melhor a fazer é viajar em pé mesmo!
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E aos senhores da "melhor idade", faço um pedido:

- Aceitem, por favor, o oferecimento dos mais jovens!

Mesmo aqueles com saúde de aço. Mesmo aqueles que consigam se equilibrar no metrô em movimento melhor que muito garotão.

- Aceitem o lugar cedido! Nem que seja só por educação.
Os mais jovens precisam de aprovação pública. São imaturos!

No fundo, o gesto caridoso é de vocês para eles.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Texto é parto

Todo texto é parto
sem anestesia,
tem que fazer força.

A idéia é bela quando está incubada.
pacífica, branda, tranquila.
Ah sim, martela às vezes,
dá seus chutinhos, como quem diz "estou aqui e já saio"

Mas experimenta botá-la pra fora!

Antes de sair, dá ansiedade.
Não se pára quieto, busca-se um copo d´água, anda-se em círculos, tudo a serviço da efervescência daquilo remoendo por dentro.
Às vezes dá até enjôo.

A bolsa rompe,
dói,
é um trabalho penoso.
É preciso encontrar, na ebulição do acontecimento,
sem perder a ternura pelo momento tão sublime,
a melhor maneira de trazê-lo à luz.

Não é de qualquer jeito não!
Senão, o recém-nascido pode vir cheio de sequelas.

É preciso ter carinho, cuidado.
E logo após parí-lo, é fundamental revisá-lo.
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Está tudo bem?
Uma releitura cai bem para constatar se tem pé e cabeça.
Teste do pezinho.

É isso aí!
Parto normal.
Com esforço!

Cesariana é coisa de quem faz
copy + paste pela internet.

E depois dizem que homem
nunca vai sentir a sensação de parir.

Amigos, tenho tantos filhos.
E cada um deles deu tanto trabalho.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Vida por um fio

Os eletrodomésticos "wireless" podem contribuir muito para o cotidiano difícil de um ser humano estabanado.

A seguir, pequenos problemas diários que não existirão mais quando o último artigo eletrônico com fio do planeta desaparecer.

- Fios de televisão, Dvd, computador e carregador de celular na mesma régua elétrica. Tudo emaranhado. É o popular "ninho de rato". Puxar o laptop para perto de você pode fazer com que a TV, lá do outro lado da sala, caia no chão.

- Pra quem tem dois celulares: É hora de dar carga na bateria! Abrimos a mochila e encontramos os dois carregadores enrolados. Desatar o nó leva horas e muita paciência, em geral já esgotada no fim do dia.

- Fones de ouvido do Ipod seguem a mesma regra. Só que é mais chato ainda desenrolar o fiozinho da orelha direita e o da orelha esquerda. São mais finos, exigem mais precisão. São grandes causadores de irritação.

- Cabo da internet que faz peregrinação pelo apartamento: Ele sai parede afora perto de alguma tomada. Como um minhocão rodoviário, começa a fazer curvas, subidas e descidas. Passa pelos rodapés, escala a porta pelo lado direito, passa por cima dela, desce pelo outro lado do batente, se alonga mais uns 5 metros até se conectar ao computador. Além de antiquado, é um excelente acumulador de poeira.

- Pra quem tem fone de ouvidos especiais para falar ao celular: mãos no volante, acelerando, quarta marcha, vem a lembrança daquela ligação urgente que precisa ser feita. Aproveita-se o sinal vermelho para alcançar o fone no banco de trás do carro e instalá-lo no telefone. Aposto agora R$ 50 como o sinal vai abrir muito antes de o sujeito conseguir desembaraçar aqueles fios!

Com as buzinas soando, o motorista começa a acelerar, mas não desiste de, simultaneamente, terminar de conectar aquele apetrecho ao celular! Garanto: isso representa um risco muito maior aos demais motoristas e pedestres do que falar ao telefone e dirigir da maneira convencional.

- Essa é pra quem ainda não tem os videogames ultramodernos: eu, por exemplo, parei no Playstation 2. Sempre tem aquele cara que vai passar pela frente da TV sem atrapalhar quem está jogando. "- É rapidinho, é só dar um salto sobre o fio!" Quantas vezes vi o camarada tropeçar e puxar o console do videogame para o chão com toda a força. Game Over na "vida real", muito antes de a tela anunciar.

Inteligência é percepção

"É"

A palavra 'é', do verbo ser, faz um sentido muito imediato para nós.

Desde pequenos, aprendemos que "a menina é bonita" e "a lata é vermelha".

Como se fosse um sinal de igual.

Menina = bonita.
Lata = vermelha.

