sábado, 30 de maio de 2009

Acaso

Washington DC tem aproximadamente 100 estações de metrô.
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Um bom palpite para a quantidade de vagões para cada trem: uns 10, não é?

Quantas viagens devem ser feitas por dia? Milhares?

Quantas pessoas devem pegar o metrô por dia? Fácil, fácil, umas 10 mil.

Mas pra que toda essa apresentação do sistema público de transportes da capital dos EUA?

Para contar uma história difícil de acreditar.
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Um executivo trabalhava numa multinacional. Era comum viajar para fora do Brasil.

Estados Unidos e Europa eram os lugares principais do seu itinerário, mas estavam incluídos, também, México, Austrália e América do Sul.

Numa dessas viagens, conheceu uma americano de Washington. Ficaram amigos.

- John, você sabe, estou levando minha família pra Washington. Eu, minha mulher e meus filhos!

- Sério? E que bom, vocês vão adorar.

- Pois é. Eles já conhecem Miami, agora vamos fazer Nova York, a capital e depois subir pra Boston.
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- Ah, tem passeios muito bons para se fazer na costa leste. Que viagem boa.

- Então, nós já estamos nos Estados unidos. Na verdade, devemos chegar aí daqui a uns três dias. Vocês vão estar aí também, John?

- Não, não acredito! Que pena! Nós vamos viajar. Vamos sair da cidade! Temos um compromisso exatamente neste fim-de-semana. Ah, que coisa!

- Ah, tudo bem. Fica pra próxima vez!

- Isso aí. Aproveitem então. Boa viagem pra vocês.

- Obrigado, John. Tchau.

- Tchau.


Três dias depois, lá estava a família brasileira nos subterrâneos, esperando para pegar o metrô. Estava no fim da manhã. Todos estavam postos a pegar a linha que sai do bairro de Chevy Chase (é isso aí, o mesmo nome daquele ator das antigas, que fez "Férias Frustradas").

Sabe aquele barulhinho típico do metrô? Um estardalhaço do trem se aproximando à toda velocidade, depois o barulhão daquela bala metálica freando e freando, apitando e projetando massa de ar para todos os lados.

O trem parou e havia duas portas. Uma mais pra esquerda da família e outra mais pra direita (os metrôs nunca param com a entrada onde você está, já percebeu isso?)

O executivo e sua trupe preferiram entrar na porta da direita.

Um passo pra dentro do metrô, e o flagrante:

John e seus dois filhos, um adolescente e o outro criança, em pé e segurando a haste de apoio, tiveram a conversa interrompida por aquela coincidência. Os três de bonezinho com um "G" estampado, rumo ao jogo de basquete da Universidade de Georgetown.

Não dá pra afirmar que o estômago do americano congelou frente àquele encontro. Mas o queixo caído foi indisfarçável!

Dentre todos as linhas de metrô, de todos os horários possíveis, dentre todos os trens e vagões da cidade, lá estavam as duas famílias face a face.

O acaso é cruel.

Deuses do constrangimento, roguem por esta cena!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Inimigo íntimo

Fedia.

E muito.

A álcool.

Exalava um cheiro forte de cachaça e pedia mais. Estava ao meu lado, na fila de uma vendinha aqui perto de casa. Como todo alcoólatra entorpecido, falava enrolado.

- Quero uma dose de Caninha da Roça!; e oferecia uma nota de dois reais.
- Aqui a gente não vende dose.
- Me dá uma dose!
- Não, não vende dose!
- Então me dá uma garrafinha!

O português atrás do balcão virou-se e pegou aquela garrafinha plástica bem pequena, com tampa de enroscar, como a dos refrigerantes. Entregou a ao moço barbudo e maltrapilho. Ele pegou a branquinha e foi caminhando.

Andava lentamente porque se acelerasse o passo iria cambalear. Conforme foi se afastando, sua voz esbravejando palavras ininteligíveis ia ficando mais fraca e inaudível.
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Agora a mesma situação, mas com o objeto de vício diferente:

Eu estava na mercearia aqui perto de casa quando um adolescente de classe média se aproximou, furou a fila, e pediu ao caixa:

- Me dá uma carreirinha de cocaína aí!
- Não meu filho.
- Me dá logo, vai! Tá aqui a grana!
- Aqui a gente só vende a peso.
- Mas só quero uma carreirinha!
- Não dá. Tem que levar o peso.
- Então me dá cem gramas aí, vai!

Negócio fechado, lá foi o menino caminhando com sua droga.
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A diferença entre essas duas histórias?

Bem, a primeira é verdadeira. Aconteceu hoje à tarde. A segunda é fictícia.

A outra diferença é a seguinte: a primeira ocorre todos os dias, impunemente, incentivada por comerciais de TV e pôsteres de mulher de biquini. A segunda não acontece nos mercadinhos de família porque o produto é proibido.

Esse assunto é velho, mas me voltou à cabeça depois que presenciei a cena de poucos minutos atrás. Qual é a diferença entre abuso de álcool e de cocaína?

É fato que aceitamos naturalmente essa hipocrisia simplesmente porque as coisas são como são. Crescemos sabendo que qualquer um bebe sua cervejinha no bar e que o papai e a mamãe compram vinho e uísque no supermercado para ocasiões de festa.

Mas sabemos também, desde cedo, que drogas de fumar, cheirar e injetar são ilícitas, excomungadas, mal-vistas pela sociedade.

Na prática, não há diferença alguma! Assim como a dependência de drogas, o alcoolismo é uma das doenças mais cruéis do planeta.

