segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Com que roupa?

Loja de colchão.

Já passou por uma?

Em geral, paredes brancas, várias camas confortáveis espalhadas pelo recinto.

Uns pôsteres na parede falando sobre ergonomia, a importância de um bom colchão para a coluna, as molas adequadas e os materiais mais nobres.

Aí, por alguma razão misteriosa, o chefe dos atendentes se apresenta usando um jaleco?

Jaleco???

Pô, o cara é médico???

O que eles querem dizer com isso?

Será que o freguês fica mais confortável em saber que há um cientista a bordo, pronto para responder as questões mais esdrúxulas sobre a física e a inércia no ato de deitar?

Ou será que tudo o que o cliente quer ver é um dentista de jaleco branco? Quem sabe um obstetra, caso uma gestante de nove meses seja apressadinha demais para chegar ao hospital?

Deboches à parte, aceito teorias sérias.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quem for pego em flagrante...

Viagem pela região central do Brasil.

Do Rio até Goiás.

Já perto do destino final, o ônibus parou numa lanchonete de beira de estrada.

Ali aconteceu a história que o pai de um grande amigo conta até hoje, quatro décadas depois.

Boteco, garçons, fregueses circulando e indo ao banheiro.

Logo acima do balcão, uma placa dava o alerta aos desavisados:

Quem for pego em flagrante será expulso do recinto!

Ninguém podia reclamar. Estava bem claro ali.

Não dava pra acusar o pequenino estabelecimento de vista grossa, negligência ou afins.

Se for fazer, faça direito. Não deixe ninguém perceber.

Porque no caso de flagrante, expusão do recinto! Na hora! Sem conversa!

Estamos entendidos? Flagrante igual a expulsão. E ponto final.

E todos os viajantes ficavam por ali, esticando as pernas, espreguiçando e pedindo uns comes e bebes. Mas todos cientes do decreto. Não iam se meter à besta.

Fim dos 30 minutos de parada, todos para o ônibus.

O pai do meu amigo foi deixando o restaurante, de costas para a placa que nunca mais veria.

Foi quando caiu a ficha.

Flagrante de quê???

Explosão, intervalo e censura

Hoje fiz besteira no trabalho.

Nada grave.

Aliás, todo mundo que trabalha com texto pra televisão está arriscado a escrever uma asneira para telespectadores do Brasil inteiro.

Alguns erros de informação passam pela nossa revisão. Mas, hoje, o problema não foi propriamente um erro.

Na TV, muito se diz sobre o casamento entre texto e imagem.

Texto e imagem precisam se complementar para formar uma idéia. Ou precisam se relacionar, mesmo de modo incomum, para produzir algum sentido.

Hoje, uma idéia ruim e mal executada culminou em algo bizarro, totalmente nonsense.

Atribuo o fracasso ao não-cumprimento de uma regra básica da cartilha do texto criativo: "Explosão, Intervalo e Censura".
----
O texto dizia: "O destino faz farra! Depois do sorteio dos grupos da Liga dos Campeões, Kaká vai ter que entrentar logo o ex-clube, o Milan, onde se consagrou!"

No trecho "O destino faz farra", cobri com a seguinte imagem: duas mãos controlando uma marionete, onde se via apenas o close dos dedos, as duas palmas e as cordinhas, mas não os fantoches.

Minha intenção era passar a seguinte mensagem: "O destino é um brincalhão! Mexe conosco como se fossemos bonequinhos. Botou o Kaká para enfrentar justamente o ex-clube! Que ironia!"

Pois não consegui. Foi ao ar uma mensagem indecifrável, nonsense mesmo, digna de risadas e da exclamação do chefe: "Que imagem era aquela, André?"

Que raios eram aqueles dedos toscos seguidos pela cena do Kaká com a camisa do Real Madrid?

Restou-me concordar e admitir que não ficou claro.
---

Fugir do lugar-comum, das idéias fáceis e dos textos que vêm automaticamente à cabeça requer esforço. Porém, o processo criativo, necessariamente, precisa de três etapas: "explosão, intervalo e censura".

1- Explosão: Permita-se pensar nas idéias mais esdrúxulas, sem contê-las. Até as que pareçam mais estranhas. Este fluxo costuma ser arrebatador, e em geral provoca, também, grande empolgação. Tudo deve ir para o papel, sem julgamentos, sem filtros.

2- Intervalo: Espere alguns minutos, de preferência fazendo outra coisa. Nada de pensar no texto. Isso é necessário para separar o Eu-criativo do Eu-censor. Como comer gengibre no restaurante japonês para neutralizar o sabor do peixe e preparar o paladar para o próximo.
.
3- Censura: É hora de reler o texto. Ver se a imaginação não teve asas demais. Ver se não ficou "over", se vai ser compreendido pelo leitor ou telespectador. Constatar se a idéia em estado bruto não era politicamente incorreta, de mau-gosto ou ofensiva para alguém. É hora da avaliação geral, que pode incluir fazer o que todo escritor odeia: jogar fora uma boa idéia.

