
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Trilogia Burocracia - Trailer

terça-feira, 28 de abril de 2009
Quando ajudei Maria Lenk a calçar as sandálias

- Oi, tudo bem? Eu sou o André, vim buscar a Maria Lenk. Posso subir?
- Pode sim, disse o porteiro.
Passo a passo escada acima, lá estava eu em frente à porta dela.
Vi primeiro os olhos esverdeados. Abriu sorrindo, me deixando bem confortável.
- Pode entrar, meu filho. Ainda não acabei de me arrumar. Me espera aqui na sala.
Fui seguindo o corredor que levava aos sofás. Havia várias fotos nas paredes, retratos dela em várias idades, sempre de maiô ou sendo homenageada numa solenidade. Acho que tinham medalhinhas também, não me lembro bem.
O tempo todo, estava preocupada comigo: - Calma aí, não vou demorar nada. Vou só trocar essa roupa de ficar em casa por um vestido. Fica à vontade.
Eu estava bem à vontade. Mas não parava de imaginar como era, para uma mulher da idade dela, viver num prédio sem elevadores. Tudo bem, ela era atleta. Provavelmente tinha mais vitalidade do que eu, que levava vida de sedentário. Mas não era mole subir aquelas escadas todos os dias. E o risco de cair? Toda pessoa, ainda mais idosa, corre esse perigo.
Maria Lenk voltou arrumada. Mas tinha um probleminha.
- Meu filho, será que você pode me ajudar a abotoar essas sandálias? Eu não consigo, não alcanço, pra mim é difícil.
A docura da voz dela era uma porta de entrada enganosa para a escuridão de uma árdua tarefa.
Eu estava muito nervoso. Não levo o menor jeito para isso.
Não tenho coordenação motora para cuidar de gente. Não sei fazer massagem, tenho medo de segurar bebês de colo, fico em pânico de de ajudar a fechar o vestido da minha namorada.
Naquele momento, o desafio era forçar duas extremidades de couro de uma sandália a se encontrarem atrás do calcanhar de uma senhora de idade, e, por isso, com pele e ossos frágeis. E o pior: caso eu tivesse sucesso com o primeiro pé, ainda haveria um problema gêmeo à minha espera. Falta de confiança total!
-Está machucando?
- Não, filho. Pode apertar.
- Tem certeza? Tô tentando. Ai... não tô conseguindo! Acho que não fecha não.
- Fecha sim, filho. Pode fazer que não tá doendo não. Eu tentaria, mas realmente não consigo. Sempre meus filhos me ajudam, mas eles saíram.
- Então vamos lá! Argh... agora vai!
E foi. Um depois o outro. Parecia um obstáculo intransponível. Mas consegui abotoar as duas sandálias, com muito custo. Fiz tanta força que tive medo de tê-la ferido. Será que é preciso fazer tanta força mesmo? - me perguntei.
- Vamos?
- Vamos.
Saímos do apartamento e começamos a descer as escadas. Ali, me lembrei que havia a segunda parte da jornada. Maria Lenk se apoiou no meu ombro direito e fomos descendo pé ante pé, bem devagar.
Além de não ter habilidades de tato paternais, como descrevi antes, sempre fui tão estabanado que temi por aquela descida dos lances de escada, que não terminavam nunca.
Se houvesse como fazer cálculos matemáticos para esse tipo de coisa, constataríamos que a meiguice e a tranquilidade dela eram duas vezes maiores que minha insegurança e ansiedade. E olha que eu estava bastante aflito.
O destino quis que minhas duas tarefas fossem cumpridas sem traumas e com sucesso. A entrevista de Maria Lenk foi linda. Um privilégio ter tido a oportunidade de dividir aquele dia com ela, passando apuros domésticos e ouvindo suas histórias.
Na volta pra casa, precisei apenas colocá-la dentro do carro, agradecer e acenar. Havia alguém esperando por ela no prédio para ajudar no caminho de volta.
Ela foi se afastando e eu guardei comigo essa história até hoje. E, acredito, para sempre. Foi a primeira e última vez que a vi.
Maria Lenk, ousada, desbravadora! Paulistana que ousou nadar na época em que nenhum marido queria esposa atleta. Acreditava-se que esportistas não poderiam engravidar.
A maior nadadora da história do Brasil morreu no dia 16 de abril de 2007, com 92 anos.
Coincidentemente, no período entre nosso encontro e a data em que faleceu, entrei na natação, treinei muito e consegui realizar o que nunca imaginei: atravessar o mar de Copacabana a nado duas vezes. 4 quilômetros, mais de uma hora de braçadas.
Pra mim, um grande feito. Para Maria, provavelmente, algo que faria com a candura e a calma de um sorriso.
Tantos anos de uma bela vida lhe ensinaram a não temer as situações mais simples, nem as mais difíceis. Tinha a mesma serenidade para cruzar mares revoltos e para abotoar sandálias.
Eu ainda tinha muito o que aprender.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Vincent