Aquele homem que comprou sua cachacinha não estava nem a meio metro de mim. E já não respondia por si. Devia ter dado o primeiro trago de manhã, para evitar as tremedeiras matinais vindas da dependência ao álcool.

Como perdeu toda a dignidade e o amor-próprio, ambos tendo sucumbido a doença, provavelmente abriu mão de almoçar para gastar suas míseras moedas em mais uma dose de cachaça pura.

E naquele horário, ao meu lado, repetia a cena que deve protagonizar todas as tardes. Já trêmulo, confuso, escravo de uma garrafa, trocava notas de dinheiro amassadas por mais uns goles de veneno.

É possível que nosso personagem, se já estiver com a doença em estágio avançado, tenha "delirium tremens". O sujeito tem alucinações, imagina que insetos e bichos grotescos estão lhe subindo pelas pernas.

É provável também que já não tenha carinho de familiar algum. É muito comum que os alcoólatras, mesmo que pessoas dóceis e alegres, se transformem em seres incontroláveis e violentos, incapazes de receber carinho e amor. Afastam todos os entes mais queridos.

Intoxicado, acaba fazendo do seu pior inimigo sua única fonte de vida. O corpo do doente não consegue ficar sem bebida. O organismo não funciona mais sem aquela substância.

Sozinho, fedorento, reduzido a nada, imundo e mergulhado nos próprios excrementos, acaba a vida sofrendo, desacordado, e de garrafa na mão.

Fosse possível tirar uma foto, lá estaria ele, inerte, na calçada, deitado sob um outdoor bacana de uma mega-empresa de cervejas.

Tão triste quanto o fim que espera tantos alcoólatras é a cegueira social.

Nosso metabolismo já está tão acostumado com o fato de que vender bebida alcoólica é normal quanto o organismo dos depedentes químicos está habituado às substâncias assassinas.

Como dizia Freud, a intoxicação é uma das maneiras de fugir da vida rotineira e monótona. Beber de vez em quando é legal sim. Nos deixa alegres e levemente irresponsáveis.

Mas não tolero é a falsidade das leis. Já que a escravidão foi abolida no século retrasado, as autoridades teriam a obrigação moral de evitar que seus cidadãos sejam dominados pelo álcool e pelas drogas.

Como? Há vários meios de se proteger e cuidar de pessoas viciadas.

Vende-se bebida sorrindo e abre-se um ruidoso "Óh" para a venda de drogas.

Sou contra todos os abusos e me mantenho distante de ambos. Só não me venha com hipocrisia.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Contra o mar

De touca laranja, óculos de natação, balançava os braços para relaxar os músculos. Eu estava prestes a participar da Travessia dos Fortes, uma prova de maratona aquática.

Do Forte de Copacabana ao Forte do Leme, são 4 km. É distância pra chuchu, a praia inteira de Copa.

Minha cabeça estava a mil. Quantos andrés cabem no mar? bilhões?
Comecei a pensar em tudo o que o mar representa: vida, movimento, coisa indomável, infinitude.

O mar dá vida, o mar tira a vida. Poderoso, não à toa tem um deus próprio em muitas mitologias.

Em poucos instantes, seria eu contra Netuno.

Nem mesmo os colossos inventados pelo homem são páreo para o oceano.
Há um Titanic inteiro dormindo nas profundezas de algum canto do mundo. E se olharmos a superfície, não dá nem pra desconfiar que o monstro está logo ali embaixo.

Se fosse um ser vivo (não que não seja), o mar teria visto tantas coisas. O mesmo corpo oceânico onde eu estava prestes a dar minhas braçadas viu Cabral chegar ao Brasil. Viu batalhas da Segunda Guerra Mundial.


Talvez por isso seja salgado! Taí a solução do mistério!

Tal como faziam na antiguidade, sal para conservar tudo. Sal para conservar todas essas memórias mais remotas.


O mar percebeu a terra se dividindo lentamente, foi se infiltrando nas brechas e, logo, as Américas e a África não eram mais uma coisa só.

Acho que já está bem claro. Eu estava com medo do mar.
Claro, a companhia de outros homens me deu coragem. Ao todo, eram 2 mil competidores.

Mas o nado é algo totalmente solitário. É o seu desafio particular. É você contra seus próprios limites, e contra este inimigo monstruoso e inabalável. Sou uma gota na sua imensidão.

Por que fazer aquilo? Não estava bem mais seguro na areia? - me questionava.

Insensata. Desnecessária. Perigosa. Várias palavras para definir aquela aventura. O receio não era só meu, mas das pessoas queridas também. Por que, pra que?

Mas, misteriosamente, fui em frente.

Tiro de canhão. Começou.

Antes das primeiras braçadas, já deu pra ver que não seria nada fácil.

A pasta de vaselina, espalhada pelo corpo para não dar assaduras, embaçou os óculos.

Chuva, dia frio. Correndo para a água, antes de mergulhar, pedi a um bombeiro, "Passa sua camisa aqui no óculos, por favor. Obrigado."
Agora sim, bem melhor. Visibilidade total.

Logo na largada, percebi que o ser humano sempre subestima o ser humano. Nem mesmo o mar e as outras forças da natureza são tão inimigos do homem como o próprio homem.

E eu achando que meu adversário era a força das ondas, o sobe e desce das águas. Eis que tinha que me preocupar muito mais com as cotoveladas, puxões, imprudência e egoismo dos outros competidores. Na largada, são todos ao mesmo tempo num trechinho pequeno de água.

Parei, esperei um pouco, "Não estou competindo contra ninguém! Deixa eles irem embora! Podem ir, ignorantes, tão absorvidos pela competição homem-a-homem que se esquecem do valor real dessa experiência!"