Se a pessoa não se permite ter idéias bacanas, vai escrever um texto burocrático, funcional, acomodado e sem sal.

Se ela não passar pelo estágio de revisar as próprias idéias, corre o risco de exagerar, de errar a mão.

Hoje, meu pecado foi o segundo. Por causa da correria, não tive tempo de fazer essa auto-crítica. E o que foi ao ar foram imagens mais pertinentes no imaginário do André do que no mundo real.

Adaptando um clichê a este contexto, aconselho:

Para não deixar que um sonho vire realidade (pelo menos o sonho no seu sentido mais livre e delirante), não fuja à regra: Primeiro deixe tudo vir à tona. Espere. E censure.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Até a Charlotte consegue


Comprou algo e se arrependeu?

Ferrou.

No Brasil, é quase impossível você conseguir seu dinheiro de volta caso, simplesmente, desista de adquirir algum produto.

Tenho a impressão de que há essa diferença entre o conceito de "consumo" entre os países de terceiro e de primeiro mundo.

Não gosto de generalizar. Mas a comparação fica bem clara quando colocamos, lado a lado, os direitos do consumidor no Brasil e nos EUA, o paraíso das compras.

Lembro bem.

Eu tinha uns 16 anos e estava de férias nos Estados Unidos. Comprei uma fita de videogame sem pesquisar os preços. Descobri que a mesma fita estava 15 dólares mais barata em outra loja.

Fiquei com muita raiva, mas meu irmão Ricardo deu a dica:

"Pô, vai na loja e pede o 'money back'. Pega esse dinheiro e compra na loja mais barata. Simples!"

Eu e ele fomos à loja de brinquedos careira. Cheguei até o balcão e perdi a coragem. Travei.

- Pô, Ricardo. Não vou pedir money back. A caixa vai me perguntar o porquê. Se o produto tem algum defeito. Se vou continuar comprando aqui na loja. Não rola!
- André, pede logo essa droga! Ela não vai perguntar nada!
- Cara, vai sim. O que eu vou dizer pra ela?

Sou uma pessoa de dilemas. Empaquei como um burro medroso.

- Não acredito, André. Pede logo! Estamos perdendo tempo!
- Será, cara? Ah, deixa isso pra lá. São 15 dólares.
- Putz, pede logo, vai, que saco! É só falar pra ela que quer o dinheiro de volta!!
- ...
- Não acredito, cara. Não acredito. Vai logo, a gente tem que ir!

Naquele exato instante, passou à nossa direita, na altura de nossas cinturas, uma pequena menina loira e com aquela cara bem de gringa. Chegou-se ao balcão e falou com a atendente. Queria devolver um briquedo que tinha comprado.

- Hi, can I please have my money back?
- Sure! what´s your name, dear?
- Charlotte.

A atendente pegou o produto e a nota fiscal, abriu o caixa e começou a contar.

10, 20, 30 dólares e 45 cents. Devolveu tudo à garotinha. Charlotte pegou o dinheiro, disse thank you, pôs no bolso e foi embora. Sumiu de nossa vista.

Ricardo a viu fazendo a curva para fora da loja e olhou pra mim:

- Viu, André! Até a Charlotte pede o money back!

domingo, 23 de agosto de 2009

Repetir e repetir


- Obrigado por ligar para o serviço de atendimento ao cliente TIM, Janusa na linha. Essa convesa está sendo gravada para sua própia segurança. em que posso ajudar?
...
- A TIM agradece a sua ligação, uma boa tarde!

---

- Obrigado por ligar para o serviço de atendimento ao cliente TIM, Janusa na linha. Essa convesa está sendo gravada para sua própia segurança. em que posso ajudar?
...
- A TIM agradece a sua ligação, uma boa tarde!

---

- Obrigado por ligar para o serviço de atendimento ao cliente TIM, Janusa na linha. Essa convesa está sendo gravada para sua própia segurança. em que posso ajudar?
...
- A TIM agradece a sua ligação, uma boa tarde!

--

Repetir. Repetir. Repetir. Repetir. E repetir. E repetir. E repetir. De segunda a domingo. Repetir. Repetir. E repetir. De nove às dezoito. Repetir e repetir.

Algumas profissões são vítimas do sequestro da inspiração. Não é permitido pensar, não é permitido criar nada. Nada de improviso, só vale seguir as regras. E repetir. E repetir.

São pessoas por acaso. Fossem máquinas, daria no mesmo.

Como deve ser gigantesca a frustração dessa gente que trabalha repetindo palavras.

A rotina já é insuportável para muitos.

A rotina dentro da rotina deve ser algo enlouquecedor.

Pessoas que trabalham no telemarketing, pessoas que atendem nos guichês de banco, nos caixas de lanchonetes.

Quantas vezes ao dia uma caixa de supermercado deve dizer "bom dia" e "boa tarde"? Para saudar e para se despedir.

