sábado, 9 de maio de 2009

Ajudar ou brigar?

Uma barraquinha móvel para vender milho-verde tem três rodas de bicicleta.

Eu também ando de bicicleta.
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Os pneus em questão motivaram um encontro que me inspirou a escrever este post.

Parado no canto do posto de gasolina, eu estava prestes a estufar as rodas com ar-comprimido quando apareceu um vendedor de milho-verde.

Camisa de botões azul, tradicional dos vendedores ambulantes e dos trocadores de ônibus. Bonezinho, barba branca, lá pelos seus 40 anos. Ele me pediu ajuda.

- Pode me ajudar a encher esse pneu aqui?

- Claro. É fácil. Você digita aqui o número da pressão de ar...

- Ah, mas eu não sei usar isso aí não.

- Bem, eu te ajudo então. Mas é bem fácil. É só parar aqui e digitar o número. Depois, encostar o tubo de ar no birro do pneu e esperar encher.

- Ah, tá bem.

- Está pronto. Ó, cheínho.

- Obrigado. Você quer um milho-verde?
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- Não, obrigado.

- Tá bem. Até mais, obrigado mesmo.

- De nada.

Claro que ajudar os outros dá uma sensação boa. Nos sentimos bem com isso. Mas fiquei pensando naquilo e percebi algo muito óbvio:

Sempre que um cidadão está precisando de ajuda num local público, logo aparecem dezenas de pessoas para dar assistência.

Se passa mal, os transeuntes o amparam. Se sofre um acidente, os passantes o ajudam. Se um idoso precisa de auxílio, logo vários desconhecidos se prontificam.

Nessa sociedade individualista, ao contrário do que costumamos pensar, as pessoas tendem a socorrer seus semelhantes. É ou não é?

E dessa conclusão me surgiu uma intrigante pergunta: Se estamos tão dispostos a ajudar, por que, no caos social, nossa primeira reação é sempre a de briga?

Pense nisso: Você está no trânsito e um cara te fecha. O primeiro ímpeto é o de xingar e esbravejar.

Você viu a vaga e a outra pessoa viu também. Discussão.

Um cara olhou feio para o outro na boate. Porrada.

Por que solidariedade e brutalidade afloram tão facilmente do mesmo ser humano?
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O estranho que furou a fila do caixa (até, quem sabe, por desatenção) e merece olhares de ira poderia ser o mesmo estranho que se sente mal e é prontamente acudido pelo sujeito raivoso.

Nossa máscara social é a da briga.

Andamos carrancudos para intimidar quem passa, para mostrar ao mundo que não somos bobos em terra de malandros. Usamos cara-fechada para deixar bem claro aos demais que temos consciência do nosso espaço social. E ai de quem ousar, ainda que acidentalmente, invadí-lo.

Mas esse molde cai de nossos rostos facilmente quando identificamos alguém precisando de socorro.

Todos nós gostaríamos de viver numa sociedade em que a tal máscara sisuda e bruta não fosse necessária. Basta olharmos para as cidadezinhas pequenas, onde não existe a tensão social das metrópoles e a competitividade das grandes cidades.
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As pessoas não trancam suas casas. Elas ficam horas sentadas na calçada papeando com os vizinhos. Todos se conhecem pelo nome e se tratam de compadres.

Me lembro, quando era criança, que achava graça de chegar nas cidades do interior de carro. Me divertia ao pedir pro meu tio buzinar cada vez que passasse por um pedestre. A resposta era sempre, SEMPRE, um aceno do caipira dizendo "boa tarde!"

Nesses lugares, o ar fresco não tem o peso poluído das grandes cidades. Respira-se um clima amistoso. Que metáfora: nas metrópoles, o ar é pesado.

E assim, vivemos nossas vidas em Rio, São Paulo, Porto Alegre, BH, Fortaleza, Recife, etc...

Fazendo bico, de sombrancelhas retas e duras, marcando a expressão de seriedade.
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Que pena! Vivemos esperando que nossos semelhantes passem apuros para mostrar quem realmente somos. Para deixar aflorar o lado bom e solidário que temos.

A grande ironia é: todos nós, na verdade, é que precisamos de ajuda.

Ajuda para tirar, de vez, essas máscaras de ferro.

2 comentários:

Bibi disse...

André, análise perfeita. Mas pensa bem: são todos os que estão disponíveis mesmo a ajudar a quem precisa? Ou esse é o reflexo do seu círculo social? Ou até onde seu olho pode ver? Infelizmente nem todos se mostram disponíveis com a solidariedade. Talvez estes já tenho incorporado a máscara de ferro à sua identidade original/compleição física.

André B. disse...

Acho que, excluindo os mendigos e meninos de rua que, infelizmente, são postos à margem social de propósito, todas as pessoas têm a índole de ajudar o próximo.

Acredito que todos temos esse ímpeto de acudir quem precisa sim.

Mas talvez só este impulso de ajuda seja insuficiente pra transformar a sociedade em algo melhor.