9 votos dos 19 foram para o pintor holandês.
Comerciais


O outro comercial é constrangedor.
É engraçado ver os personagens, na televisão, tentando vender um produto sem falar, objetivamente, a maior qualidade dele: Aliviar a prisão de ventre!
Me dá aflição assistir àquela mãe, aquele pai, aquela vovó que consome o iogurte 'Activia' dando voltas e voltas para tentar explicar como o alimento melhorou o trânsito intestinal deles.
-Você está incomodado? Está de mau-humor? Ah, eu também era assim. Aceitei o desafio Activia, e agora vivo muito mais feliz!
- Er, bem... (pergunto eu) Mas você estava de mau-humor por que? E quais são os resultados práticos do Desafio Activia? O que aconteceu com você?
Neste diálogo imaginário, vejo os personagens do comercial envergonhados.. e respondendo:
- Ué, eu estava de mau-humor porque... porque eu... eu não estava muito bem de... de estômago. Enfim! Mas o que importa é que agora estou mais feliz!
Em outras palavras, é um tabu imenso tratar objetivamente do assunto em questão. Não pega bem falar de escatologias na televisão. Não seria nem um pouco popular.
Por isso, os caras preferem fazer um comercial todo colorido, alto astral, pra cima! Um "cerca-lourenço" danado pra fugir do assunto!
Às vezes para o mal, como quando Hitler fazia lavagem cerebral no povo alemão.
Às vezes infeliz, como no sujeito que se joga pela janela tomado pela sensação onipotente de um controle remoto.
Às vezes patético, como as pessoas sorridentes tentando fazer o telespectador entender, nas entrelinhas, do que se trata o desafio Activia.
De todo modo, é um artifício poderoso.
sábado, 25 de abril de 2009
Congelado

Muito tempo perdido com contratempos.
Assim que tiver tempo!
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Mané

Chutar a bola e prendê-la. Deslizar com a posse dela. Correr com ela colada aos pés. E não passar pra ninguém.
Cresci. E descobri.
Todos gostariam de ter todo o tempo que a diversão merece, sem ter que submetê-lo aos mandamentos da vida diária.
Hoje em dia, na pelada dos sábados, os berros são para que se chute mais a gol. Para que se passe mais a bola para o companheiro.
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domingo, 19 de abril de 2009
Pensamento à distância

sexta-feira, 17 de abril de 2009
5 pinturas essenciais

2- Guernica, de Picasso

3- Noite Estrelada, de Van Gogh
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A, b, c e d