Foi assim durante toda a existência humana e é assim até hoje. O homem se curva para olhar o próprio umbigo, e deixa de enxergar tudo ao seu redor.

Braçada após braçada, bem devagar, o desafio foi se transformando em prazer. O gigantesco inimigo virou o maior dos aliados.

O mar me acolheu. Me embalou na cadência das marolas. Me fez não mais um corpo estranho, um micróbio a ser esmagado... mas me deus boas vindas, me fez pertencer à aquela imensidão.

Braçada a braçada, vi que não estava, nem de longe, cansado. Era refrescante, era prazeroso.

E mais! O tal sal do mar, perigo para as línguas humanas, causador de sede e agonia, se transformou em berço de criança. Por causa dele, pude flutuar muito mais do que numa piscina. Pude nadar quase sem fazer esforço. Não havia nada a temer.

Por todos os lados, tinham barcos e jet-skis com bombeiros de olho em qualquer um que se afogasse, passasse mal ou sentisse caîmbras.

A presença deles me era indiferente. Logo me vi sozinho na imensidão do mar, nadando, sem hora pra terminar.

Chegar em terra firme seria apenas uma grande recompensa, não mais um objetivo. Pra mim, o prazer era estar ali, naquele momento, abraçando o oceano.

Terra à vista. 1 hora e 20 minutos. Mas já!? Acho que poderia ficar na água o dia inteiro.

Muito prazer, mar. É bom conhecer um amigo inesperado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mandarim, uma armadilha

Já saiu o segundo textinho sobre China do site SRZD.

Ele trata das diversas gafes que cometi ao tentar falar chinês em Pequim.

Do tipo, tentar pedir macarrão e o garçom trazer arroz (e vice-versa).

Ou até pedir indicação de uma Lan House e o cara entender que eu o xinguei!

O texto tá lá.

http://www.sidneyrezende.com/editoria/sonachina

Valeu pela força de todos,

Cada dia, um tema!

Abraço forte!

domingo, 24 de maio de 2009

Só na China

Amigos,

é com um enorme prazer que conto para vocês esta novidade:

O site do jornalista Sidney Rezende publica, a partir deste domingo, uma série de 7 textos sobre minhas peripécias na China!

Um texto para cada dia da semana!

Convido vocês a acompanhar, comentar e criticar; aqui no blog ou lá no site!

Tentei fugir dos assuntos chatos, batidos, já desgastados pela ampla cobertura da mídia durante as Olimpíadas do ano passado.

Optei por contar as histórias curiosas do dia-a-dia, divididas em sete temas.

Espero que vocês curtam!
Estão todos convidados.

Um grande abraço e o blog continua por aqui!!

terça-feira, 19 de maio de 2009

O que fica?

- O que fica dos livros que lemos e dos filmes a que assistimos?
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Sai o novo lançamento no cinema.

Estamos doidos para vê-lo. Compramos ingressos, passam trailers que dão mais água na boca. Durante as duas horas de filme, nossos olhos estão capturados pelo telão.

Nossa visão periférica de nada serve. Luzes apagadas e paredes escuras, nada nos desvia a atenção daquele enredo se revelando na tela.

É como se deixássemos nossas vidas do lado de fora e aceitássemos viver a história daquele filme durante duas horas.

Durante o período de 120 minutos, nada tem mais significado. Porém, uma hora depois, uma semana depois, um mês depois, o que terá restado daquela experiência?
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Quando abrimos um livro (só vale se for um bom livro) as páginas ganham vida própria.

Observamos, atentos, folhas de papel brancas com letras pretas. Mas neste descolorido monótono, está as maiores aventuras.

Um mergulho nas palavras produz inúmeras sensações momentâneas: prazer, tensão, curiosidade, cansaço, reflexão, identificação.

O livro tem o poder de nos prender pelo período em que permanece aberto. Se surgem tarefas urgentes a serem feitas, não há problemas. A leitura pode esperar.

Quando voltamos àquelas páginas, é como se as folhas fossem um grande palco, no qual permanecemos congelados por alguns instants.

Basta recomeçar a leitura que os personagens voltam a se mexer, a história volta a se desencadear, as sensações voltam como se nunca tivessem sido interrompidas.

Mas e um mês depois? Um ano? 10 anos depois? O que ficou daquela obra?
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O que significa ter visto um filme? O que significa ter lido um livro?

Quão frustrante é perceber que nosso corpo não é um supercomputador, capaz de armazenar os dados em sequência, capaz de "load" todas as sensações e aprendizados no momento que desejarmos.

As melhores histórias, escritas num texto ou projetadas na tela, se diluem na mente, se misturando a outros assuntos do cotidiano e a fatos diários.

Por que nossa maldita memória é tão falha?

Que delícia seria se fosse capaz de guardar, intacto, tudo aquilo que saboreamos durante o contato com uma obra de arte.

Se já era impossível nos séculos passados, imagine hoje, no século XXI!

Há muita informação disparando em velocidade pelo fluxo sanguíneo, zanzando pelo cérebro. Há muita reciclagem de novos dados, variando dos mais aos menos importantes. Há muito entra-e-sai.

O mundo está frenético demais para nossas antiquadas peças encefálicas, mais adequadas a um museu do que à vida rotineira.

Mas o ser humano... o ser humano sempre tem um trunfo.

Projeto tosco e cheio de vícios este, o do Homo-Sapiens, mas tão embebido nas mais surpreendentes virtudes e nos mais inexplicáveis mistérios.

Talvez não sejamos capazes de guardar a experiência de uma obra de arte como gostaríamos.

