segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Contra o tempo

Corro contra o tempo!

Ainda tenho dezesseis minutos.

Mas a cada linha que escrevo, terei menos.

Cada letra a mais, um segundo a menos rumo a dezembro.

E pra que essa pressa toda?

Porque quero escrever este post no mês em que o blog completou um ano.

1 ano.

O dia exato foi 25, quarta-feira passada.

Não escrevi nada por esse ou por aquele motivo.

Mas sinto, nas regras fictícias do meu pensamento, que escrever em novembro seria, ainda, uma forma de celebrar este um ano em tempo!

Neste momento, gostaria apenas de dividir com vocês essa satisfação e essa alegria.

Neste um ano, vários textos que postei aqui nunca teriam existido não fosse o simples ato de escrevê-los.

Óbvio isso, não? Muito óbvio.

Mas é uma afirmação de força gigantesca.

Fico imaginando: que frustração a minha seria ter tido tantas idéias, algumas toscas outras bacanas, e nunca ter podido torná-las concretas.

Idéias que me viriam à mente e sumiriam no instante seguinte.

Aqui, no blog, tive a oportunidade de capturar algumas delas, na rede de caçar borboletas esvoaçantes, e transformá-las em texto.

Um ano depois, é bacana olhar pra trás e ver, catalogados, tantos posts sobre diferentes temas.

Posts, textos, assuntos que puderam ser divididos com vocês. E isso é o mais gratificante.

Temas bobos ou complexos, textos aos quais me entreguei totalmente... e outros deles fiz por pura diversão. Tudo muito pessoal, tudo feito pela pura curtição de escrever.

E saber, que apesar do motivo quase lúdico e sem ambição da existência deste blog, muitos de vocês tiveram o carinho e o interesse de deixar comentários, observações, sugestões e críticas.

Enfim, tiveram o ímpeto de participar, interagir, conversar.

E isso é o mais bacana de tudo.

Por isso, após um ano, doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias, só tenho a dizer um sincero "muito obrigado"!

Corro contra o tempo! Ainda tenho seis minutos antes de bater meia-noite.

Será dezembro. Será tarde demais.

Agradeço à Maria Clara, meu amor, que me visita e me apóia desde o dia 1. Agradeço a meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha família, minha Tieta Helena, felipinho, Cristiano Hirmão, Valmir, Marquinhos, Marina W, Chico, Zé Luis, Rachel, Touro, Daniel Dandani e todos os queridos, quadradinhos e cabecinhas aí embaixo, que são seguidores do blog.

Cometerei uma injustiça ao não citar nominalmente, um por um, cada pessoa que já comentou e visitou o blog.

Mas faço isso por um bom motivo.

Faço porque corro contra o tempo.

Faltam dois minutos apenas.

Dois minutos para a meia-noite.

Quero postar ainda em novembro.

Corro contra o tempo!

Mas, por causa do blog e por causa de vocês, corro a favor dele também.

Ano que vem, terei tantos mais posts e conversas para lembrar!

Tudo arquivado.

No tempo.

Que está a meu lado.

Obrigado!

Beijo a todos!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Plano de vôo

Amigos,

nos últimos meses, empaquei.

Por uma coisa ou por outra, está difícil criar, escrever, pensar, imaginar, refletir, mergulhar.

As letrinhas nos teclados andam enferrujadas, insensíveis ao toque dos dedos.

Não deslancham, não desabrocham, não despertam.

Blogspot, pista de decolagem. Tem sido difícil sair voando, fazer manobras, dançar no ar.

O avião anda sem combustível. Ou o céu está carregado mesmo, impróprio para vôos.

Aos poucos amigos que insistem e dão sempre um pulinho aqui, agradeço.

Aguardo previsões meteorológicas otimistas, ou soluções de mecânica para aeronaves.

Enquanto isso não acontece, continuo em terra firme.

Bem menos emocionante. Mas mais seguro.

Beijos a todos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

16:57

Assim que ouvi a notícia, olhei no relógio.

Era pra marcar bem a hora.

Fixar os olhos em uma verdade real, visível, me ajudaria a não duvidar do que escutavam os ouvidos.

A rádio CBN divulgou a seguinte notícia:

"Foi encontrada, no Largo do Machado, uma carteira com R$ 1.400,00 em dinheiro, cartão de crédito, cheques e um anel de ouro. A Guarda Municipal ligou para a dona dos objetos imediatamente e a carteira foi devolvida."

Estou enganado ou a manchete, antigamente, era dizer que alguém foi roubado???

Falar nisso... qual foi a última vez que um assalto de carteira na rua virou notícia?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os três azares do morcego

Alguém teve uma caridosa idéia:

Colocar, no alto de uma árvore, uma garrafa plástica cortada ao meio com pedacinhos de banana descascada.

Quando parei o carro, à noite, na porta do meu prédio, percebi um morcego dando vôos rasantes sobre os galhos.

Meu primeiro pensamento foi: -Como vou sair deste carro sem ser atropelado pela criatura?

A fórmula não é complicada, mas requer coragem.

Abra a porta, dê o fora rápido, bata a porta, saia correndo e não olhe pra trás.

É uma pena.

Os morcegos podem ser as criaturas mais dóceis do planeta Terra, mas nunca terão a oportunidade de mostrar suas virtudes para o mundo.

Fosse um cachorrinho ou um filhotinho de gato buscando comida, todos iriam parar para admirar a meiguice do animal.

Mas a fome do mamífero voador, essa não.

Esta é recebida com repulsa pelas pessoas.

Não é à toa que estes seres quirópteros decidiram, no seu processo evolutivo, só sairem da toca à noite.

Com tanto preconceito, restou-lhes adotar uma forma de vida bem afastada do convívio social.

Na verdade, o animal não é dotado de muita sorte. Pelo contrário.

