sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um de cada vez

Rádio Nextel é uma chatice.

Quem tem, sabe.
O pii pii na hora imprópria é bem inconveniente.

Mas, por incrível que pareça, o Nextel tem muito mais a nos ensinar do que os modernos telefones celulares.

Eles mesmos, que lembram antiquados walkie-talkies de seguranças de shopping, coisas com as quais já estamos acostumados há anos.


A sabedoria do Nextel está em algo simples e óbvio.

Antes de falar, você tem que saber escutar.


Quantas vezes já pensamos em interromper a pessoa que está falando, presumindo já saber o que ela vai dizer? Pois, com o Nextel, é impossível!

Se o amigo do outro lado da linha for alguém sem poder de síntese, paciência. É necessário esperar o cara completar a frase.

Se ele fala devagar, você tem que engolir. É necessário esperar até o bip, que indica que ele já acabou e que é a sua vez.

Pois é. Este mecanismo nos ensina muito.

Na nossa sociedade de autocentrados e egoístas, queremos, muitas vezes, falar mais do que ouvir. Somos cobrados saber de tudo sobre tudo, julgamos que realmente sabemos muito sobre tudo. Achamos que sabemos, inclusive, o que nosso camarada quer dizer antes mesmo de ele terminar.

Somos uma tropa de ansiosos, acelerando nossos carros, atrasados para compromissos. E nos atropelamos uns aos outros na hora de nos expressar.

Quantas vezes você fala por cima do seu amigo? Quantas vezes ouve a frase "deixa eu terminar!"? Quantas vezes nos importamos, de fato, mais com o que estamos dizendo do que com o que está sendo dito para nós?

Eu tinha um professor, aquele de filosofia sobre quem tanto escrevo, que dizia: "o homem de hoje não fala; ele se explica!"

É verdade. No bombardeio de informações do dia a dia, na concorrência de vozes a mil por hora, quantas vezes temos que repetir o que queremos dizer para nos fazer entender?

Antigamente, na época de Shakespeare, ou ainda antes, na época dos gregos clássicos, falou uma vez tá falado!

A palavra tinha um poder muito maior. Era tudo mais sintético, mais enxuto, menos prolixo.

Eu sempre tive essa impressão ao ler ou ver a encenação de alguns textos antigos, nos quais o personagem diz algo que causa uma mudança tremenda! Algo radical mesmo, sabe?

Tipo: "Nossa nação vai entrar em guerra! E você será o soldado raso que deve morrer primeiro!"

Em vez de retrucar, como faríamos hoje em dia, pedindo explicações, esclarecimentos e dando justificativas, o sujeito simplesmente acatava a ordem. Sim senhor!

Tenho a impressão de que a palavra valia mais pelo simples motivo de que as pessoas sabiam ouvir. Não era preciso falar duas, dez, mil vezes.

Hoje, no mundo das milhões de palavras e informações, as vozes precisam se sobrepor, umas às outras, para sobreviver.
E é por isso, exatamente por isso, que o Nextel é tão importante.

Ele dá cadência ao nosso discurso. Ele silencia o ouvinte enquanto o falante se pronuncia. Obriga todo mundo a obedecer a sabedoria popular, que prega:

"Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha!"

4 comentários:

HBO disse...

G E N I A L!!!!
Simplesmente genial o que vc escreveu. Seria muito bom que muitos pudessem ler este seu post. Aqueles que precisam se autoafirmar no seu próprio discurso e que não sabem escutar nada e nem ninguem, A verdade deles é absoluta.
Vc está ficando cada vez melhor. E claro , não podia deixar de dizer que eu me orgulho muito de vc e te amo. ahahah beijão

André B. disse...

Tieta Helena,

Que bom que voce gostou!!

Também acho que muita gente deveria aprender a escutar...

Muito obrigado, acho que voce é o único membro da família que permaneceu como leitora fiel do blog! heheh

beijãozão

hbo disse...

Dé meu querido, fique sabendo que seu blog virou minha Bíblia.( perdoe-me os crentes). Toda noite antes de eu ir dormir abro meu lap e leio o seu blog. Dou muita risada, choro em muitos, assim como este último post da menininha e agradeço ao Papai do céu por ser sua tia, assim como, para ele te proteger todos os dias de sua vida. beijos mil Tieta

mmy disse...

mas essa tal de " tieta" é muito seu bab-ovo,hein?