segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mistérios do fabricante

Todo mundo sabe que não se pode balançar uma lata de refrigerante antes de abrí-la, não é?

Todo mundo, por experiência própria, já viu bem de perto aquele líquido vulcânico sendo cuspido para o alto.

Já tentou, em vão, tampar o buraco com o dedo.

Todo mundo já xingou um palavrão instantes antes de ficar com a blusa encharcada e açucarada.

((Pobres humanos. Aprendem, da pior maneira, que algumas bebidas devem ser chacoalhadas antes de beber... outras não)).
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Sendo todas essas informações de conhecimento comum aos habitantes do século XXI, algo muito me intriga:
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As máquinas automáticas de vender bebida gasosa.

Por que será que elas arremessam a latinha com toda força para baixo?

Não é só a pancada.

Ainda há aquele barulho característico que, amplificado pelo eco do interior metálico da máquina, mais parece uma batida de carro!

Tenta comprar um guaraná de máquina e abrí-lo instantaneamente pra ver o que acontece.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Baba-card

Parei no posto de gasolina pra colocar gasolina. Só R$ 30. Só pra completar mesmo.

O frentista me atendeu prontamente. Perguntou se era débito. Eu disse que sim. Ele me disse pra passar o cartão com o garoto um pouco mais à frente.

Saí do carro e entreguei o cartão pro garoto. Ele se distraiu por um segundo e foi atender, rapidamente, uma outra cliente.

Quando voltou da tarefa-relâmpago, veio segurando meu cartão na boca.

Veio segurando meu cartão na boca.

Isso mesmo.

Segurando meu cartão.
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Na boca.

Caminhando com o olhar perddo, entretido nos próprios pensamentos. Tão relaxado a ponto de, despojadamente, prender o cartão entre os lábios. Só que era o meu cartão.

Não tive nojo, propriamente. Mas, confesso, estranhei um pouco a cena.

Pensei: "E se eu quisesse passear com o meu cartão na boca? Já seria um cartão batizado! Cada um que bote suas próprias coisas na boca, como canetas, crachás, unhas".

Fiquei olhando o jovem frentista para ver se ele percebia a situação singela, porém esdrúxula, que estávamos vivendo naquele momento.

Se ele notou, não demonstrou. Seguiu em frente, passou o cartão, disse boa tarde e muito obrigado, me devolveu o objeto e foi atender um outro motorista.

Guardei meu Visa levemente babado.

Enquanto saí dirigindo, pensei:

Isso é que é atendimento personalizado, íntimo mesmo.

Será que ele faz isso com todos?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dia mundial sem carro

Confesso.
Peguei a chave do carro ontem.

Liguei a ignição e acelerei em direção ao trabalho.

No início da manhã, o trânsito estava igual a todos os outros dias. Aparentemente, os automóveis não ficaram nas garagens.

Peço desculpas. Meu desejo era deixar o carro em casa.
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Mas a conveniência falou mais alto. Minha bicicleta não estava em casa. Nas nuvens, uma ameaça de chuva.

E, admito, acordei um pouco atrasado. Precisava de algo com motor para chegar mais rápido.
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Não sei avaliar, ainda, a eficácia deste Dia mundial sem carro.
Sem dúvida, é uma boa iniciativa.

Se servir para a humanidade dar um "clique" e perceber que a vida é possível, e mais saudável, sem carro, a idéia é bem-vinda.

Mas não escondo que tenho um pé atrás com esse movimento.
Apóio a causa, mas não tanto o modo de fazer.
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Acho esse formato "Dia sem carro" tão ineficaz como abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas para pedir paz, ou hastear bandeiras brancas nas janelas para dar um basta à violência.

Na minha opinião, aqueles que aderem o fazem para apoiar um movimento de vida curta.

Durante 24 horas, livram suas consciências e se sentem parte de uma grande onda do bem.

Mas logo voltam às suas vidas, numa sociedade onde nada mudou.

Sugiro um outro formato, e de muito mais impacto, para mudar a vida motorizada.

Que tal o movimento "Vida sem carro"?

O governo abre mão da grana e impostos das montadoras, indústrias automobilísticas e postos de gasolina.
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Além disso, inicia um programa para comprar carros de quem os queira vender, por preços muito acima do mercado. Um incentivo real para esvaziar as ruas das grandes cidades.

Abre os cofres e investe pesado na melhoria do transporte público, com mais linhas de ônibus, e da manutenção das rodovias.