Talvez não sejamos geladeiras, capazes de armazenar produtos e recolhê-los, imutáveis, num futuro incerto.

Mas aí está a carta na manga deste ser pensante: Somos capazes de experimentar tudo de novo!

Por que é bom rever um bom filme!?

Por que é tão edificante reler um livraço!?

Da segunda vez, ou da terceira, da quarta, o sabor é totalmente diferente! Ao apertar o play daquele mesmo DVD, ao revisitar aquelas mesmas páginas, a nova bagagem da nossa vida tornará a experiência inédita!

Novas referências, frustrações, momentos de alegria, mágoas... tudo isso faz de nós, a cada dia, uma nova pessoa.

As piadas que deixamos de entender da primeira vez, as entrelinhas não percebidas, as sacadas de roteiro ignoradas... Eis que, uma vez mais, temos a chance de aproveitá-las!

Sem falar no prazer que é repetir um saboroso prato conhecido. A certeza da realização nos faz aguçados na busca por ainda mais satisfação!

Se há vantagens em desvendar uma obra com os olhos virgens, há outras nuances que tornam o repeteco bem interessante!

Existem, ainda, os que desejam devorar um determinado filme ou o livro como se fosse a última fonte de sabedoria do mundo! 5, 10, 20 vezes são capazes de revisitá-lo!

É a voracidade de espremer a mesma doce laranja várias vezes e, em cada uma delas, saborear uma nova gota que nunca havia provado.

Por isso, se me perguntarem se já vi o filme 'X', se já li o livro 'Y', responderei:

- Já sim, mas não conta. Ainda estou para ver todos os livros e filmes da minha vida! Mesmo assim, estou certo de que morrerei sem tê-los experimentado de verdade!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Reflexão sobre a foto

- Irônico. O sol, redondo, brilha exatamente atrás da escuridão do azul. Estará nossa terra fadada ao eclipse?

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- Pano translúcido, o brilho solar denuncia as linhas da costura.

O verde, o amarelo, o azul perdem a intensidade dos tons. Perdem identidade. As cores minguam, pálidas. O símbolo da pátria sucumbe à luz, que expõe seus contornos.

Brasil; um breve olhar de relance mergulha sob a alegria do povo, a música e o folclore.

Basta colocar o país contra o sol para perceber sua verdadeira cor: o preto, escuro, das emendas, da costura, do improviso, do jeitinho.

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- Apesar dos pesares, que feliz combinação de cores e formas!

Evitaram o óbvio, o monótono de outras bandeiras.

Nada de faixas horizontais ou verticais.

Nada de brasões arcaicos.

Primeiro um retângulo. Depois um losango, que nada mais é do que um retângulo torto. No centro, um círculo. Parece que alguém estava brincado de geometria!

E resolveram jogar com os tons também.

Nada de vermelho, cor que ostentam os países que entram em guerra.

Nada de preto. Cinzas e marrons, nem pensar!

Só cores quentes e vivas!

Verde com azul com amarelo com branco!

Na pintura do estandarte, o fogo alegre de um país que poderia dar certo.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Flash!

Agora! Vai lá! Vou tirar, hein?

3...2...1...

- Flash!

Meio segundo depois, todos os fotografados já estão desarmando suas caras sorridentes.

Eis que...

- (Outro) Flash!!!

Vamos ver como a foto ficou?

Um saiu com cara de bobo, uma de boca aberta, a outra saiu piscando, o outro fazendo careta. E o único que conhecia as regras do jogo ficou lá, paradão, fazendo pose, com um sorriso todo pimpão!

É isso aí, gente. Já repararam como algumas câmeras digitais mandam um 'falso flash' antes de disparar o verdadeiro?

É um saco! Quando é numa festa, e há 15 pessoas para sair na foto? (daquelas que, se não der certo na primeira vez, ninguém aguenta ficar na posicão para tirar outra).

O Flash espoca, todo mundo acha que já valeu, aí estala o segundo!!!

- É lógico, podem comentar alguns amigos fotógrafos; - A primeira iluminada é só pra calibrar a máquina. A segunda é que é pra valer!

Mas ninguém sabe disso! Esse mecanismo de flash-duplo prejudica, e muito, os retratos da galera!

E tem mais. Isso me cheira a malandragem de algumas marcas internacionais que gostam de ter estilo próprio.

Sabe como é? Aqueles telefones celulares, por exemplo: cada um tem uma tomada diferente. Alguns têm duas hastes arredondadas, como se coubessem num focinho de porco. Outros têm as hastes achatadas e paralelas. E por que isso? Simplesmente para serem difererentes uns dos outros.

Acho que os flashes das máquinas digitais funcionam da mesma maneira.

A minha, por exemplo, não tem dois flashes seguidos e consegue capturar momentos no escuro sem problema algum. Ninguém fica com cara de pastel.

Os caras que bolaram o Flash-duplo devem ter achado o maior style!

- Olha aqui a máquina que desenvolvi. Você aperta o botão, a luzinha acende, aí demora uns segundinhos e aí vem a outra luz e dispara! Pura modernidade, que arrojo! Vamos ganhar o mercado!

Pois eu acho irritante.

E começo a campanha. Da próxima vez que você estiver em frente às câmeras, grite logo:

- Sorriso de 10, 20 ou 30 segundos?

terça-feira, 12 de maio de 2009

Gênio do Marketing


Você conhece o Kumon?

Um método de ensino que estimula a capacidade de aprender sozinho.

Kumon é o sobrenome do japonês Toru, que, em 1954, inventou uma maneira de ajudar o filho que tinha dificuldades na escola.