E o ascensorista, quantas vezes deve dizer "desce" e "sobe" a cada expediente? Talvez umas 300?

Quando eu era adolescente, jogando um jogo de computador, aprendi um termo para designar algo que já tinha percebido fazia tempo:

"Saciação semântica"

Nada mais é do que repetir uma mesma palavras tantas vezes até que ela pare de fazer sentido.

Toda criança já brincou disso.

Se não brincou, podemos tentar agora.

Vamos repetir a palavra caneta em voz alta, de forma sonora, pronunciando cada sílaba.

Não dá pra escapar. Chega um momento em que CA-NE-TA não quer dizer nada a não ser três fonemas colados um no outro, aleatoriamente, sem propósito.

Quando esgotamos o sentido de um vocábulo através da repetição, surgem os questionamentos mais filosóficos:

- Quando é que caneta passou a designar um objeto que escreve? Por que? E como é que eu passei minha vida inteira aceitando o sentido da palavra CANETA, sem perceber seu vazio de significado, sem estranhar esse obscuro encontro de letras?

A repetição é inimiga da sensibilidade. É como as mãos calejadas e embrutecidas do camponês cansado de arar a terra.

A palavra, repetida, perde sua única função: Transmitir significado.

Repetida, não vale nada. Não tem sentido. Nada mais é do que uma maçaroca sonora soprada ao vento.

E é por isso que temo pelas pessoas que ficam escravas da rotina falada.

"Boa tarde, posso ajudar, boa noite, obrigado por ligar, bom dia!"

Faladas tantas vezes, não querem mais dizer nada.

Quantas horas por dia a funcionária do supermercado passa repetindo e repetindo?

Vivem o vazio todos os dias, todos os minutos.

No vácuo das palavras repetidas, temo, perdem também o sentido das próprias vidas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Choque de ordem

Na cidade do Rio, tá na moda.

"Choque de ordem".

Desde que o novo prefeito assumiu, vem fazendo blitzes pela cidade e multando tudo o que é irregular: Carros parados em calçadas, acostamentos, lugares proibidos.

Multas e reboques.

Motos também. São todas carregadas no guincho.

Tá tudo certo, boa parte dos "cidadãos" do Rio estava precisando mesmo dessa chacoalhada.
.
Muitos bobalhões da classe média ficaram acostumados, após anos de impunidade, a prestar atenção no próprio umbigo e mandar um Éfe-se para os demais cariocas.

Muitos cometiam a bandalha e ainda agiam como se estivessem certos.

No acostamento, por exemplo. Quantas vezes não coloquei meu carro propositalmente fechando a passagem para que os espertinhos não tivessem caminho livre.

O que ganhei de volta? Faróis piscando, xingamentos com palavras e com dedos.

Até isto o choque de ordem está punindo. Apressadinhos no acostamento estão sendo multados.

Palmas para a iniciativa.

Porém, ah porém.

Há uma grande, enorme contradição nesses procedimentos do choque de ordem.

É a seguinte: As ruas e autoestradas do Rio de Janeiro foram construídas numa época em que a quantidade de carros era, no mínimo, dez vezes menor do que a atual.

Nas décadas de 50 e 60, quando as principais vias da cidade foram abertas, não era possível imaginar que cada cidadão da classe-média-alta teria um carro, e que boa parte das pessoas de classes mais baixas também teriam automóveis.

Aqueles eram os áureos tempos de um Rio de Janeiro utópico, charmoso e com vocação para um futuro bacana.

Veio a explosão demográfica. Agora tem gente pra todo lado. Comprar carros ficou mais barato para essas milhões de pessoas. E, obviamente, a infraestrutura urbana não acompanhou o crescimento populacional.

Vejo muitos guardas e policiais multando pessoas que param seus carros em qualquer canto.

Mas será que há um controle da quantidade de carros que são feitos e despejados no mercado?

O Estado e o Município arrecadam com a multa aos infratores. Ok.

E também ganham muito dinheiro com os impostos pagos pelas indústrias automobilísticas, faturam fortunas dos bolsos dos motoristas que pagam IPVA.

Mas não deveriam também fazer um levantamento para saber quantos carros e veículos as ruas do RJ são capazes de comportar?

Para o governo é fácil. Lucram com as montadoras, lucram com os impostos, lucram com as multas de estacionamento irregular.
.
E na cidade, NÃO HÁ MAIS ESPAÇO PARA TANTO CARRO!!!

Na minha opinião, deveria haver uma política radical semelhante à do filho único chinês. No país asiático, cada casal só pode ter um filho porque já existem chineses aos bilhões.

Aqui no Rio, e em outras cidades do Brasil, só deveria ser permitida a circulação de uma quantidade X de veículos.

Quando o governo vai trocar o lucro fácil por beneficiar, de verdade, a cidade?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Foto-verso

Não ligo.

Se está vermelho,

sigo.

Se está verde,

paro.

Amarelo,

meu caro,
.
improviso.