Faz mais estações de metrô.

Investe pesado para transformar grande parte das vias urbanas em ciclovias bem sinalizadas.

Restringe a área de circulação de carros nas grandes cidades.

Estabelece um sistema de salgadas tarifas para quem quiser ir de carro aos bairros superpopulosos, assim como acontece no centro de Londres.

Faz tratamento de choque na população, radical, implementando restrição ou rodízio de automóveis imediatamente.

Eu topo! Vida sem carro.
Quem adere?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Murphy e os semáforos

De todos os "Murphy" que eu conheço, nenhum é o criador da lei.

Não foi o Eddie Murphy.

Não foi o Peter Murphy, cantor da obscura banda Bauhaus.

Nem aquele Murphy que, depois de baleado várias vezes, ficou aprisionado dentro da armadura de metal do Robocop. (Quem lembra? O personagem tinha esse nome).

De qualquer forma, a tal lei é mesmo poderosa. Nos lembramos dela em várias ocasiões no dia a dia.

Um dos momentos em que se manifesta com mais força é no duelo contra o semáforo.

Quanto mais o motorista quer passar num sinal verde, mais certo é que o sinal vai ficar vemelho antes que ele consiga atravessar.

Comigo acontece assim:

Se estou com muita pressa e preciso passar no verde, acelero enquanto mantenho os olhos fixos no semáforo. Perda de tempo.
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Antes que eu chegue perto, vejo-o descolorir de verde para amarelo, e logo esbanja aquela risada vermelha da minha cara de tacho. Escárnio puro!
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Já aprendi qual é a melhor conduta. Fingir que não faço tanta questão de passar no verde.

Se eu vejo de longe o semáforo, não crio expectativas. Não aposto corrida contra ele.

Mantenho o ar blasé, olho para os lados, faço cara de pouco caso. Se ele não notar que está duelando com você, melhor!

Acabo passando, calmamente, sob a luz verde. O verde do acolhimento, o verde que me diz "bem-vindo!"
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E, com certeza, vai fechar na cara do apressandinho que vem logo atrás.
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Segundo o oráculo dos novos tempos, o Wikipedia, o Murphy da lei poderia sim ser chamado de "Eddie Murphy".

Edward A. Murphy foi um engenheiro aeroespacial que formulou a máxima "tudo o que pode dar errado, vai dar" para tentar se proteger de todos os acidentes que poderiam acontecer durante um teste tecnológico.

domingo, 20 de setembro de 2009

A arte de não dizer nada

Escrever muito não é sinônimo de comunicar muito.

Falar muito também não.

Este é um dos maiores engodos dos nossos tempos.

Arnaldo Jabor, por exemplo, diz que Lula finge que governa e comanda, mas, na verdade, se expressa por palavras vazias e conceitos vagos.
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A enxurrada de palavras camufla a falta de conteúdo. Com o cotidiano tão acelerado, o cidadão não pára para refletir sobre a falta de idéias.
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Aceita a verborragia e se dá por satisfeito.

Concordo com Jabor, mas não vou entrar na crítica do presidente agora.
A citação foi algo irresistível, de carona no assunto de "falar e não dizer nada".
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Escrevo este post, na verdade, para dividir com vocês o conteúdo de uma etiqueta da loja feminina Checklist, muito famosa aqui no Rio de Janeiro.
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O texto é a apresentação da nova coleção, batizada de "Beach Divas".
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Transcrevo tudo, sem tirar ou pôr uma vírgula (atenção para os termos em negrito):


"Beach Divas

Uma nova leitura do glamour característico de balneários sofisticados espalhados pelo mundo.

Com um pouco de tudo que há de mais hype, a garota bohemia-viajante mistura agora uma moda urbana-romântica com um navy estilizado, acrescenta alguns acessórios inspirados no Rock n' Roll e sai às ruas sem perder seu frescor carioca cheio de charme."
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Percebe o desespero para abraçar o mundo e não abrir mão de nada, como se acumular qualidades fosse sinônimo de atingir a perfeição suprema? (Como é ansioso e obcecado esse nosso capitalismo).

Percebe o uso de termos em inglês (hype, navy, Rock n' Roll) que, juntos, não querem dizer rigorosamente nada?

Percebe o uso de palavras compostas (bohemia-viajante, urbana-romântica) e como elas deveriam causar constrangimento a quem as escreveu? Parecem piada...