Professor de matemática, Toru Kumon não podia ficar muito tempo em casa. Por isso, elaborou um material auto-instrutivo, para que o filho estudasse sem depender dos outros.

A idéia deu certo. Hoje, a instituição Kumon forma autodidatas em 44 países.

Agora, a pergunta que não quer calar:

Quem foi o gênio do marketing que inventou o logotipo???

Quem será que teve a seguinte idéia:

- Bem, a gente precisa de um logo instigante, que traga muitos alunos para cá! Vamos desenhar uma carinha neste "O"? Isso, aí tá bom! Não, não vamos fazer sorrindo não! Faz uma cara emburrada que fica mais legal...

Sério, dá uma olhada na foto ali em cima.

Aquela carinha infeliz, primo bastardo do "smiley face", te estimularia a matricular o seu filho?

As entrelinhas dizem: "Venha para o Kumon! Mas não venha animado não, porque aqui o bicho pega!"

domingo, 10 de maio de 2009

Ampulheta

Quem inventou a ampulheta

não escolheu o material por acaso.

Quer melhor metáfora para o tempo

que a areia?


Tente encher a mão com grãos bem finos e secos.

Por mais que se tente segurá-los, controlá-los,

eles nos ignoram.

'
Conforme passam segundos, minutos, dias,

o montinho do que passou vai aumentando.

Ganha corpo, fica mais pesado.

Conforme passam segundos, minutos, dias,
'
os grãos que estão por vir são cada vez menos,

e menos, e menos.

'
Quando o último grão passa pelo buraco,

do futuro, nada mais virá.

E o passado? Pulverizado, soterrado,

inútil como farelo de pedra.
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Quem inventou a ampulheta

percebeu que o tempo era indomável

e transformou-o num briquedo perfeito.


Já que é impossível controlá-lo,

por que não brincar com ele?


Quando o último fiapo de areia

está prestes a escorrer para o andar de baixo

Basta virar o objeto para começar tudo de novo.


Virando, virando, virando e virando,

sem deixar o ciclo se completar,

o homem brinca de Deus.


Na vida, sabemos quem manda

mas na ampulheta, quem manda é o homem.

O tempo, aprisionado naquele casulo de vidro,

desliza como a gente quer.

sábado, 9 de maio de 2009

Ajudar ou brigar?

Uma barraquinha móvel para vender milho-verde tem três rodas de bicicleta.

Eu também ando de bicicleta.
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Os pneus em questão motivaram um encontro que me inspirou a escrever este post.

Parado no canto do posto de gasolina, eu estava prestes a estufar as rodas com ar-comprimido quando apareceu um vendedor de milho-verde.

Camisa de botões azul, tradicional dos vendedores ambulantes e dos trocadores de ônibus. Bonezinho, barba branca, lá pelos seus 40 anos. Ele me pediu ajuda.

- Pode me ajudar a encher esse pneu aqui?

- Claro. É fácil. Você digita aqui o número da pressão de ar...

- Ah, mas eu não sei usar isso aí não.

- Bem, eu te ajudo então. Mas é bem fácil. É só parar aqui e digitar o número. Depois, encostar o tubo de ar no birro do pneu e esperar encher.

- Ah, tá bem.

- Está pronto. Ó, cheínho.

- Obrigado. Você quer um milho-verde?
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- Não, obrigado.

- Tá bem. Até mais, obrigado mesmo.

- De nada.

Claro que ajudar os outros dá uma sensação boa. Nos sentimos bem com isso. Mas fiquei pensando naquilo e percebi algo muito óbvio:

Sempre que um cidadão está precisando de ajuda num local público, logo aparecem dezenas de pessoas para dar assistência.

Se passa mal, os transeuntes o amparam. Se sofre um acidente, os passantes o ajudam. Se um idoso precisa de auxílio, logo vários desconhecidos se prontificam.

Nessa sociedade individualista, ao contrário do que costumamos pensar, as pessoas tendem a socorrer seus semelhantes. É ou não é?

E dessa conclusão me surgiu uma intrigante pergunta: Se estamos tão dispostos a ajudar, por que, no caos social, nossa primeira reação é sempre a de briga?

Pense nisso: Você está no trânsito e um cara te fecha. O primeiro ímpeto é o de xingar e esbravejar.

Você viu a vaga e a outra pessoa viu também. Discussão.

Um cara olhou feio para o outro na boate. Porrada.

Por que solidariedade e brutalidade afloram tão facilmente do mesmo ser humano?
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O estranho que furou a fila do caixa (até, quem sabe, por desatenção) e merece olhares de ira poderia ser o mesmo estranho que se sente mal e é prontamente acudido pelo sujeito raivoso.

Nossa máscara social é a da briga.

Andamos carrancudos para intimidar quem passa, para mostrar ao mundo que não somos bobos em terra de malandros. Usamos cara-fechada para deixar bem claro aos demais que temos consciência do nosso espaço social. E ai de quem ousar, ainda que acidentalmente, invadí-lo.

Mas esse molde cai de nossos rostos facilmente quando identificamos alguém precisando de socorro.

Todos nós gostaríamos de viver numa sociedade em que a tal máscara sisuda e bruta não fosse necessária. Basta olharmos para as cidadezinhas pequenas, onde não existe a tensão social das metrópoles e a competitividade das grandes cidades.
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As pessoas não trancam suas casas. Elas ficam horas sentadas na calçada papeando com os vizinhos. Todos se conhecem pelo nome e se tratam de compadres.