Msemo com a fmora ebmrahladaa, o cnteúodo pervlacee.
Cidadania no banheiro

A frase dita não foi pra mim. Na verdade, eu estava distraído demais do mundo exterior, pensando na correria do meu dia-a-dia. Ainda assim, pesquei a frase no ar e acordei da hipnose.
Deu tempo de olhar pra trás e ver um grupinho de três funcionários, uniformizados com o traje cinza-feio de uma empresa que faz a manutenção dos computadores corporativos.
Naquele momento, o autor da frase esperava enquanto o advertido dava meia-volta e saía do banheiro em que tinha ousado entrar. Seguiram viagem até o sanitário"correto".
O primeiro andar dessa empresa de jornalismo é assim:
no mesmo corredor gelado de paredes cinza e carpete azulado, há três portas de banheiro. Numa delas está escrito 'Apresentadores'.
Ok. Admito que os apresentadores de telejornais precisem, realmente, de um banheiro exclusivo. Podem estar prestes a entrar no ar, estressados. Podem precisar ter certeza de que o toilette está livre, já que não podem perder tempo. No reino dos absurdos, este não é o maior deles.
Na outra porta, está escrito 'Jornalismo'. Aquele é destinado às demais pessoas que trabalham ali: editores, cinegrafistas, produtores, etc.
E na última porta, não há nada escrito além do tradicional bonequinho 'menino' ou 'menina'.
O engano cometido pelo funcionário da firma de computadores, rapidamente corrigido pelo colega, foi entrar no banheiro do jornalismo e não no banheiro dos zé-ninguém.
"Você não pode usar esse banheiro aí não!"
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terça-feira, 14 de abril de 2009
Teto

segunda-feira, 13 de abril de 2009
Contando histórias

Gostaria de propor um desafio breve para quem tem um pouco de paciência.
Uma reflexão que está a um clique de distância.
Convido você a olhar agora para o relógio. Pode ser esse aí da tela do computador mesmo. Em geral, fica embaixo, à direita.
Ao clicar no botão 'Play' desse videozinho, em dois minutos você, provavelmente, estará arrepiado.
Minha intenção não é divulgar mais um desses videos manjados da internet. Não quero ser aqueles chatos que dão notícia velha.
É muito provável que você seja uma das 42 milhões de pessoas que já assistiram a esse clipe no Youtube. Se não for, que bom: a experiência vai funcionar melhor em quem sente o impacto pela primeira vez.
Mas quem já viu também pode participar. É comovente mesmo repetido.
Meu propósito não é chocar, não é abalar de graça. Gostaria de refletir sobre quais são os elementos de linguagem que fazem este clipe tão poderoso.
Por força da profissão, vivo me perguntando isso. Quais são as fórmulas para conquistar um telespectador, um público de cinema ou internet, num produto audiovisual?
Como fazer isso jogando limpo, sendo ético e honesto, mas sem abandonar o lado emocionante e sedutor de uma boa história?
Na minha opinião, o trecho abaixo é um bom exemplo. Um bloco de um programa da TV inglesa, um show de calouros daqueles que podem trazer fama (ou ridicularizar) pessoas comuns.
Apresentação feita, convite no ar:
Olhe para o relógio. Clique no Play. Daqui a 2 minutos e meio, a gente conversa de novo.
Não sei o que vocês acharam, mas pra mim, trata-se de um momento arrebatador. Emocionante mesmo.
Claro, há um lado clichê. Há um lado piegas. Mas existem, também, elementos de identificação muito poderosos, com os quais qualquer ser humano se relaciona facilmente.
É um daqueles velhos roteiros que tocam cada um de nós. A história do sujeito fraco e desacreditado que se põe à prova num grande teste, e é capaz de vencer todas as previsões mais pessimistas a seu respeito.
Mas há muito mais que isso.
Vocês perceberam que quase não há descrição?
Há, apenas, 10 segundos de apresentação do personagem. Uma voz em OFF conta que o cara se chama Paul, trabalha numa loja de celulares e que o mundo do Showbizz parece distante para ele. Ponto final!
E isso não quer dizer que o roteirista não conheça sua história completa. Pelo contrário, sabe tudo a respeito do protagonista. Mas escolhe mostrar apenas um trecho da vida dele.
Quando contamos histórias, temos a ilusão de que é preciso expor muitos detalhes, contar fatos minuciosamente.
Um engano. Às vezes, um personagem que se apresenta é muito mais espontâneo, eficiente e carismático.
Pelas palavras e pela linguagem corporal, Paul se revelou. Voz hesitante, um rosto nada popstar, personalidade insegura. Confessou ter o desejo incontrolável de ser cantor, mas temia um obstáculo quase intransponível: pouquíssima autoconfiança.
Pronto! Com 36 segundos de clipe, já conhecemos o personagem e seu conflito. Já sabemos que está diante de um grande desafio. O close nas expressões faciais dos jurados denunciam o menosprezo deles. Estava criado o cenário para um grande fiasco.
E tudo isso, lembro mais uma vez, sem precisar de descrição. Apenas depoimentos sinceros de Paul; uma boa edição de imagens, colando, em sequência, os olhares cheios de desdém dos jurados com o rosto apreensivo do calouro. Edição que cria tensão.
E trilha musical! Se bem escolhida, a canção deixa de ser pano de fundo para dar força à história contada. A musiquinha do início caiu bem.
Aí, Paul abre a boca para cantar...
Mas antes, outro recurso importantíssimo: Pausa. Silêncio. Suspense!
Ele pede, com um inclinar de cabeça, para que a produtora aperte o play na música de fundo. Enquanto isso, mais olhares de desprezo dos jurados. As pausas, nestes tipos de edição, são fundamentais para antecipar o clímax.
E aí, o ápice! Contra aparências e preconceitos, Paul choca todos os presentes com uma voz possante e surpreendente. Canta com vigor emocionante!
Aos poucos, todos aplaudem. Closes nos rostos revelam o espanto de cada um.
No fim, o "clímax do clímax". Paul atinge um agudo tão sublime que tem a força física de fazer as pessoas se levantarem. Todos, de pé, aplaudem! Os jurados se rendem.
A canção de Paul é o principal elemento que faz aflorar as sensibilidades. A música bem usada faz brotar arrepios.
Os aplausos e assovios do público presente são mais um ingrediente dessa química. A experiência coletiva de se emocionar, a catarse conhecida desde o teatro da Grécia Antiga, também fazem este vídeo funcionar tão bem!
Num piscar de olhos, 2 minutos e meio se passaram. Em 2:30, já nos envolvemos com uma história que tem início, meio e fim. Tão pouco tempo, mas tantos recursos para fazer a mensagem viajar com tamanha eficiência.
Contar histórias é fascinante. Seduz o homem desde os primórdios. Quando a humanidade não sabia escrever, a palavra oral era sagrada. Ninguém podia mentir, sob o risco de colocar toda a história e a cultura de um povo, passados de geração em geração, em risco.
Desde sempre, o homem gosta de narrar acontecimentos. Para fazê-lo com perfeição, não basta ter um bom personagem e um bom conflito. As "peças" complementares podem fazer toda a diferença.
domingo, 12 de abril de 2009
Tudo é sirene

