Colocar, no alto de uma árvore, uma garrafa plástica cortada ao meio com pedacinhos de banana descascada.
Quando parei o carro, à noite, na porta do meu prédio, percebi um morcego dando vôos rasantes sobre os galhos.
Meu primeiro pensamento foi: -Como vou sair deste carro sem ser atropelado pela criatura?
A fórmula não é complicada, mas requer coragem.
Abra a porta, dê o fora rápido, bata a porta, saia correndo e não olhe pra trás.
É uma pena.
Os morcegos podem ser as criaturas mais dóceis do planeta Terra, mas nunca terão a oportunidade de mostrar suas virtudes para o mundo.
Fosse um cachorrinho ou um filhotinho de gato buscando comida, todos iriam parar para admirar a meiguice do animal.
Mas a fome do mamífero voador, essa não.
Esta é recebida com repulsa pelas pessoas.
Não é à toa que estes seres quirópteros decidiram, no seu processo evolutivo, só sairem da toca à noite.
Com tanto preconceito, restou-lhes adotar uma forma de vida bem afastada do convívio social.
Na verdade, o animal não é dotado de muita sorte. Pelo contrário.
Pesa sobre si a capa da maldição. São três, e não mais que três, os azares do morcego:
1- A aparência repugnante.
Tiveram a infelicidade de nascer parecidos com monstrinhos. Muitos os associam a ratos voadores. Que culpa têm as criaturinhas de possuir asas que nascem de longos dedos e braços raquíticos? Em vez de penas, uma membrana. É esquisito realmente. Os designers dos pássaros capricharam mais no acabamento. Mas fisionomia não deve ser motivo para discriminação.
2- São cegos.
Seus parceiros de vôo, as águias, além de lindas, têm a capacidade de enxergar uma moeda de 1 real a 1 km de altura. Já o feioso não vê um palmo à frente do nariz em formato de tomada. Quanta injustiça! Dessa forma, os vôos do morcego são muito mais descontrolados e ameaçadores. Guiados pela essência da banana sobre a árvore, fecham os olhos e mergulham no ar rumo ao rastro de cheiro. Melhor sair da frente.
3- Comparações bizarras.
Não bastasse possuir deficiência visual e ter um semblante horripilante, o morcego foi, historicamente, comparado a seres malvados e sinistros. Se Conde Drácula e seus vampirinhos se transformassem em gansos, certamente a rejeição dos mamíferos voadores não seria tão grande. No entanto, vemos a criatura como chupadora de sangue, no melhor estilo Nosferatu. Que erro de avaliação! E pensar que a maioria absoluta dos morcegos prefere as frutinhas da estação ao líquido vermelho-ferro.
Talvez o Batman tenha sido o único cabo eleitoral fiel a tentar lhe levantar o moral.
Vamos torcer que o fenômeno Crepúsculo abra novos horizontes na rasa mente humana.
Feio. Cego. Motivo de chacota.
O mundo, definitivamente, precisa de mais tolerância.
A começar por nós.
Da próxima vez, não sairei correndo do carro.
3 comentários:
Tadinho ... é desprovido demais de qualquer beleza para que se ache graça nele.
Belíssima reflexão a sua André.
O ser humano precisa mudar internamente mais do que qualquer coisa.
Até mesmo para que esse planeta tenha futuro.
beijos
Que bichino repugnante. Tem uns que são ... tens outros que não são.Esse é. Pode até comer banana, mas é. bj
Pensando bem... acho que estou sendo preconceituosa. E eu sou uma pessoa que não ligo para o feio, ou defeituoso. Muito pelo contrário eu os adoro . Mas desta vez com esse bichinho pela carinha assustadora dele fui muito má no post anterior .ahahah bj
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