Acho que o objetivo da marca era vestir a mulher contemporânea ideal.

Com tantos atributos, me parece que o público-alvo é um bicho de sete cabeças.

O que vende, afinal, a Checklist?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cera quente

Impressionante como somos alvo dos mais toscos modismos.

Impressionante, também, como as propagandas nas traseiras dos ônibus têm me provocado a reflexão.

Outro dia, vi um anúncio que era o seguinte:

Centro de depilação total! Por X R$, faça perna, meia-perna, virilha e etc!

Como figura principal do pôster, uma moça morena, com as mãos espalmadas e unidas, braços longos, ponto vermelho na testa e roupas indianas.

Claro, o mote do comercial era a novela "Caminho das Índias".

Índia e depilação. Sabe o que isso tem a ver?

Não sei. Mas sei muito bem no que os dois não tem a ver.

Quando minha irmã morou nos Estados Unidos, andava com gente do mundo inteiro.

Americanos não. Americanos não gostam muito de se misturar aos estrangeiros.

Mas havia cubanos, chineses, alemães, indianos.

Um dia, uma amiga indiana virou para minha irmã e perguntou:

- Você faz depilação?
- Claro.
- E como é a que você faz?
- Bem, lá no Brasil é muito comum. Todo mundo faz. Todo mundo vai à praia e mostra o corpo e, em geral, as mulheres se sentem melhor se estiverem depiladas.
- Você poderia me ajudar? Meu namorado quer que eu depile. Lá na Índia não é muito normal.
- Claro, claro. Que tipo de depilação que você quer? Quando foi a última vez que você passou cera?
- Nunca.

A moça indiana tinha uns 22 anos na época.
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Cada um com a sua cultura. O que é normal para uns é estranho para os outros. Faz parte do jogo.
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Mas não venha misturar bugalhos com alhos.

Anunciar depilação com Caminho das Índias é a mesma coisa que vender Samba made in USA.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O dia em que aprendi informática com um gato

Qual foi o último ser humano que você conhece que teve aulas de informática com um gato?
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Não deve ser muito comum por aí.

Bem, me apresento:

André. 29 anos. Moro no Rio de Janeiro. E, sim, recentemente, um gato me ensinou noções de computação.
Antes de contar essa história, é preciso apresentar a protagonista.

Uma gata fêmea, vira-lata, meio cinza, meio marrom. É da minha namorada, MClara.
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Um jeito de sonsa, mas muito charmosa e carismática.

Muito cara-de-pau; tem por hábito explorar os lugares proibidos da casa e manter o ar blasé.

Um jeito pacato, um ar fofinho, mas arruma briga às escondidas com outra gata da casa que, inclusive, está com câncer.

Um personagem e tanto.

Nome da criatura: Cat Moss.

O apelido (que pegou mesmo) é "Chats". A chatice é o único motivo para o vulgo do felino.

Mas como este animal me fez descobrir funções do meu computador que eu nem imaginava que existissem?
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Dois foram os pré-requisitos:

- Para assuntos de informática, sou um beócio.
- Chats não tem medo de levar bronca e gosta de dormir em lugares quentinhos.
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Meu laptop fica sobre a escrivaninha da sala. Em geral, fica aberto e ligado.

Saímos de casa para almoçar. Quando voltamos, lá estava a Chats sobre os teclados.

Repousava docemente sobre as patinhas, com a cara mais lavada do mundo.

Na tela, uma janela de ajuda aberta, o Internet explorer também, e a seguinte sequência digitada no campo de texto:

"iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiijjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii"

Espantei-a dali com rispidez.

Mas, confesso, achei graça do que ela tinha feito. Eu nem sabia que aquela tela de ajuda existia. Não tenho curiosidade para explorar as possibilidades do computador. Ainda bem que a Chats tem.

No segundo dia, saímos de novo. Deixei o Notebook aberto, como de costume.

Quando voltamos, lá estava a gata de novo sobre os teclados. Dessa vez, não se contentou apenas em abrir programas desconhecidos.

Organizou diversas janelas em modo 3D. Eu já tinha visto isso no Mac, mas nunca num PC.
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Fica um visual alucinante. O Youtube, o Itunes, o Globoesporte.com, o Blogspot, todos organizados um na frente do outro, como uma sequência de dominós em pé, prestes a desabar uns sobre os outros.

Comecei a curtir aquilo ali. Demos muita risada da Chats, suas descobertas involuntárias amparadas por aquela cara de dissimulada.