Subversivo,

sem planos,

sem rumo,

imprevisto,

Na hora eu vejo,

que bicho vai dar.

Cuspindo no prato

Notícia: "Dilma Roussef teria pedido a fiscal da Receita Federal para arquivar as investigações às empresas de Sarney Filho"

Reação do Presidente: "A imprensa fica enchendo os noticiários de besteiras e, assim, perde credibilidade. O país tem coisa mais séria pra se preocupar".

Minhas reflexões:

Afinal, temos um presidente ou um ditador?

Numa ditadura, o regime autoritário estabelece o que interessa ou não interessa à nação, doa a quem doer.

No regime presidencialista, não deveria ser o próprio país a decidir com o que deve se preocupar ou não?

Quem manda numa democracia não são as suas partes componentes? A opinião pública, a imprensa, a sociedade?

Caro presidente: a nós nos preocupa, e muito, o jogo de interesses que rege o país, e nos interessa muito descobrir como são feitas essas artimanhas por baixo dos panos.

Um líder que diz "o país tem coisa mais séria pra se preocupar", principalmente quando o assunto em questão envolve a candidata do governo à sucessão presidencial, revela não apenas má fé e uma dose de canalhice.

Traz à tona a covardia de quem se aproveita da privilegiada posição hierárquica para tentar impedir que maracutaias apareçam. Mostra também a arrogância de quem pensa que tem a palavra final sobre todas as questões do país.

Como eu gostaria de voltar três décadas no tempo e ver como o Lula sindicalista reagiria quando, de megafone na mão e multidões à sua escuta, o presidente militar dissesse:
.
"Ah, essa causa do barbudinho do ABC??? Deixa pra lá! O país tem coisa muito mais importante pra se preocupar.!

Escada rolante

Tenho medo da escada rolante do shopping aqui do lado de casa.

Como nunca ninguém percebeu isso?

É um convite à tragédia!

Será que nunca aconteceu nada?

Pela quantidade de gente que circula todos os dias, realmente o número deve ser baixíssimo.

Eu, por exemplo, nunca ouvi falar de acidentes ou mortes ali.

Disfarçadas de coisa inofensiva, as escadas rolantes do shopping se cruzam num vértice fatal.

Fruto de uma obra antiga (que certamente não seria aprovada nos projetos mais modernos), elas formam um "X", uma subindo e a outra descendo.

A imagem que me apavora (mas que até hoje não aconteceu) é a de alguém deixando um membro pra fora da escada, distraído, enquanto o encontro com a outra escada se aproxima.

Como disse, nunca vi uma tragédia. Mas vi "quases"...

Já vi uma vendedora de loja gritando para a amiga que estava no piso inferior. Enquanto o degrau em que ela estava subia, ela mantinha a cabeça pra fora do corrimão da escada, gritando sorridente e caçoando da amiga.

Não percebeu que o batente da outra escada se aproximava lentamente da sua nuca.

Uma aflição. Quase um filme de terror. Felizmente, recolheu o pescoço sem, talvez, nunca ter notado o risco que correu.

Outro dia, uma menina foi ajeitar a fivela da sandália no calcanhar. Enquanto isso, lógico, deixou o braço para o lado de fora, descuidada. Como estava perto, resolvi advertí-la:
.
- Cuidado! - gritei, apontando para o braço. Ela levou um susto e puxou rapidamente, antes do encontro com o vértice das escadas.

Na placa logo na entrada da esteira rolante, vários avisos: Dê a mão para as crianças, cuidado com vestidos longos... mas nada sobre deixar mãos e cabeças desavisadas pendendo do corrimão negro.

Exagerado. Talvez eu seja.

E prefiro continuar sendo.

Sabe aquele prazer secreto que temos de ver uma catástrofe se confirmar, sobre a qual alertamos com antecedência?

Pois é. Neste caso, recuso. Não, obrigado.

Não quero, nunca, ter que dizer: "Eu disse, não disse?"

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Abraçando o desencanto

G/ D/ EM/ A

Bm/ Cm#

Para quem sabe tocar algum instrumento musical, as letras e barras acima querem dizer muito.

E não precisa ser um especialista não. Basta saber arranhar um pouquinho de violão ou piano.

Letras como aquelas são a chave da fechadura.

Uma vez aberta, a canção ganha outro significado.

Traz satisfação e prazer. Mas desvendar o segredo é, também, abraçar o desencanto.
---
.
Gê, dê, E-ême, A.

Bê-ême, Cê-ême jogo da velha.

Nada mais são do que os acordes de uma melodia.

Em outras palavras, Sol, Ré, Mi menor, Lá. Si menor e Dó menor sustenido.

Aprender a tocar uma música provoca uma sensação engraçada.

Em geral, quando desperta-se o interesse de se conhecer os acordes de uma melodia, é porque a canção encanta, fascina.

Amar uma música é como se apaixonar. O ritmo e o fraseado musical não têm defeitos. É possível, através dos ouvidos e do coração aberto, tocar a inspiração do compositor com os dedos.

