não escolheu o material por acaso.
Quer melhor metáfora para o tempo
que a areia?
Tente encher a mão com grãos bem finos e secos.
Por mais que se tente segurá-los, controlá-los,
eles nos ignoram.
'
Conforme passam segundos, minutos, dias,
o montinho do que passou vai aumentando.
Ganha corpo, fica mais pesado.
Conforme passam segundos, minutos, dias,
'
'
os grãos que estão por vir são cada vez menos,
e menos, e menos.
'
Quando o último grão passa pelo buraco,
do futuro, nada mais virá.
E o passado? Pulverizado, soterrado,
inútil como farelo de pedra.
-------------
Quem inventou a ampulheta
percebeu que o tempo era indomável
e transformou-o num briquedo perfeito.
Já que é impossível controlá-lo,
por que não brincar com ele?
Quando o último fiapo de areia
está prestes a escorrer para o andar de baixo
Basta virar o objeto para começar tudo de novo.
Virando, virando, virando e virando,
sem deixar o ciclo se completar,
o homem brinca de Deus.
Na vida, sabemos quem manda
mas na ampulheta, quem manda é o homem.
O tempo, aprisionado naquele casulo de vidro,
desliza como a gente quer.
7 comentários:
tente fechar a mão estilo concha.....
Vc anda cheio de metáforas... A vida passada em revista. Isso é bacana!
nao era mais facil inventar o relogio?
Zé,
o relógio é outra boa metáfora.
O ponteiro dá a volta no círculo e volta para o mesmo lugar, da mesma forma que o sol faz a órbita diariamente sober a terra.
Roda, roda, sempre de forma previsível.
Um dia, a bateria do relógio acaba...
Pelo menos com ampulheta temos a opção de quebrá-la. Já com o tempo...
Não sei por que a matéria sobre a ampulheta me remeteu a um sonetinho besta, muito besta mesmo, e muito "pra baixo", melancólico, pessimista, que eu cometi há um tempo atrás. Mas já que o pari e me lembrei dele... lá vai:
CIRCULAR
Quanto tempo se perde nessa vida
tentando lhe encontrar algum sentido:
vai-se despetalando a margarida
e ao fim... é o mesmo trecho percorrido.
É sem razão a nossa humana lida.
É como um jogo que já vem perdido-
cicatrizar ferida por ferida,
ler as páginas de um livro já relido.
A vida é um chicote que fustiga
e ao seu bel-prazer é que castiga
aqueles que tem culpa e os que não tem.
Por isso esse conselho, minha amiga:
passe a vida fingindo que não liga,
porque pensar na vida... não convém.
Sensacional esse poema, Zelma!
Achei de muita, muita sensibilidade!
O sonetinho não tem nada de besta.
Melancólico sim!
Pessimista, talvez. Eu diria realista.
A vida e o mistério do fim de tudo deixam esse gosto mesmo: um sabor de que tudo acontece conforme o planejado.
Nada surpreende de verdade. Os sofrimentos são os mesmos, as dúvidas, as tensões; todos são os mesmos de milênios atrás.
O tempo passa e a humanidade não se livra deles. Está aprisionada nesta existência.
Existir, e ter consciência da própria existência, dói.
É a maior benção, mas também a maior maldição do ser humano.
Postar um comentário