Mas eu tinha certeza que não havia mais o que um gato pudesse remexer num laptop.

O problema é que minhas certezas, geralmente, dissolvem no ar como nuvens.

Não fui testemunha da peripécia seguinte. Mas MClara foi.

Quando voltou pra casa, Chats estava de novo sobre as letras do computador. Dessa vez, superou todos os limites.

Enquanto passeava sobre o teclado, sua imagem aparecia na tela, com num espelho.

De alguma forma, a gata ativou a câmera do monitor. E fazia, com sua leveza felina, uma apresentação narcisística para as lentes.

Deus sabe quanto tempo deveria estar ali se filmando, se curtindo.

O pai da MClara brincou dizendo que ela apresenta um telejornal pela web só para animais de estimação.

E pensar que eu nunca usei este aplicativo do meu próprio PC. Nem saberia direito como chegar até aquela tela.

Claro, aquele foi o climax de Chats.

Nunca mais desvendou um software tão interessante.

Mas não se despediu da minha casa sem antes deixar mais uma marca.

Até hoje, no alto, à direita da tela, logo abaixo do relógio, vejo um ícone pequeno e retangular que me mantém atualizado com as movimentações do mercado financeiro.

Eu nunca saberia como colocá-lo ali. Nem sei, sinceramente, de onde veio aquilo.

Para não parecer que estou mentindo, te digo o que os indicadores da bolsa de valores dizem neste momento (vou apenas reproduzí-los, pois não consigo interpretá-los):

$INDU - 9.626,80
$COMPX - 2.091,56
$INX - 1.049,32
- cotações da IDC Comstock./ Atraso de 20 minutos

Será que havia um atalho para isso no meu próprio laptop? Ou seria necessário fazer download de um site especializado?

Creio que nunca saberei.

Apesar de ser extremamente habilidosa com computadores, nada indica que Chats vá me revelar os seus segredos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Estratégia

A idéia veio de alguém de porre.

Não ouvi, mas conheço quem ouviu.

Politicamente incorreta mas, sem dúvida, genial.

O indivíduo, entre 30 e 40 anos, anunciou que havia descoberto a fórmula para bebuns conseguirem driblar a Operação Lei Seca.

Uma tática muito mais evoluída que algumas já conhecidas:

Tem aqueles que, ao avistarem a blitz da PM, encostam o carro e abrem o capô. Simulam um problema no motor para não terem problemas com a lei.

Outros confiam no celular conectado à internet. Uma rede de dedos-duros no twitter anuncia os pontos da cidade que estão sendo fiscalizados. Basta, ao motorista alcoolizado, desviar daquele trajeto.

Mas o plano do nosso personagem é bem mais engenhoso.

Funciona melhor se o motorista-cachaça tiver filho pequeno. Se não tiver, basta colocar uma criança no carro:

- Amigo, encosta o carro!
- O quê?
- Isso aí! Encosta o carro! Ih, esse tá bebum!
...
- Por favor, venha por aqui. Fazer o teste do bafômetro.
- Pois não.
...
- Meu senhor, o senhor está muito bêbado!!! Extrapolou a tolerância!
- Eu??? (Hic!) Tem alguma coisa errada!!! Eu pareço estar bêbado?
- O senhor está brincando, né?
- Pode dizer! Eu pareço estar alcoolizado por acaso???
- Meu senhor, o senhor está cambaleando. Nem um gambá fica mais alterado que o senhor! Nem precisava de teste de bafômetro. Até o bafômetro ficou bêbado depois dessa baforada!
- Seu policial, tem algo errado aqui. Esse aparelho está quebrado. Eu não bebi nada!
- O senhor só pode estar me sacaneando.
- É verdade. Não bebi, não bebi e não bebi... nada!
- Chega de papo, o senhor exagerou. Está, inclusive, preso.
- Prostesto! Sei que esse bafômetro está com problema! Quer ver? Filho, desce do carro...
...
- Isso filho, agora sopra aqui nesse canudinho por favor. Isso, sopra. Não, não é pra babar não, filhão. Só pra soprar, tá? Isso, isso mesmo.
...
- Aí está, seu guarda. Dá uma olhada! Te falei que esse aparelho estava quebrado?
- Não é possível. Isso nunca aconteceu antes.
- Pois está aí! O ponteiro está mostrando. É como se meu filho estivesse alcoolizado. Meu filho de 4 anos! Bêbado!! Sinceramente! Tchau, seu guarda!
- Mas espere! Não estou entendendo nada. Não é possível... vou chamar meu superior!
- Tchau, seu PêÊme. Vou embora. Fui. Vem filhão. Vamos, porque esses caras não sabem nada.