O contato é imediato e verdadeiro.

Curtir uma música é ter vontade de cantá-la a plenos pulmões.

É duvidar, por um instante, da capacidade do autor de tê-la escrito.

- Como é possível esse fdp ter criado isso?

É suspirar quando ela começa, vibrar enquanto ela soa e expirar de satisfação quando toca o último acorde. Ouvir a música favorita (nem que seja a favorita do momento) é se realizar.

Beber a canção é revigorante. Esquece-se dos males por breves minutos. Os alto-falantes a todo volume silenciam os problemas do mundo.

Seduzido pela melodia, o aprendiz de música decide: vou aprender a tocá-la.

Pouco a pouco, começa a dedilhá-la nas cordas do violão, decorar as notas musicais.

Pouco a pouco, mergulha-se no território que ainda não tinha sido conquistado.

Mas estes instantes do aprendizado são os exatos momentos em que o encanto vai indo embora.

Claro, a canção ainda é maravilhosa. Claro, o autor ainda é objeto de veneração.

Mas dominá-la faz parte do feitiço ir embora.

Em vez do êxtase, o costume.

Um acorde a mais, mais um pouco de desilusão

Em vez da magia de antes, fazer a melodia soar de seus dedos a faz parecer terrivelmente mundana.

Quando se desvendam seus acordes, surge a certeza: não é de outro planeta. É humana.

Pronto. Abraçou-se o desencanto

Quando a música toca de novo, não é mais a mesma.

É linda, mas não tem aura divina.

Portanto, a busca por letras como G/ D/ C/ A deve-ser feita com muita convicção.

Começar a decifrar essas estrofes é um caminho sem volta.

http://www.youtube.com/watch?v=k-YIizsMrSE

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Mais uma do Dave


Trechos da música YOU NEVER KNOW ("Nunca se sabe")
Dave Matthews Band, disco 'Busted Stuff'

"Talvez um dia, a gente descubra

fazendo nada, respirando por respirar,

talvez neste dia,

a gente encontre o sentido de tudo!"


"Acelerar demais: eis o que está errado com o mundo!

Não perca os sonhos de dentro da cabeça.

Só estarão lá até você morrer.

Sonhe, querida, sonhe!"


"Deitado no telhado,

contando as estrelas que voam no céu.

Fico imaginando,

será que tem alguém lá olhando pra mim aqui embaixo?

Nunca saberei...

Há muito espaço para se acreditar!"


"Engraçado quando você é pequeno,

a lua fica seguindo o carro.

Não há ninguém na estrada além de mim...

Ei, a lua está me perseguindo!"


"Todo dia deveria ser um dia bom para morrer.

Tudo cai,

não vai demorar muito,

todo fogo acaba,

acho tão difícil explicar como vim parar aqui...

Acho que consigo! Acho que consigo!!

Hmm.. pensando bem, não estou tão certo disso.

Sonhe, querida, sonhe!"
-------

Esse é um cara que sabe compor canções lindíssimas.
Música e letra é com ele. Sou fã!

E olha que esta nem é uma das mais famosas dele. Longe disso!

Atenção para a melodia do refrão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Número 881

Estico a mão e apanho um papelzinho.

Tenho meu número de senha na mão: 881.

Espero um pouco e acende a luz do mostrador digital;

881. É a minha vez.

Estou no caixa do banco pagando contas e depositando cheques. Uma ação nada prazerosa, tão monótona quanto uma fila silenciosa, burocrática como a função do bancário que senta atrás do guichê, contando dinheiro e passando recibos o dia inteiro.

Nada contra a profissão. É tão digna quanto qualquer outra. E muito necessária também.

Apenas o ambiente do banco é maçante, chato demais.

E não é que essa apetitosa rotina dos bancos foi incorporada por alguns restaurantes?

Quem será que teve a brilhante idéia de associar o enfado bancário ao ramo gastronômico? Certamente, não entende nada sobre o inconsciente humano!

Pois há vários restaurantes de comida rápida que já adotam o esquema de senhas para atender os clientes. Claro, tudo em nome da organização!

Mas não bastasse o processo dos numerozinhos, os estabelecimentos estão usando, também, o tal painel eletrônico para chamar o freguês.

Não sei qual a opinião de vocês, mas eu bato o olho naquele negócio e penso: "Banco! Fila! Chatice! Mau-humor!"

Perdi o apetite.

Por que será que o homem abre mão da sua sensibilidade em nome do pragmatismo? Será que, por mais que o esquema de senhas funcione bem, o cara não percebeu que aquilo remete a um universo chatíssimo?
.
E logo no ramo de restaurantes e alimentos, onde as mensagens subliminares são conhecidas por atiçar as pessoas.

Por exemplo, dizem que a cor vermelha é excelente para lanchonetes, comidas e bebidas. Estimulam a gula. Será que Coca-cola e McDonalds são líderes de mercado por acaso?