Não é um conceito difícil. Nossa mente está progamada para compreender automaticamente que a qualidade da menina é ser bonita. E a da lata é ser vermelha.

Consegue imaginar uma menina bonita? E uma lata vermelha? Fácil, né?

Mas alguns ousam brincar com a palavra 'é'.

Não dizem "6 = meia dúzia".

Em vez disso, dizem "6 = 38", "gaveta = pneu" ou "disciplina = liberdade".

Renato Russo era um desses fanfarrões. Desses que ousavam se divertir com a palavra "é".

Difícil interpretar os "és" que não são facilmente compreendidos. Dificil espremer significado de algumas equações gramáticas.

Por isso, perguntei aos leitores no último post o significado dos versos

"Disciplina é liberdade,
Compaixão é fortaleza,
ter bondade é ter coragem".

Obtive respostas.
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Cristiano concordou com algumas das minhas interpretações. Mas afirmou que "compaixão é fortaleza" porque gera uma corrente do bem, com cada um ajudando o próximo. No fim, todos estarão mais fortes, agrupados, unidos.

Francisco é jornalista sedento pela origem das informações. E enxergou uma resposta óbvia, embora vista por poucos. Foi direto na fonte, buscou uma palavra de autoridade: um trecho de entrevista do próprio Renato Russo, afirmando que "disciplina é liberdade" é um conceito positivo, pra cima, onde a auto-disciplina gera a verdadeira autonomia e independência!

Clarisse se lembrou da juventude, quando ter disciplina era sinônimo de amadurecer, aprender a separar o certo do errado. Uma vez vencida esta etapa, aí sim, estaria apta a exercer sua liberdade. Mas também frisou que os versos foram feitos para serem interpretados livremente, ao gosto do freguês.

E Valmir deu 'rewind' na canção de Russo e provou que a letra da música, desde o início, vem permeada de idéias contraditórias. Como até "os sorrisos têm ferrugem" e "nem os santos têm a medida da maldade", os versos finais também revelam esse mundo de mistura de significados, essa vida de caos e ordem abraçados, essa mescla do bem e do mal.

Me restam algumas sensações de toda essa troca de idéias:

Inteligência é percepção.

Pensar é descobrir.

Blog é diálogo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Urbana Legio Omnia Vincit

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Porque se você parar pra pensar, na verdade não há."

Uma frase simples e cheia de inspiração.

É verdade, não há amanhã. Ele não tem consistência e duração suficente para "existir".

Pois o amanhã sempre chega bem rápido. Tão rápido e sorrateiro que surge disfarçado de hoje.

E logo chega o amanhã do amanhã. E mais rápido ainda chega o amanhã do amanhã do amanhã.

E quando nasce o último dos amanhãs, a frase de Renato Russo faz todo o sentido: é melhor você ter amado alguém!
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Verso bom esse. Não à toa virou um dos refrões mais cantados da música brasileira.

Mas há outra estrofe do Legião Urbana que me intriga. Ainda não consegui desvendar.

Gostaria de contar com a interpretação de vocês.

O que quer dizer, afinal, as três últimas frase da canção "Há tempos"?

"Disciplina é liberdade.
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem."
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-Disciplina é liberdade?

Disciplina me parece mais falta de liberdade! A não ser que alguém interprete 'disciplina' como sinônimo de organização do tempo. Assim sendo, a pessoa teria mais liberdade para fazer o que quer sem preocupações!....

... ou seria a disciplina de um viciado em drogas, caso de Renato? O auto-controle ofereceria a verdadeira liberdade. Pode ser...)


-Compaixão é fortaleza?

Quanto mais se sente uma mistura de pena com solidariedade à situação infeliz do próximo, mais o sujeito se isola na sua auto-afirmação? Quanto mais compaixão ao próximo, mais o indivíduo se protege, inatingível, em sua fortaleza?


- Ter bondade é ter coragem?

Seriam todos os bondosos corajosos, nesses tempos em que a crueldade parece ser o mais rotineiro dos sentimentos?

Alguém tem resposta para este enigma?

segunda-feira, 9 de março de 2009

Foto-verso

Num ponto remoto do planeta
a Muralha da China encontra o mar

Num ponto remoto do globo
uma criança brinca na areia

Gigantes
o concreto avança sobre o oceano

Pequeninos
o pingo de gente mexe em farelo de pedra

Antigos
A massa de rocha e o colosso de água

Tão jovens
a menina e os segredos sob a areia

Não morrerão
tão cedo a pedra e a água
.
Passarão
a pequena vida e o grão ao vento

Convivem
o eterno e o efêmero
o perene e o passageiro

na superfície de uma foto

sábado, 7 de março de 2009

Brincando no túnel

A cada de vez em quando, a vida proporciona uma combinação de acontecimentos que favorece um divertido passatempo.