((Carro acelera. PM com cara de bobo)).
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40 minutos antes...

Pai e filho saíam do restaurante. O pai acenou para os amigos, deu tchau a todos, saiu trançando as pernas. Já tinha pago a conta, mas se lembrou de algo importantíssimo:

- Vem, filhinho! Dá um gole nessa cachacinha aqui, dá!
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Agora sério:

Se beber, não dirija! Mesmo.

Arroba


Por falar nisso, alguém aí sabe pra que servia a arroba antes da internet?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O vendedor pit-bull

Na janela traseira do ônibus, a propaganda:

Batemos metas!

Tratar aqui.

O guia do vendedor pit-bull para o sucesso definitivo.

Ao chegar em casa, descobri que o tal autor do livro, Luis Paulo Luppa, é um dos (sic) palestrantes-revelação do ano. Ele não tem apenas um livro, mas também dvds gravados com seus ensinamentos.

Não sei, e nem me interessa, se a obra do cara tem qualidade. Deve ter.

Mas me intriga muito como é vendida a idéia desses livros de auto-ajuda profissional.

Repare bem no termo: Vendedor pit-bull.

A mensagem: transforma-se seres humanos em profissionais ferozes que latem, intimidam e partem pra cima de forma irracional.

Atenção, também, para o termo: "o guia para o sucesso definitivo".

Sucesso definitivo.

O que seria isso? Um estado de espírito e de realização profissional tão pleno e inconstestável que, quando alcançado, esvaziaria, até mesmo, a razão de continuar existindo?

Nada mais vale a pena na vida após atingir o "sucesso definitivo".

Poção mágica, solução instantânea: "batemos metas, tratar aqui".

Em tempos de desespero entre os desempregados e insatisfação de boa parte dos empregados, me assusta como são vendidos esses produtos de eficácia profissional.
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É como um viagra do trabalho! Compre o super pit-bull vendedor e jamais esmoreça!

Fico triste não só com os milhares de desempregados se estapeando por trabalhos que pagam mal e subutilizam o ser humano.

Fico mal de perceber como, em tempos de tantas cobranças, nessa época da fissura pelo dinheiro, o cara perde a si mesmo nas horas desgastantes do dia-a-dia.

Mergulha nas funções e obrigações e se esquece da própria vida.

É uma armadilha difícil de se escapar. Não é nada mole, e nem viável, frear o turbilhão das exigências do emprego e priorizar o gostoso caminho do lazer.

Tem gente que mal consegue arrumar tempo pra relaxar.

Me preocupam muito os pit-bulls do trabalho, rumo ao êxito definitivo.

Nas folgas, no tempo livre, na curtição, ninguém quer, e nem precisa, de focinheira.

A desinvenção do carro

Enfrentar o trânsito das grandes cidades talvez seja a atividade mais chata que pode ser realizada sobre quatro rodas.

Acho que, em segundo lugar, vem procurar vaga para estacionar o carro.

É uma liturgia diária estressante, desgastante, irritante.

Ou não há vagas, ou há vagas em fila-dupla, ou há vagas com meio-carro em cima da calçada. Péssimo para o balanceamento e alinhamento do carro.

Ou, então, há vagas em lugar proibido, mas onde todo mundo pára.

Se você opta por estacionar, corre o risco de ser rebocado. Se resolve não parar ali, pensa que está sendo o único idiota que vai continuar procurando enquanto o próximo a chegar vai se deparar com "o maior vagão!"

Ou paga dezenas de reais para o pomposo "vallet parking".

Ou fica p... da vida quando achou aquele precioso espacinho, onde seu carro cabe com folga, mas vê surgir o flanelinha, cheio de gestos nas mãos e correndo, esbaforido, para te estorquir algum dinheiro.

Não tem jeito. Procurar vaga pra carro é o maior saco.

Toda vez que perco mais tempo para parar o carro do que com o trajeto propriamente dito me arrependo de não ter saído de bicicleta.

Talvez, num futuro próximo, cada rua tenha câmeras apontadas para as calçadas.

Cada motorista será capaz de, quando estiver chegando perto do destino final, acessar pelo celular o circuito de imagens. Assim, saberá se há ou não vagas disponíveis.