Enquanto Coke e Mc vendem como nunca, algumas lojas estão aí vinculando suas marcas ao tédio bancário.

No restaurante das senhas, provavelmente o atendimento seria assim:

-Próximo! - grita o funcionário.

(já perceberam como a palavra mais burocrática da língua portuguesa deve ser esse tal "próximoooo", que gritam os que trabalham em caixas e guichês? A palavra é repetida várias vezes por dia, sem ênfase e sem vida, automática como a voz dos caixas eletrônicos).

- Sou eu! Número 881!

- O que o senhor vai querer?

- Eu? Uma comida bem burocrática! Arroz, feijão e carne. Tudo sem tempero e sem sal. E bastante chuchu, por favor.

- Ok. Alguma bebida?

- Água. Água pura da montanha. Inodora, incolor e insossa.

- Ok. Sobremesa?

- Sim. Gelatina sem açúcar.

- Ok. 12 reais e 34 centavos.

- Tudo bem. Aqui estão as moedinhas. Centavo por centavo.

- É só aguardar, senhor. Obrigado por escolher jantar aqui. Número 882! Próximooooo!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Twitter: não tenho

Ranzinza.

Uma boa palavra pra me definir quando trato de alguns temas.

Um deles: twitter.

Tenho 28 anos. Uso o computador desde os 14. Conheço a Internet desde os 16, acho.

Mas sinto que tenho a mesma intolerância com o Twitter que a maioria das pessoas de idade têm com o mundo digital.

A verdade é que tenho birra mesmo. Aversão. Não gosto e nunca gostei.

Impliquei de primeira.
.
Logo quando começaram a falar de Twitter (tão recente, no fim do ano passado), torci o nariz.
.
Muitos podem dizer: "Ah, é porque você ainda não entrou! Quero ver você manter a opinião depois que se cadastrar!"
.
Admito que grande parte dos nossos objetos de implicância são assim. Desdenhamos, protestamos, mas acabamos aderindo.
.
Acabamos virando casaca.

Mas minha antipatia pelo Twitter não se renderá.

E começo a defesa dos meus pontos de vista, ironicamente, destacando o lado positivo da nova ferramenta.

Há muitas qualidades nele!

É rápido e preciso. As notícias circulam numa velocidade maior do que nos sites jornalísticos.

No dia da morte do Michael Jackson, quem usa a página de relacionamentos já sabia 3 horas antes de os canais de televisão bancarem a informação.

A concisão é seu maior trunfo. 140 letrinhas e espaços para dar o seu recado. Quem tem tendência a elaborar demais, escrever demais, como eu, é peixe fora d'água.

Se você também é muito prolixo, o Twitter tem um símbolo que nos retrata bem. Somos o "Fail Whale", uma baleia pesada e antiquada, ícone que aparece na tela quando o site sai do ar.


Somos o contrário do passarinho lépido e gracioso, figura-logotipo do Twitter, marca dos usuários da rede dos recadinhos curtos.

Para virar membro, é preciso ser objetivo, saber resumir e passar a mensagem com apuro.

Claro, twittar é importante também para mudar o mundo. No Irã, grande parte das imagens dos protestos contra a eleição fraudulenta de Ahmadinejad apareceu nele.

Os usuários se avisavam dos lugares de risco a passeatas e manifestações, alertavam para os pontos de Teerã que estavam infestados da polícia repressora. Uma ferramenta democrática.

Palmas, palmas ao Twitter!

Mas com ressalvas. Muitas ressalvas deste mal-humorado que vos fala.

O que me incomoda não é tanto a funcionalidade do site, que serve para fazer circular tantas informações bacanas, mas sim o conceito que está nele.

O Twitter nada mais é do que um espaço plural demais para mil vozes que interagem o tempo todo. É como uma grande sala onde todos gritam e ninguém se escuta de verdade. Impossível prestar atenção nos outros, devido à quantidade de "posts" diários de cada membro.

Além disso, acho que no coração do Twitter está o caráter descartável dos nossos tempos. Descartável e apático. Todos nós podemos passar nossas existências inteiras como o usuário-padrão do Twitter: dizendo um bando de bobagens pra serem jogadas fora, para serem substituídas no dia seguinte, na hora seguinte, no instante seguinte.
.
Nossa sociedade contemporânea sem ideologias cria um bando de acomodados sem desejo de criar nada que dure de verdade.

Nós, ocidentais do século XXI, nos contentamos, muitas vezes, em viver sem elaborar pensamentos, sem mergulhar na autocrítica, sem tentar enxergar o mundo.

Uma passividade que funciona, diariamente, como um reloginho de palavras curtas sem aspiração a nada mais importante, a nada mais profundo. Um dia-a-dia que se repete, se repete, sem crítica e sem sal, até que a pilha acabe.

O que me incomoda no Twitter é a falta de ambição... é a falta de pretensão à posteridade.
.
Conquistar a posteridade, penso eu, está na essência do ser humano.