Os ingredientes combinados são os seguintes:

- O som do carro ligado numa rádio (não no cd).
- Uma boa música começa a tocar.
- O carro entra no túnel.

Você já vinha cantando a música pouco antes de o túnel chegar. Conforme acelera rumo à escuridão, a música vai perdendo a força. As ondas do rádio não chegam mais à antena, a canção cessa.

Mas aí começa a brincadeira: você não pode parar de cantar. Continua, tentando manter o ritmo da versão original.

Logo chega o fim do túnel. A música volta, aos poucos, aos auto-falantes.

E você? Conseguiu chegar ao fim do caminho no mesmo verso do rádio? Conseguiu manter a sintonia entre a música inaudível e aquela que continuava na sua cabeça?

Se conseguiu, parabéns, você tem ritmo!

Pra quem mora no Rio, hoje consegui fazer isso na segunda parte do túnel Rebouças, que é bem curtinho.

Mas o túnel Zuzu Angel está invicto contra mim. Ainda não ganhei uma.

Deu Beavis!

Agradeço a todos que votaram na enquete mais sem propósito da internet!

Entre essas duas criaturinhas fofinhas e meigas, 10 leitores elegeram Beavis (o loiro) o mais feio! 7 votaram em Butthead.

Vocês me ajudaram a esclarecer uma insistente dúvida. Agora sei que a balança da aparência bizarra pende mais para o lado do loiro.

De qualquer forma, coloquei esse desenho do Butthead de perfil pra colocar o voto de vocês à prova. Vocês manteriam a escolha?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Marca na testa

Essa é daquelas que você vê na infância, fica impressionado e não dorme direito.

Décadas depois, graças ao Google/Youtube, este grande HD externo da memória humana, tem a chance de assistir de novo.
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Eu devia ter meus 7 ou 8 anos. Na época, passava aquela série "Além da Imaginação" na Globo. Episódios assustadores, histórias de realismo fantástico. Uma delas me marcou muito:

Ano 2104. Um sujeito é condenado a 1 ano de invisibilidade.

Dois guardas aplicam-lhe uma queimadura na testa. Agora, Mitchell Chaplin tem uma "verruga gigante" à mostra, o sinal de que todos os cidadãos devem ignorá-lo.

No início, Mitchell não parece se importar. Aos poucos, percebe que não consegue realizar nem a mais rotineira das atividades. Pede café num restaurante, puxa papo no metrô, fala alto na biblioteca, mas sempre com o mesmo resultado: é tratado com se não existisse.

Mitchell fica angustiado. Ninguém ousa dirigir a palavra. Como no Big Brother do livro 1984, todos os cidadãos são vigiados o tempo todo. Se alguém desobedecer à lei, enxergando o homem invisível, robozinhos voadores o sentenciarão ao mesmo destino de exclusão.

Nem mesmo o encontro com outro punido livra Mitchell da sina do ostracismo. Após trocarem olhares, o homem prefere não se comunicar para não correr o risco de ter a pena extendida.

O momento mais dramático é o encontro com um cego. Carente de qualquer vestígio de atenção, o protagonista encontra alívio ao conversar com o deficiente visual. Aquelas palavras lhe devolviam a existência. Mas rapidamente, um 'cidadão' sussurra a verdade no ouvido do cego. Ofendido, trapaceado, se afasta. Mitchell estava invisível de novo.

Chapéu para cobrir a marca? É uma de suas tentativas desesperadas. Mas o chapéu começa a queimar no simples contato com a cicatriz na testa.

Invisibilidade não permite disfarces.

365 dias passam. Chegou o dia de remover o sinal. Mitchell vive recluso em casa, abandonado em si mesmo. Não fosse a alforria, mofaria ali com móveis e livros esquecidos. Úmidos, com fungos, corroídos pelo tempo e pela indiferença.

A marca é eliminada da testa. Sem sequelas. Mitchell está livre para ser visto de novo.

Quatro meses depois, uma moça chora, implora atenção. Ela tem o sinal na fronte. A mesma mulher que o havia ignorado tempos atrás. O protagonista dá as costas, tenta se afastar, mas não resiste às súplicas da moça.

Resolve abraçá-la e confortá-la, sob olhares revoltados dos robozinhos voadores, que anunciam "Atenção. Você está condenado de novo!!!"

- Você não é invisível! Eu consigo te enxergar!, são as últimas palavras de Mitchell no episódio.
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Para SER, não basta existir. É preciso que os outros percebam.

A visibilidade só existe a partir do momento em que os demais a reconhecem.