Me lembro, quando era criança, que achava graça de chegar nas cidades do interior de carro. Me divertia ao pedir pro meu tio buzinar cada vez que passasse por um pedestre. A resposta era sempre, SEMPRE, um aceno do caipira dizendo "boa tarde!"

Nesses lugares, o ar fresco não tem o peso poluído das grandes cidades. Respira-se um clima amistoso. Que metáfora: nas metrópoles, o ar é pesado.

E assim, vivemos nossas vidas em Rio, São Paulo, Porto Alegre, BH, Fortaleza, Recife, etc...

Fazendo bico, de sombrancelhas retas e duras, marcando a expressão de seriedade.
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Que pena! Vivemos esperando que nossos semelhantes passem apuros para mostrar quem realmente somos. Para deixar aflorar o lado bom e solidário que temos.

A grande ironia é: todos nós, na verdade, é que precisamos de ajuda.

Ajuda para tirar, de vez, essas máscaras de ferro.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Paz nos estádios!

- Redação de Esporte, boa tarde!

- Boa tarde, meu nome é Rogério, sou telespectador, tudo bem?

- Tudo bem.

- Bem, eu gostaria de saber se vocês têm aí o jogo que foi ao ar na última quarta-feira, entre Atlético Paranaense e Flamengo?

- Temos sim. Esse jogo foi transmitido.

- É, eu sei. Na verdade, eu queria saber se é fácil eu conseguir uma cópia dessa partida?

- Não é não, senhor. Esses jogos são arquivados aqui para nosso próprio uso. Só em casos de exceção é que a emissora libera as imagens e...

- Bem, então deixa eu explicar o meu caso. É que eu fui a esse jogo que te falei, Atlético e Flamengo, e... bem, eu estava acompanhado. E eu fiquei sabendo que a câmera me filmou...

- ....

- ... a câmera me filmou e eu... eu estava com uma mulher lá no estádio. Estava com ela, a câmera me filmou e ligaram pra minha esposa dizendo que eu tinha aparecido na televisão!

- Sim, entendo.

- E aí, ela disse que vai ligar pra vocês pra tentar conseguir a fita para ver se eu estava mesmo com outra mulher.... por isso, quero saber se é fácil conseguir esse material?

- Bem, como eu te disse, não é fácil não. Só em caso de exceção mesmo.

- Então vê se você me entende, meu amigo. Ela está fazendo o maior escândalo e eu tô querendo evitar isso... Eu apareço na volta do segundo tempo. Me disseram que foi rapidinho, tipo uns três segundos... mas tá me dando o maior problema! Será que tem como você pedir ao pessoal aí para não entregar essa fita à minha mulher se ela ligar?

- Amigo, eu não posso pedir isso. Como te disse, é difícil conseguir essas imagens, exige um trâmite meio burocrático. Mas não posso pedir para dificultarem ou facilitarem as coisas...

- Escuta aqui! Eu estava na minha, no estádio de futebol, vocês não tinham nada que estar me filmando!

- Amigo, me desculpa, mas era um jogo transmitindo ao vivo. Há catorze câmeras na arena, apontando para todos os lados. Não era o lugar mais apropriado para quem queria estar escondido, certo?

- ....

- ....

- Bem, ok. Mas tenta ver se minha mulher não tira esse negócio daí, ok? Isso tá me dando o maior problema. Ela tá me ameaçando com isso, não tô nem dormindo direito.

- Valeu amigo, vou ver o que consigo fazer.

- Er... ok. Mas não dá mesmo para... bem... tenta me ajudar aí! tchau.

- Um abraço, tchau.

- Tchau.
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Telefone no ganho. Curiosidade no ar.
- Galera, alguém tá com o jogo do Atlético e Flamengo aí?

- Qual? Dá semana passada?

- É! Me dá só o segundo-tempo por favor. Preciso ver um negócio.

- Taí.
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Botão de Play apertado.
Início do 2o tempo.

As imagens ilustram os balões, a torcida animada, os times voltando para a segunda etapa.

Eis que a câmera enquadra um casal na arquibancada, se beijando.

O narrador exalta:

- Olha aí! Que lindo é o amor! É a paz nos estádios!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Desafio Domino´s

Post copiado de um comentário de MClara, uma leitora muito especial do blog...
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O que irrita mais?

Atendente de telemarketing, que fala no gerúndio e parece um robô, ou atendente de entrega de pizza em domicílio que, por outro lado, é BEM humana, mas não entende NADA do que você fala??

Você liga e diz "Alô, queria pedir uma pizza"

Ela diz "ah, pedir uma pizza? Um momentinho", e te coloca em espera...
Caraca, que frase eu deveria ter dito para que eu não fosse colocada em espera???

Ali não é um lugar criado SÓ PARA PEDIR PIZZA??

Depois que é atendido, você precisa repetir a pizza que você quer mais de 50 vezes até a pessoa entender...

Lanço um desafio a Domino´s: Por que vocês não dão uma pizza de graça se o pedido não for ENTENDIDO dentro de 30 minutos?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Foto-verso

Oscar Niemeyer rabiscou linhas tortas para erguer prédios

Uma nova nação nascia de uma nova capital.

Com construções que dançam,

sem a previsibilidade das retas


Desenhou, também, um singelo pombal

bem na praça dos Três Poderes.

Já devia saber

que o verdadeiro poder

é o de voar.

Almofada de Pandora

Uma vez aberta, a Caixa de Pandora levaria todos os males à humanidade:

A velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão.

Assim dizia a mitologia grega.

Acho que enterraram a caixa muito bem escondida.

Milhares de anos depois, por algum destes ventos do destino, ela veio parar no Brasil.