Como o homem é mortal, ele tenta se perpetuar por gerações através de seus feitos, da sua arte, das suas criações.

Pra quê tirar foto de um aniversário com a família toda reunida? Para que os tataranetos possam olhar para o retrato e se lembrar dos ancestrais.

Por que os Beatles compuseram tantas músicas belíssimas? Além de ganhar dinheiro, para que nossos descendentes cantem "Let it be" daqui a 200 anos e se lembrem de Lennon e McCartney.

Por que Michelangelo teve um ataque fulminante de realização e júbilo quando terminou de esculpir o Moisés, e tirou uma lasca de mármore do joelho da estátua num rompante incontrolável? Porque percebeu que viveria eternamente através da perfeição daquela obra.

- Por que não falas??? - Berrou o artista para a escultura, maravilhado com o resultado.

O ser humano tem sede de posteridade. E não é preciso ser gênio como Michelangelo.

Com este blog, tenho profundo orgulho dos leitores que recebo aqui. E vou acumulando, um a um, os posts que escrevo.

Estão todos aí, do lado direito, organizados em ordem cronológica, ao alcance de qualquer clique do mouse.

Quem sabe, daqui a muitas décadas, estes escritos não signifiquem alguma coisa para meus netos?

O Twitter não. O Twitter não tem o mesmo tesão. O Twitter se satisfaz em migalhas de letrinhas diárias que se perdem no tempo. Frases ao vento sem esforço, sem finalidade, que se empilham e acumulam poeira.

É a pomada paliativa que satisfaz momentaneamente, mas não aplaca a dor da busca pelas verdades do mundo.

O Twitter é o chopinho do fim do dia, o papo-furado, a risada fácil, a piadinha da moda. Divertido, é verdade. Mas raso, ilusório e passageiro.

Para voar de verdade, não use as asinhas da ave risonha do Twitter.

Infelizmente, os vôos de verdade são mais difíceis, mais angustiantes, mais trabalhosos. Mas muito mais recompensadores.

sábado, 8 de agosto de 2009

Parada programada


Para manutenção... de idéias!

Muito obrigado a todos que visitam o blog!!!

Segunda-feira volto a postar!!

Abração e beijos!!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Bacanas x Vilões

Passei agora há pouco em frente a um restaurante que tinha o cardápio exposto na vitrine, escrito com giz no quadro negro.

"ARROZ AGREGA" era um dos destaques, em letras maiúsculas.

Fiquei pensando:

Tem razão. Arroz agrega mesmo!

Feijão também agrega. De boa paz, vai bem com qualquer comida.

E quais seriam os pratos que desagregam?

Acho que a macarronada à bolonhesa desagrega. Só aceita exclusividade, não divide o prato com outros alimentos, como feijão e arroz, salada, polenta, batatas...

Sushi também desagrega, mas por outro motivo: Desagrega os grupos sociais, já que sempre tem alguém que não come comida japonesa.

- Galera, vamos comer um sushi?
- Ah, mas o fulano não come peixe cru!
- Então vamos no restaurante a quilo mesmo.

Comidas temperadas com alho desagregam muito! Não dá pra ficar perto de um cara que acabou de comer alho. Espanta até vampiro.

Entre tranquilões e agitadores, pacifistas e terroristas, gregos e troianos, fico com o prato de arroz mesmo.

Abaixo aos baderneiros!

Escolha arroz. Arroz agrega.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mente infantil

Desembargador: magistrado de mais alto grau, sinônimo de status, referência de qualidade e renome no Direito.

Pois, quando criança, eu associava uma imagem bem particular a esta palavra tão nobre.

Toda vez que ouvia alguém falando em "desembargador", imaginava aquele cara com a testa suada, roupa esfarrapada, fazendo força e tirando sacos e pacotes pesados dos navios.

Na minha mente infantil, o cara estava "desembarcando" as coisas.

Confesso: até hoje, às vezes, me pego pensando que desembargador trabalha no cais do porto.

Espelho meu

Quantos tem na sua casa?

Dois? Três? Talvez mais?

Na minha tem, entre grandes e pequenos, cinco.

Um pra fazer a barba no chuveiro, um portátil, um sobre a pia do banheiro e dois grandes de corpo inteiro.

Isto porque meu apartamento é pequeno, quarto e sala.

Conte os da sua casa? Quantos espelhos há?

Incrível como é desses objetos que nem percebemos mais. Tem tantos por aí.

No elevador, espelho. No carro, espelho-retrovisor. No banheiro, espelho. Na bolsa de mulher, espelho. Pra servir de decoração, espelho. Dá a impressão que o ambiente é maior, provoca sensação de amplitude.

Pra que tantos?

Vamos desconsiderar a fissura geral no próprio ego que marca os tempos atuais, ok? Sim, a cultura vigente de ode à beleza impossível faz com que todos nós sejamos, em maior ou menor grau, escravos do espelho.

Mas eu gostaria de ir mais fundo na questão. Narcisismos à parte.

