
Quem tem, sabe.
O pii pii na hora imprópria é bem inconveniente.
Mas, por incrível que pareça, o Nextel tem muito mais a nos ensinar do que os modernos telefones celulares.
Eles mesmos, que lembram antiquados walkie-talkies de seguranças de shopping, coisas com as quais já estamos acostumados há anos.
A sabedoria do Nextel está em algo simples e óbvio.
Antes de falar, você tem que saber escutar.
Quantas vezes já pensamos em interromper a pessoa que está falando, presumindo já saber o que ela vai dizer? Pois, com o Nextel, é impossível!
Se o amigo do outro lado da linha for alguém sem poder de síntese, paciência. É necessário esperar o cara completar a frase.
Se ele fala devagar, você tem que engolir. É necessário esperar até o bip, que indica que ele já acabou e que é a sua vez.
Pois é. Este mecanismo nos ensina muito.
Na nossa sociedade de autocentrados e egoístas, queremos, muitas vezes, falar mais do que ouvir. Somos cobrados saber de tudo sobre tudo, julgamos que realmente sabemos muito sobre tudo. Achamos que sabemos, inclusive, o que nosso camarada quer dizer antes mesmo de ele terminar.
Somos uma tropa de ansiosos, acelerando nossos carros, atrasados para compromissos. E nos atropelamos uns aos outros na hora de nos expressar.
Quantas vezes você fala por cima do seu amigo? Quantas vezes ouve a frase "deixa eu terminar!"? Quantas vezes nos importamos, de fato, mais com o que estamos dizendo do que com o que está sendo dito para nós?
Eu tinha um professor, aquele de filosofia sobre quem tanto escrevo, que dizia: "o homem de hoje não fala; ele se explica!"
É verdade. No bombardeio de informações do dia a dia, na concorrência de vozes a mil por hora, quantas vezes temos que repetir o que queremos dizer para nos fazer entender?
Antigamente, na época de Shakespeare, ou ainda antes, na época dos gregos clássicos, falou uma vez tá falado!
A palavra tinha um poder muito maior. Era tudo mais sintético, mais enxuto, menos prolixo.
Eu sempre tive essa impressão ao ler ou ver a encenação de alguns textos antigos, nos quais o personagem diz algo que causa uma mudança tremenda! Algo radical mesmo, sabe?
Tipo: "Nossa nação vai entrar em guerra! E você será o soldado raso que deve morrer primeiro!"
Em vez de retrucar, como faríamos hoje em dia, pedindo explicações, esclarecimentos e dando justificativas, o sujeito simplesmente acatava a ordem. Sim senhor!
Tenho a impressão de que a palavra valia mais pelo simples motivo de que as pessoas sabiam ouvir. Não era preciso falar duas, dez, mil vezes.
Hoje, no mundo das milhões de palavras e informações, as vozes precisam se sobrepor, umas às outras, para sobreviver.
E é por isso, exatamente por isso, que o Nextel é tão importante.
Ele dá cadência ao nosso discurso. Ele silencia o ouvinte enquanto o falante se pronuncia. Obriga todo mundo a obedecer a sabedoria popular, que prega:
"Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha!"
4 comentários:
G E N I A L!!!!
Simplesmente genial o que vc escreveu. Seria muito bom que muitos pudessem ler este seu post. Aqueles que precisam se autoafirmar no seu próprio discurso e que não sabem escutar nada e nem ninguem, A verdade deles é absoluta.
Vc está ficando cada vez melhor. E claro , não podia deixar de dizer que eu me orgulho muito de vc e te amo. ahahah beijão
Tieta Helena,
Que bom que voce gostou!!
Também acho que muita gente deveria aprender a escutar...
Muito obrigado, acho que voce é o único membro da família que permaneceu como leitora fiel do blog! heheh
beijãozão
Dé meu querido, fique sabendo que seu blog virou minha Bíblia.( perdoe-me os crentes). Toda noite antes de eu ir dormir abro meu lap e leio o seu blog. Dou muita risada, choro em muitos, assim como este último post da menininha e agradeço ao Papai do céu por ser sua tia, assim como, para ele te proteger todos os dias de sua vida. beijos mil Tieta
mas essa tal de " tieta" é muito seu bab-ovo,hein?
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