Mais precisamente na minha casa. Porém, com outro formato.

Disfarçada como uma inofensiva almofada preta.
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Era um presente bacana. O nome oficial, descobri na internet, é ALMOFADA MANIA TUBO PRETA.

Confortável de colocar sob a cabeça, macia, feita de um tecido sintético parecido com tactel. Quando você a toca com a ponta dos dedos, tem a sensação de estar pegando minúsculas bolinhas de isopor dentro dela.

Mas aquele objeto simples tinha algo de estranho.

Comecei a desconfiar pelo cheiro. Um forte odor de coisa tóxica, plástica, artificial.

Quando li a etiqueta, tudo confirmado! Pânico total.

A seguir, a transcrição literal dos dizeres na etiqueta da almofada.
Enquanto lêem, por favor façam a seguinte pergunta: trata-se de um simples objeto de conforto... ou de uma arma de destruição em massa???

Destaque para as instruções marcadas em azul marinho!

Imaginarium

- Esta etiqueta só poderá ser removida pelo consumidor após a leitura.

ATENÇÃO

Esta almofada foi desenvolvida para uso decorativo.

- NÃO É UM BRINQUEDO

- NÃO COLOCAR EM BERÇOS OU AO ALCANCE DE CRIANÇAS

- SUAS MICROPARTÍCULAS PODEM PROVOCAR SUFOCAMENTO

- NÃO ABRIR A ALMOFADA OU ESPETAR OBJETOS PONTIAGUDOS

- SE RASGAR, PROTEJA A BOCA, NARIZ, OLHOS E OUVIDOS.
O MATERIAL PODE SER REMOVIDO DO CORPO LAVANDO COM ÁGUA. EM CASO DE INGESTÃO, PROCURE AUXÍLIO MÉDICO.

- MATERIAL INFLAMÁVEL

- NÃO EXPOR A CHAMAS, CIGARROS OU CALOR EXCESSIVO

- VALIDADE INDETERMINADA
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Trocando em miúdos, concluo que a Imaginarium deveria cobrar "porte de almofada" para alguém retirar a mercadoria da loja!

Penso cá com meus botões... Imagina se algum louco repassou esse objeto para os terroristas da Al Qaeda? Se o homem-bomba, portando uma tesoura, rasgasse a almofada em pleno Times Square, em Nova York! Que tragédia seria!

Outro pensamento que me vem à mente... Imagina presentear algum colega naquelas reuniões de Amigo Oculto de fim de ano? Era mais fácil desejar a morte para o cara!!

Gente, desculpe se estou me alongando muito e sendo repetitivo.... Mas não consigo parar de achar essa etiqueta INACREDITÁVEL!!

Vamos ler bem devagar... "SE RASGAR, PROTEJA A BOCA, NARIZ, OLHOS E OUVIDOS"
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Imagine a cena: A família toda jantando em casa, feliz, sorrindo... Eis que o gato resolve afiar as unhas na bendita almofada.

Tecido rasgado, o pai percebe a hecatombe que acabou de acontecer! Berra, em pânico:
- Todos, protejam-se!!!

Pai, mãe, filhinha mais velha e filhinho caçula se jogam no chão, cobrindo rostos, narizes e bocas enquanto o gato faz cara de ponto de interrogação e a almofadinha continua repousando tranquila no sofá.

- Lourdes!! Liga para o bombeiro, urgente!!!! - Grita o pai pelos buracos dos dedos.

Lourdes, já preparada para tirar a mesa, não entende o porquê de tanta comoção.

- Que que foi, patrão?

-Ahhhh, não!!! Não fique aqui na sala!!! Você está desprotegida!!! Liga logo para os Bombeiros, é uma emergência... Ahhhhhhhhh!!!

Lourdes faz uma rotação de cabeça e examina a sala de canto a canto. Não percebe nada anormal.

- Alô, é do bombeiro? Oi, é que o patrão tá dando chilique. Sei porque não... Mas sempre achei ele muito fresco!
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Ps: o que será que quer dizer a última frase da etiqueta? "VALIDADE INDETERMINADA"

Será que nossa estimada Almofada de Pandora vai sobreviver à Guerra Nuclear juntamente com as baratas?? Aí, estará pronta para assombrar futuras gerações...

domingo, 3 de maio de 2009

Burocracia 3 - Telemarketing

O capítulo 3 da Trilogia Burocracia é dedicada ao Telemarketing e ao Teleatendimento.

Quem nunca se irritou com aquela ligação na pior hora possível e para falar do produto mais irrelevante e desprezível possível?

Quem nunca se aporrinhou com a demora de um telefonema para pedir algum serviço e virar alvo das maiores xaropadas?
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Carro quebrado em plena Praia de Ipanema. Bateria arriou. É preciso dar uma chupeta para o carro pegar e ir até um posto trocar a bateria.

- Alô, é do seguro do veículo? Tudo bem? Preciso de um guincho
- Claro, senhor. Onde você está?
- Na praia de Ipanema, em frente ao Caesar Park.
- Em que cidade, senhor??

((É querer demais esperar de um funcionário de Teleatendimento que saiba que a desconhecida Praia de Ipanema fica no Rio? Estou sendo severo demais? Ou será que é o costume deles fazer perguntas antes de pensar sobre elas?))
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Sonho um dia fazer como o Jerry Seinfeld ensinou em um dos seus "stand-ups" antes dos episódios da série.

Já tive oportunidades, mas tive pena das pobres almas do telemarketing.

Seria mais ou menos assim:

Telefone toca na minha casa no sábado de manhã.