Barulho.
Sirene de polícia ou de ambulância.
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Obedecemos sinais.
Através de um sons bruscos, agudos, longos, incômodos.
Ou sirenes que pedissem, gentilmente"Amigos, com licença, emergência! temos que passar!"
sábado, 11 de abril de 2009
Vencedor da Enquete: Internet

O planeta Terra é chamado de mãe, que abriga com carinho todos os seres vivos.
Mas também pode ser visto como uma prisão. O ser humano não foi programado para existir em lugar algum fora do Globo Terrestre! Quando olhavam para a lua e para as estrelas, os homens pré-históricos urravam de admiração, mas certamente nunca imaginariam ser capazes de, um dia, viajar para bem perto delas.
Mas numa votação apertada, a internet foi eleita como a criação que melhor representa o ser humano. 7 pessoas visitaram o blog e clicaram na opção.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Conto inspirado em fatos reais

Jurassic Blog

segunda-feira, 6 de abril de 2009
Quem somos nós?

E pensando na humanidade como um todo, qual destas obras melhor representa o ser humano?
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((ouvir o clipe a partir do minuto 3:23))
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Invasão bárbara

Qual o sabor de disparar contra uma senhora de 90 anos numa cadeira de rodas?
Seria um ato simbólico, de matar tudo o que fosse caquético e ultrapassado como a sua própria cultura?
Seria o gesto derradeiro de um perdedor, sujeito imperceptível aos olhos de todos, mas que acabara de se tornar visível?
Seria o último sintoma de uma doença cultural que inventa ideais? Quando o cara descobre que verdades são ilusões, tudo se transforma num vazio tão grande que até o gesto mais perverso não tem gravidade ou sentido.