Pesa sobre si a capa da maldição. São três, e não mais que três, os azares do morcego:

1- A aparência repugnante.

Tiveram a infelicidade de nascer parecidos com monstrinhos. Muitos os associam a ratos voadores. Que culpa têm as criaturinhas de possuir asas que nascem de longos dedos e braços raquíticos? Em vez de penas, uma membrana. É esquisito realmente. Os designers dos pássaros capricharam mais no acabamento. Mas fisionomia não deve ser motivo para discriminação.

2- São cegos.

Seus parceiros de vôo, as águias, além de lindas, têm a capacidade de enxergar uma moeda de 1 real a 1 km de altura. Já o feioso não vê um palmo à frente do nariz em formato de tomada. Quanta injustiça! Dessa forma, os vôos do morcego são muito mais descontrolados e ameaçadores. Guiados pela essência da banana sobre a árvore, fecham os olhos e mergulham no ar rumo ao rastro de cheiro. Melhor sair da frente.


3- Comparações bizarras.

Não bastasse possuir deficiência visual e ter um semblante horripilante, o morcego foi, historicamente, comparado a seres malvados e sinistros. Se Conde Drácula e seus vampirinhos se transformassem em gansos, certamente a rejeição dos mamíferos voadores não seria tão grande. No entanto, vemos a criatura como chupadora de sangue, no melhor estilo Nosferatu. Que erro de avaliação! E pensar que a maioria absoluta dos morcegos prefere as frutinhas da estação ao líquido vermelho-ferro.

Talvez o Batman tenha sido o único cabo eleitoral fiel a tentar lhe levantar o moral.

Vamos torcer que o fenômeno Crepúsculo abra novos horizontes na rasa mente humana.

Feio. Cego. Motivo de chacota.

O mundo, definitivamente, precisa de mais tolerância.

A começar por nós.

Da próxima vez, não sairei correndo do carro.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pseudo-poema

Um professor dizia

todo poema é sobre sentimento.


A única outra possibilidade,

caso seja seco e sem vida,

poesia careta e combalida,

deve ter métrica, ritmo ou rima.


Se não tiver um

ou o outro

não é poema.


Pois eu não faço poema,

Se faço, é pra contrariar.

Faço-o vazio, sem alma.


O que sinto?
.
Eu sei.
.
Vocês não.


Poesia de araque,

que esconde, oculta.


Versos inúteis,

nem métrica tem.

Rima? De vez em quando.

Feita à Bangu.


Estrofes desnutridas,

idéias caídas,

palavras a esmo,

mal-escolhidas.


Professor,

você estava errado.

Eis um pseudo-poema

sem seus pré-requisitos.


É, professor.

Acho que você estava certo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Não


Um tiro de calibre trinta e oito.

Seco. Objetivo.

Estampido alto e breve.

- Não!

Um 'não' é forte, preciso e decidido.

Parece não deixar margem para dúvidas.

Três letrinhas escolhidas a dedo.

Um comprimido tarja preta, compacto, de pura negação.

Pense um pouco.

A palavra 'negativo' tem o mesmo significado.

- Vai ao jogo?
- Negativo.
.
Mas dizer 'negativo' é muito mais suave do que dizer 'não'.

No negativo, os ingredientes da recusa estão uniformemente diluídos nas letras.

Uma consoante, uma vogal, uma consoante, uma vogal... equilíbrio total.

É como tomar novalgina misturada na água.
Só se sente o sabor amargo bem de leve.

O não é diferente.

É um sossega leão de efeito imediato.

Se não for engolido com água, pode ser injetado na veia ou até invadir feito supositório.

Êne, a, ó, til.

O 'til' faz toda a diferença. Talvez seja a substância mais forte, o princípio ativo mais poderoso do medicamento.

O til se pronuncia com voz anasalada.

Nenhum som passa pela caixa sonora do nariz discretamente.

Pra se dizer 'não', tem que fazer força.

-Não!

A letra 'n' e o til vibram no aparelho vocálico.

Faz tremer o corpo, faz mexer as moléculas de som, explode no tímpano do ouvinte.

É como sentir no peito o eco de uma caverna após um grito.

Assusta os morcegos e desperta as feras adormecidas.

-Não!

Pois veja o 'sim'.

Muito mais amigável, mais agradável.

O 'sim' desliza boca afora. É uma palavra escorregadia.

O 'S' se encarrega disso. Por isso é tão fácil dizê-lo.

Já o 'não' não. Só se diz com uma boa razão.
---

Epílogo

A espécie humana, cada geração a seu tempo, se julga capaz de estabelecer a verdade sobre todas as coisas.

Mas é também da condição humana viver, evoluir, para descobrir que todas as verdades de 100 anos atrás eram, na verdade, uma grande mentira.

O 'não', tão temido e malvado apresentado no texto acima, nada mais é do que uma grande falácia.

Ele não é tão decidido e obtuso quanto parece.

Se aparentemente ele não deixa incertezas, conhecendo-o um pouco mais descobre-se que é um poço de contradição.

Veja o exemplo.

Se pergunto:

- Quer ir ao cinema hoje?
- Sim.

(Não dúvidas quanto à resposta. A pessoa aceitou o convite)

Mas se pergunto:

- Você não quer ir ao cinema hoje?
- Não.

E aí? A resposta 'não' é para dizer sim ou não?
É para concordar com a pergunta e dizer "eu não quero ir ao cinema"?

Ou é pra negar a pergunta e responder, na verdade "Não! Eu quero sim!"
Na verdade, o 'não' é um grande escravo da vírgula.

Por causa dela, as duas respostas seriam totalmente diferentes.
- Não quero!
- Não, quero!

Quem diria.
O não, afinal de contas, não é tão durão assim...

Ou não?