Para isso, pego carona numa frase de um livro que acabei de ler, 'Diário de Fernando'.

Uma obra compilada por Frei Betto, da época em que ele esteve preso durante a ditadura militar brasileira. Ele e um grupo de frades dominicanos, que acolhiam e ajudavam jovens comunistas "subversivos", foram torturados pelos militares em 1969 e ficaram encarcerados até 1973.

O livro é a reprodução do diário de Frei Fernando durante os quatro anos de cárcere. Escrevia letras minúsculas em papéis de seda, os enrolava e os escondia dentro de uma caneta Bic opaca. Assim, conseguia driblar a fiscalização dos carcereiros e passava as páginas discretamente, quase toda semana, para os parentes e amigos que iam visitar.

Em meio às torturas, à vida deprimente, à solidão e a todas as privações da cadeia, Frei Fernando dedicou algumas páginas de seu diário para falar de um espelho.

No cotidiano, um objeto tão banal. Na prisão, a falta dele trouxe à tona o grande valor que tem para a vida humana.

As palavras de Frei Fernando não são exatamente estas, mas ele escreveu algo assim:

"Por causa do castigo, ficamos duas semanas na solitária. Sem direito a ouvir rádio, a tomar banho de sol, a receber as visitas semanais. Quando passaram os quinze dias, fui ter acesso a um espelho de novo. Incrível como nossa memória não guarda o nosso próprio rosto. O espelho é fundamental para mantermos a nossa auto-estima. E na cadeia isso já é um exercício bem difícil."

Fiquei encantado com este trecho. Eu nunca tinha pensado no objeto desta forma. Talvez, como nunca senti a falta dele, não havia percebido essa aura vital. Nunca tinha notado como o espelho está ligado à nossa essência.

É verdade, e é bem óbvio também. O espelho nos devolve a nossa identidade.

Da mesma forma, a convivência com outras pessoas nos devolve nossa sanidade.

Quando um homem fica um longo período isolado dos outros, tende a ficar louco. As outras pessoas servem de referência, de parâmetro. Quando nos encaixamos na sociedade, sabemos que somos sãos.

E um homem que permanece um longo tempo sem ver o próprio reflexo? Perde a identidade, se perde em si mesmo.

Não precisa ser estes espelhos industrializados que estão por aí. Os índios e os homens das cavernas conheciam as próprias feições nos reflexos da natureza. Na água, nas pedras, nos cristais.

Tinham a noção da própria massa corporal, do próprio tamanho em relação aos demais e ao mundo.

No palácio de Versalhes, uma das construções mais suntuosas da humanidade, o salão principal chamava-se "Sala dos Espelhos". Símbolo de todo o poderio e luxo de Luís XIV, monarca que dizia ser tão fundamental quanto o Sol para o povo francês.

Todos os visitantes do rei ficavam maravilhados. O lugar dava a sensação multi-olhos de que todos podiam ser vistos por todos os ângulos. Ficava a impressão de que a sala não tinha fim.

Usando um pensamento matemático simples, chegamos ao cerne da questão: Se os espelhos do palácio representam o poder, o luxo, o ego e o infinito, o que representa, então, uma minúscula cela de cadeia onde não se vê o próprio reflexo? No cubículo sujo e claustrofóbico estão a miséria, a penúria e a angústia.

- Quem sou eu? De onde vim, pra onde vou? - pergunta-se o homem desde que tomou consciência da própria existência no planeta. Até hoje não desvendamos este mistério. Sem um espelho, o enigma é ainda mais aflitivo.

O objeto é sinônimo de tantas idéias:

"Estou de bem com o espelho!"; ele é nossa auto-imagem.

"Não consigo me olhar no espelho depois dessa!"; ele é nossa consciência.

"Meu avô serve de espelho pra mim!", significa 'exemplo'.

"Esse espelho d'água é uma beleza!", significa "tranquilidade e equilíbrio".

Ele está em todas. E por estar em todas, está dentro de todos nós. É essencial para nossas vidas. O humano é o único animal sobre a Terra que não pode viver sem ele.
---

Espelho, espelho meu... dê me respostas!

Você não serve apenas para devaneios fúteis, para retocar a maquiagem, para uma viagem rasa na própria aparência! A sociedade de hoje vive de retoques e operações plásticas pra te agradar!

Espelho, espelho meu...

Quando olhamos nossa própria face, mergulhamos no nosso interior.

Quando te encaramos, nos revelamos. Brotam nossas fraquezas, vêem à tona nossos sentimentos, traduzidos no sorriso-colgate ou no olhar magoado.

Quando te fitamos, surgem os questionamentos, as dúvidas. Descobrem-se os próprios princípios, os valores, a ética.

Políticos, mirem-se no espelho! Autoridades, olhem-se no espelho! Cidadãos, mirem-se no espelho! Será que tem vergonha nessas caras?

Quem olha no espelho vê a si mesmo, e enxerga também toda a humanidade.