- Alô senhor, tudo bem?
- Quem é?
- Aqui é do cartão de crédito tal, senhor. O senhor estaria interessado nas vantagens do cartão? Posso estar fazendo uma demonstração e explicando pro senhor?
- Não, (morrendo de sono), agora estou ocupado. Faz o seguinte, me deixa o telefone da sua casa. Assim que eu tiver um tempo eu te ligo pra gente ver isso...
- (Envergonhada) Er, senhor... desculpe mas... eu não posso
- Não pode o que?
- Não posso dar meu telefone pessoal, senhor.
- Ah, você não gosta de receber ligações assim em casa né?
- ... Er.. é
- Então você sabe exatamente como estou me sentindo!

sábado, 2 de maio de 2009

Burocracia 2 - Detran

Outro capítulo burocrático da vida urbana são as vistorias do Detran.

Uma vez por ano, lá estamos nós no posto de atendimento. Pagando taxas e tendo o carro examinado.

Falhas na manutenção do veículo são punidas. Você não consegue renovar o documento.

Motoristas relapsos, carros velhos, avariados e esburacados são rigorosamente repreendidos e reprovados.

Se você decidir ignorar a vistoria anual, é um pretexto para ser multado na rua e o governo levar mais uma parte do seu dinheiro.
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Tenho a seguite proposta para as autoridades:

A cada ano, numa data marcada, os cidadãos contribuintes devem sair às ruas para vistoriar cada centímetro de asfalto: ruelas, ruas, rodovias, autopistas.
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Se o cidadão encontrar um buraco, tem o dever de multar a prefeitura no mesmo instante!
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Bloco na mão, canetada! E aí, o município paga uma multa para este sujeito que encontrou o asfalto danificado!
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E aí, prefeitos! Topam?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Burocracia 1 - IR

IR para IRritante!
Abril sempre chega com este brinde que ninguém quer levar pra casa: é o mês de declarar o Imposto de Renda.

Como até assistir ao Globo Repórter falando de floresta amazônica é mais divertido, o cidadão comum tende a empurrar a declaração para os últimos dias possíveis. Digamos que não é muito excitante, além de ser mais uma dessas obrigações do governo.

Em geral, o governo obriga muitas coisas, mas não dá exemplo. É assim também com nossos impostos. Nos cobram muito, mas nós não podemos cobrar nada.

Só pensamos na declaração do IR uma vez por ano. Logo, é comum que o cidadão não se lembre exatamente dos procedimentos. Aconteceu comigo.

Tudo o que eu sabia era que eu queria fazer DECLARAÇÃO DE IR!! E SIMPLIFICADA!!!

Por que será que o programa que devemos "download" chama-se AJUSTE ANUAL E FINAL DO ESPÓLIO??

Cara, passei minutos de angústia até tirar a dúvida de que eu estava preenchendo o programa correto. Onde está escrito que eu tenho que adivinhar essas coisas?

Ah, claro. Por algum desses mistérios, comecei a preencher COMPLETA! Mas eu queria desde o início a SIMPLIFICADA!!! Cadê a opção de mudar??? Não existe!!!

Óbvio que, no fim, pela COMPLETA, eu ainda devia imposto. Tinha de pagar uma bolada! Pela SIMPLIFICADA, eu sabia que teria direito a restituição.

E cadê que eu conseguia passar pra SIMPLIFICADA??

Sabe como que eu consegui? Só após instantes de puro nervosismo e raiva, salvei a declaração preenchida e o próprio programa me alertou:

AVALIAMOS QUE A DECLARAÇÃO IDEAL PARA VOCÊ É A SIMPLIFICADA. DESEJA ALTERAR?

Uh, lógico!!! Era o que eu estava tentando fazer nos últimos 40 minutos!!!!

E pra arrematar: É necessário aquele raio daquele numerozinho para conseguir enviar a declaração! O número do recibo do envio do ano passado! Existe maior burocracia que isso?

Claro, meus dados cadastrais completos não são suficientes para mostrar quem eu sou! É necessário esse numerozinho. Sabe a última vez que eu tive que pensar nele?

1 ano atrás, quando eu estava fazendo minha declaração de 2008.

Onde meti o raio deste número???

Acho que o espírito da coisa é tipo uma gincana!!

- Povo brasileiro, aqui quem fala é o presidente! É o seguinte! Vou destribuir um numerozinho pra vocês, tá? Calma, todo mundo vai ganhar o seu! Não precisa se afobar! A tarefa é guardar esse numerozinho e usá-lo daqui a 365 dias! Tudo bem? Êêeeeee!!! Gostaram da brincadeira, né?!!!

Ou seja, o cidadão tem direito de ir e vir, direito de se expressar, mas não tem o direito de ser bagunçado, desorganizado!

Eu sou, e aí? Deve ser crime! Não lembro onde enfiei o raio deste número!! Não basta dizer meu CPF, RG, CEP E outras siglas?

Não sou sonegador de impostos. Pago-os religiosamente!!! Mas sou bagunçado!! Isso mesmo, confessei. Pronto, falei!

Pensando melhor, está na hora de fazer uma Ode à burocracia!

Decidi tatuar no braço, todo ano, o raio da senha do imposto de renda!! Vou começar amanhã. Bem perto do punho!

Número e ano: 3948488384 - 2009

Daqui a 15 anos, estarei com a parte superior do corpo coberta de algarismos!

Quando me perguntarem, direi: "Isto aqui? É porque nós somos proibidos de esquecer essa droga!!!"

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Epílogo: depois de muito espernear e cuspir marimbondos, mandei minha declaração no último dia do prazo, 30/4, preenchida corretamente. Não tirou pedaço.