Desde a infância, quando vi o episódio, até hoje, fico pensando quantas vezes conheci um invisível mas não o presenteei com sua existência.

O feioso sem amiguinhos no jardim de infância.
O servente uniformizado limpando os corredores do colégio.
A gordinha na festinha da escola.
O vendedor de chicletes andando no trânsito parado.
O músico que canta e toca covers nos bares noturnos.
O office boy que entra no elevador lotado.
O catador de sucata puxando o carrinho cheio de entulho.
O pré-adolescente maltrapilho e de chinelos no shopping.
O mendigo da minha rua.

Por todas as vezes que, por ventura, eu tenha deixado de afirmar a identidade dessas e de outras pessoas;

- Eu vejo vocês.
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pra quem quiser ver o episódio:
www.youtube.com - To See the Invisible Man (Twilight Zone)

terça-feira, 3 de março de 2009

Dúvida cruel

É uma questão que intriga a humanidade.

Na verdade, só a humanidade que viveu no ocidente, sob a influência dos USA, adolescente nos anos 90.

Quem é mais feio?

Beavis (o loiro)?
ou
Butthead (o moreno?)

Mais uma enquete lançada. Ali em cima, à direita.

Enquete sem sentido, que leva do nada ao lugar nenhum.

Ah, mas clica ali vai!

Por falar nisso...

Por falar nisso, essa montagem é genial.

Bush, de Butthead

e Dick Cheney, de Beavis

Quem conhece a sagacidade, a mente aguçada e o altíssimo QI dos personagens da MTV, com certeza vai entender a piada.


Huh huh huh huh huh huh huh huh

(São ou não são a cara dos EUA?)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Foto-verso

Ali,
é logo ali!
Há duas décadas
um estudante enfrentava tanques.

Talvez sonhasse ter voz
num país onde não se fala.

Com uma foto apenas
gritou mais alto que máquinas de guerra.

Rodou o mundo
berrou
sem abrir a boca.

Não se sabe o que aconteceu
Ninguém sabe onde foi parar
.
talvez ainda vague por aí
vinte anos depois

Hoje sim
ofuscado
calado
como sombra.

Mistérios do paladar

Açaí

Iguaria altamente calórica, de cor roxa, com cara de gororoba, muito famosa no Rio de Janeiro.

A polpa congelada é quebrada em pedaços menores e batida com xarope de guaraná.

Às vezes, quando aquele potão de açaí fica pronto, não está docinho na primeira prova! É o sintoma clássico de que falta xarope.

Como num passe de mágica, no entanto, vai ficando doce a cada colherada. No fim, já está no paladar ideal.

Por que será que isso acontece?

Será que nossa língua, antes anestesiada, vai descobrindo aos poucos o gosto prazeroso que tem o prato?

Ou nós, humanos, é que temos uma capacidade incrível de adaptação. E o açaí sem sabor vai adquirindo graça simplesmente porque nos acostumamos a ele?

domingo, 1 de março de 2009

Night made in China

Esta é a história de um bêbado chinês que nunca existiu.
Só na minha imaginação.
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Em Pequim, tem uma área super badalada de bares e discotecas. Chama-se Hou Hai.

Mesmo em regime de ditadura militar e uma cultura cheia de pudores, aquele bairro é exatamente como os que existem em São Paulo, Nova York ou Londres.

Tem 'nightclubs' transadas, pistas de dança, muita bebida à venda. O pseudo-comunismo vigente por lá não resisitiu à queda de braço contra o feitiço da Globalização.

Pois bem.
Num desses bares, havia um show de um casal cantando músicas em mandarim.

Nada demais, a não ser pelo seguinte fato: enquanto o cara cantava, a mulher parecia estar jogando um videogame portátil!! (vide foto)

Mas o que mais me chamou a atenção naquela noite foi quando fui ao banheiro.

Um visual super moderno, uma decoração interna de vanguarda.

Dentro do WC masculino, havia uma privada típica, um fosso no chão (Muito comum por lá, um dificultador para as mulheres).

E logo ao lado, um aquário com um peixinho vermelho.

O detalhe era o seguinte: tal como a privada, nada mais que um buraco no solo, o aquário ficava numa mesinha muito baixa, na altura do joelho mais ou menos.

Ri sozinho e, logo em seguida, bati uma foto.

Fiquei imaginado: "Já pensou um chinês meio bêbado neste banheiro? O cara vai ver aquele aquário cheio de águinha e vai fazer xixi no peixinho!"

Haveria de ser uma cena bizarra, mas muito possível.

Não sei se chegou a acontecer.

Mas aquele peixe deve ter achado uma grande idéia ter virado peça de decoração num local tão apropriado.