Que ironia.

Uma das maiores invenções do século XX foi o automóvel.

O homem, orgulhoso, projetou naquele objeto motorizado sua masculinidade, sua potência, sua virilidade. Ter carrão é sinônimo de conquistar as "Marias-Gasolinas" e tirar onda com os seress da mesma espécie.

Mas no século XXI, desinventar o carro seria uma das maiores façanhas da humanidade.

Para o bem da nossa paciência, do meio-ambiente e da harmonia social.

Nossa pressão arterial agradeceria. Nosso corações, pulmões e emoções também.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A cirurgiÃ

Quando eu e MClara lemos a charada em inglês, não percebemos a nuance que estava na palavra "surgeon".

E, ao não notar esse detalhe, revelamos um preconceito cultural e passamos a nos questionar.

A solução do mistério é bem óbvia. (veja post abaixo)

Pai e filho sofrem um acidente. Ao chegarem no hospital, o cirurgião diz "meu filho!".

Claro. Cirurgião, em inglês, pode ser interpretado também como "cirurgiã"!

Não tem gênero.

A doutora era a mãe do menino.

Nós não pensamos nisso. E resolvi colocar a questão aqui no blog para ver se os leitores percebiam.

Remi, logo de cara, matou a charada.

Mas se o atento Remi não tivese sacado, quantos será que teriam solucionado o mistério?

Raios, me cobrei, por que em pleno século XXI não posso conceber o fato, logo de início, de que uma mulher é a cirurgiã do enigma?

Todo cirurgião tem que ser homem? Que machismo é esse?

Será a herança cultural?

Será resquício da sólida idéia universal de que se deve valorizar mais o homem do que a mulher?

((um bom exemplo? Basta escrever a palavra SURGEON ou PHYSICIAN no google imagens. Veja quantas fotos de homens aparecerá para cada moça))

As próprias palavras em português são exemplo disso.

Se há cinco meninas e um menino, o gênero da frase vai automaticamente para o masculino.

Os meninos.

Por que não as meninas? Pois são a maioria.

De vocábulo em vocábulo, de termos e expressões que superestimam o masculino, não sabemos ser livres.
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Quando nos libertamos da jaula do português e encaramos uma frase em inglês, onde a palavra SURGEON não tem gênero, estamos condicionados a um pensamento machista.

O cirurgião. Por que não A cirurgiã?

Eis que a charada, apenas um joguinho de provocar a adivinhação, me revelou algo bem mais importante.

- Menino, tens ainda muito a evoluir!

domingo, 6 de setembro de 2009

Charada

Quero ver se alguém mata esta charada.

Eu a li em inglês. Vou escrever em inglês mesmo, tá?

Para não haver "perda semântica" na tradução.

A father and son were involved in a car accident and rushed to hospital. On seeing the unconscious boy, the surgeon exclaimed, "Oh no, that´s my son!" How can this be true?

Alguém mata?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Estabanado

Uma das maiores armadilhas da minha vida aconteceu numa pizzaria fast-food.

A lanchonete chamava-se Pizza Mile.

Para quem não conhece, explico.

O esquema era assim: Você comprava uma mini-pizza mais ou menos do tamanho de um prato de sobremesa.

Era fininha, muito oleosa e vinha numa meia-lua de papelão.

Você segurava embaixo e ia degustando.

Pois bem, eu devia ter uns 14 ou 15 anos.

Fiquei na fila, cheguei ao caixa, pedi uma pizza de muzzarela com coca-cola grande, de máquina.

Em poucos minutos, tinha um copo de coca com gelo transbordando na mão direita, e uma pizza fervendo na canhota.

O próximo desafio era caminhar até a mesa, distante alguns passos dali.

Conforme fui caminhando, a armadilha!

A pizza, muito fina, dobrou-se sobre si mesma. Dessa forma, a parte do queijo fervendo encostou no meu punho. Tortura.

Com a outra mão ocupada e impedida de acudir o punho queimado, saí correndo para chegar mais rapidamente à mesa.

A cada passada, a agonia do queijo em brasa na pele. E a coca-cola escorrendo para dentro da minha manga, por debaixo do braço.

Chegar à mesa não representava mais um porto seguro.

Eu já estava com um braço borbulhando no óleo e o outro todo molhado e melado.

Apenas mais uma prova, das inúmeras no decorrer da minha vida, de como sou estabanado para os afazeres manuais mais simples.