sexta-feira, 8 de abril de 2011

Estampidos na sala de aula


Alguns ciclos são inexplicáveis e surpreendentes.

Há dois anos, 24 meses atrás, no mês de abril de 2009, escrevi sobre um massacre de velhinhos indefesos por um atirador maluco nos Estados Unidos.

Naquela ocasião, possuído pela força incontrolável que move as pessoas em busca de sentido após uma tragédia tão sem propósito, apontei o dedo para algumas características da sociedade americana como responsáveis pela chacina.

O mundo gira. E girou certinho dessa vez.

360 graus depois, caímos no mesmo mês de abril, desta vez de 2011.

E tenho que reavaliar o texto que escrevi em 2009.

Acabamos de importar um tipo de crime que era comum apenas nos países de primeiro mundo.

Nós já tínhamos o tráfico de drogas, o tráfico de armas, roubos e assassinatos relacionados à pobreza e à má distribuição de renda. Mas podíamos nos vangloriar de não possuir psicopatas atirando a esmo em escolas, asilos e lanchonetes.

Infelizmente, isso acabou.

Wellington Menezes invadiu uma escola em Realengo, no Rio, e disparou contra cabeças de adolescentes.

A equação matemática acaba de ultrapassar fronteiras.

Fácil acesso a armas + tristeza e solidão + um passado de abusos + psicopatia (pode ser) = massacre de inocentes.

Compreendo que a imprensa esteja cobrindo o caso com profundidade e uma curiosidade quase mórbida. O crime gerou uma comoção social muito grande e deixou todo mundo perplexo.

Desvendar e destrinchar essa carnificina faz mal à saúde e ao espírito, nos deixa pesados e tristes... Mas traz uma ilusão, certamente falsa mas consoladora, de que vamos encontrar alguma lógica por trás de tanto sangue e pólvora.

O que me preocupa é pensar que podem haver outros doentes solitários vendo TV e lendo jornais. Pessoas de corpo presente no nosso cotidiano, que esbarram nos nossos ombros nas calçadas lotadas, mas muito amarguradas e distantes das nossas regras sociais.

Loucos que ficam cada vez mais loucos com a realidade cruel desta sociedade injusta, que pesa muito forte sobre as costas daqueles que não conseguem ver beleza na vida.

Que esses psicopatas sentados nos sofás não se inspirem pela ampla divulgação do massacre de Realengo.

Que não enxerguem naquela cobertura avassaladora dos fatos uma oportunidade de existir, de se sentir relevantes numa sociedade que os exclui.

Que não queiram repetir o feito repugnante e animalesco de Wellington Menezes.

Colégios e escolas: que os professores fiquem atentos aos casos de bullying entre quatro paredes, no meio de carteiras e quadros-negros.

A omissão das autoridades escolares, se não cria psicopatas, pode acarretar muito sofrimento e traumas para alunos indefesos.

Que os fracos sejam protegidos hoje.
Para nunca pensarem que, amanhã, serão mais fortes por portarem armas.
Para que não repitam anos depois, de forma mais cruel e sangrenta, a rotina de massacrar pessoas inocentes.

Que o abuso e a coação de um estudante, de forma lenta e covarde pelas mãos de outro mais forte, nunca mais se transforme no extermínio de dezenas de inocentes.

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para ver o que escrevi em 2009:

2 comentários:

Bruna disse...

É muito triste,uma pessoa sem consiência mata pessoas inocentes...

Utopia News - A notícia como você queria ler! disse...

É triste a nossa inconsciência para pessoas que julgamos "sem consciência"!