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Escrever por instinto, impulso ou prazer. Sem rotina.
Incrível uma letra que contraria a realidade mais concreta que conhecemos: Nós existimos!
E só existimos porque temos corpo. Podemos tocar e ser tocados.
O poder desta canção está exatamente na negação deste aspecto tão visível da vida.
Quando Thom Yorke, vocalista do Radiohead, diz "Eu não estou aqui./ Isto não está acontecendo"... o que ele pretende?
Todo mundo sabe que as palavras têm poder. Experimente chamar alguém de fraco a vida inteira, ou de burro, ou de incapaz... o que essas pessoas se tornarão, senão exatamente o que ouviram a vida toda?
Se as palavras têm poder, será que somos capazes de nos abstrair da nossa própria realidade? Será que repetir os versos "Eu não estou aqui, isso não está acontecendo?" serve para alguma coisa?
Será que as pessoas infelizes podem usar esse recurso para escapar da vida difícil?
Será que somos capazes, ao negar a realidade, de convencer nosso cérebro e nosso corpo de sentir menos dor? Dor física e psicológica?
Repare que o título da música não fala em "ficar invisível". Não é um conceito divertido, tipo aquele sonho de criança (e alguns adultos) de poder escutar a conversa dos outros e entrar no vestiário feminino sem ser visto. A canção fala em desaparecer. Sumir.
A música tem uma cadência bem lenta, bem lamuriosa. Segue um embalo triste, quase um choro, embora belíssima. Como um mantra, vai, lentamente, através da repetição, dissolvendo o ego de quem a escuta.
Em última instância, os versos da música estão cobertos de razão. Ela trata não apenas do questionamento da própria existência, mas fala também do caráter passageiro do tempo: "Este momento já passou./ Sim, já foi"
Ao cantar a velocidade de segundos e minutos, ao prosear sobre o ser humano que deixa de existir no próprio corpo, a canção retrata algo óbvio: Em breve (ou não tão breve assim), cada um de nós não existirá, e nada estará acontecendo.
É uma letra existencial, na qual mergulho cada vez que escuto.
Hoje, ou daqui a 100 anos, ela será real.
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Ps 1: Não estou deprimido nem triste! Pelo contrário! É que esta música desperta o meu lado filosófico mesmo.
Ps2: Quem também quiser viajar na canção HOW TO DISAPPEAR COMPLETELY, é só clicar aí embaixo. É preciso estar preparado. Não dá pra ouvir como uma trilha sonora enquanto se faz outros afazeres. É necessário tempo para apreciá-la (Ah, e boas caixas de som também!)
- Cabo da internet que faz peregrinação pelo apartamento: Ele sai parede afora perto de alguma tomada. Como um minhocão rodoviário, começa a fazer curvas, subidas e descidas. Passa pelos rodapés, escala a porta pelo lado direito, passa por cima dela, desce pelo outro lado do batente, se alonga mais uns 5 metros até se conectar ao computador. Além de antiquado, é um excelente acumulador de poeira.
- Pra quem tem fone de ouvidos especiais para falar ao celular: mãos no volante, acelerando, quarta marcha, vem a lembrança daquela ligação urgente que precisa ser feita. Aproveita-se o sinal vermelho para alcançar o fone no banco de trás do carro e instalá-lo no telefone. Aposto agora R$ 50 como o sinal vai abrir muito antes de o sujeito conseguir desembaraçar aqueles fios!
Com as buzinas soando, o motorista começa a acelerar, mas não desiste de, simultaneamente, terminar de conectar aquele apetrecho ao celular! Garanto: isso representa um risco muito maior aos demais motoristas e pedestres do que falar ao telefone e dirigir da maneira convencional.
- Essa é pra quem ainda não tem os videogames ultramodernos: eu, por exemplo, parei no Playstation 2. Sempre tem aquele cara que vai passar pela frente da TV sem atrapalhar quem está jogando. "- É rapidinho, é só dar um salto sobre o fio!" Quantas vezes vi o camarada tropeçar e puxar o console do videogame para o chão com toda a força. Game Over na "vida real", muito antes de a tela anunciar.
Clarisse se lembrou da juventude, quando ter disciplina era sinônimo de amadurecer, aprender a separar o certo do errado. Uma vez vencida esta etapa, aí sim, estaria apta a exercer sua liberdade. Mas também frisou que os versos foram feitos para serem interpretados livremente, ao gosto do freguês.
E Valmir deu 'rewind' na canção de Russo e provou que a letra da música, desde o início, vem permeada de idéias contraditórias. Como até "os sorrisos têm ferrugem" e "nem os santos têm a medida da maldade", os versos finais também revelam esse mundo de mistura de significados, essa vida de caos e ordem abraçados, essa mescla do bem e do mal.
Me restam algumas sensações de toda essa troca de idéias:
Inteligência é percepção.
Pensar é descobrir.