terça-feira, 26 de maio de 2009

Contra o mar

De touca laranja, óculos de natação, balançava os braços para relaxar os músculos. Eu estava prestes a participar da Travessia dos Fortes, uma prova de maratona aquática.

Do Forte de Copacabana ao Forte do Leme, são 4 km. É distância pra chuchu, a praia inteira de Copa.

Minha cabeça estava a mil. Quantos andrés cabem no mar? bilhões?
Comecei a pensar em tudo o que o mar representa: vida, movimento, coisa indomável, infinitude.

O mar dá vida, o mar tira a vida. Poderoso, não à toa tem um deus próprio em muitas mitologias.

Em poucos instantes, seria eu contra Netuno.

Nem mesmo os colossos inventados pelo homem são páreo para o oceano.
Há um Titanic inteiro dormindo nas profundezas de algum canto do mundo. E se olharmos a superfície, não dá nem pra desconfiar que o monstro está logo ali embaixo.

Se fosse um ser vivo (não que não seja), o mar teria visto tantas coisas. O mesmo corpo oceânico onde eu estava prestes a dar minhas braçadas viu Cabral chegar ao Brasil. Viu batalhas da Segunda Guerra Mundial.


Talvez por isso seja salgado! Taí a solução do mistério!

Tal como faziam na antiguidade, sal para conservar tudo. Sal para conservar todas essas memórias mais remotas.


O mar percebeu a terra se dividindo lentamente, foi se infiltrando nas brechas e, logo, as Américas e a África não eram mais uma coisa só.

Acho que já está bem claro. Eu estava com medo do mar.
Claro, a companhia de outros homens me deu coragem. Ao todo, eram 2 mil competidores.

Mas o nado é algo totalmente solitário. É o seu desafio particular. É você contra seus próprios limites, e contra este inimigo monstruoso e inabalável. Sou uma gota na sua imensidão.

Por que fazer aquilo? Não estava bem mais seguro na areia? - me questionava.

Insensata. Desnecessária. Perigosa. Várias palavras para definir aquela aventura. O receio não era só meu, mas das pessoas queridas também. Por que, pra que?

Mas, misteriosamente, fui em frente.

Tiro de canhão. Começou.

Antes das primeiras braçadas, já deu pra ver que não seria nada fácil.

A pasta de vaselina, espalhada pelo corpo para não dar assaduras, embaçou os óculos.

Chuva, dia frio. Correndo para a água, antes de mergulhar, pedi a um bombeiro, "Passa sua camisa aqui no óculos, por favor. Obrigado."
Agora sim, bem melhor. Visibilidade total.

Logo na largada, percebi que o ser humano sempre subestima o ser humano. Nem mesmo o mar e as outras forças da natureza são tão inimigos do homem como o próprio homem.

E eu achando que meu adversário era a força das ondas, o sobe e desce das águas. Eis que tinha que me preocupar muito mais com as cotoveladas, puxões, imprudência e egoismo dos outros competidores. Na largada, são todos ao mesmo tempo num trechinho pequeno de água.

Parei, esperei um pouco, "Não estou competindo contra ninguém! Deixa eles irem embora! Podem ir, ignorantes, tão absorvidos pela competição homem-a-homem que se esquecem do valor real dessa experiência!"

Foi assim durante toda a existência humana e é assim até hoje. O homem se curva para olhar o próprio umbigo, e deixa de enxergar tudo ao seu redor.

Braçada após braçada, bem devagar, o desafio foi se transformando em prazer. O gigantesco inimigo virou o maior dos aliados.

O mar me acolheu. Me embalou na cadência das marolas. Me fez não mais um corpo estranho, um micróbio a ser esmagado... mas me deus boas vindas, me fez pertencer à aquela imensidão.

Braçada a braçada, vi que não estava, nem de longe, cansado. Era refrescante, era prazeroso.

E mais! O tal sal do mar, perigo para as línguas humanas, causador de sede e agonia, se transformou em berço de criança. Por causa dele, pude flutuar muito mais do que numa piscina. Pude nadar quase sem fazer esforço. Não havia nada a temer.

Por todos os lados, tinham barcos e jet-skis com bombeiros de olho em qualquer um que se afogasse, passasse mal ou sentisse caîmbras.

A presença deles me era indiferente. Logo me vi sozinho na imensidão do mar, nadando, sem hora pra terminar.

Chegar em terra firme seria apenas uma grande recompensa, não mais um objetivo. Pra mim, o prazer era estar ali, naquele momento, abraçando o oceano.

Terra à vista. 1 hora e 20 minutos. Mas já!? Acho que poderia ficar na água o dia inteiro.

Muito prazer, mar. É bom conhecer um amigo inesperado.

5 comentários:

HBO disse...

Quando eu soube desta tua aventura diante do mar eu fiquei aterrorizada. Eu tenho muito medo do mar, aliás de qualquer monte de água que não dá pé. E pensar que uma pessoa que pra mim é muito querida ia enfrentar esse desafio foi um misto de paura e orgulho. Afinal,ele ia tentar superar seus medos, encarar seus desafios e enfim resgatar o orgulho de ver a missão cumprida. Como eu te invejo. Muitas coisas na nossa vida são deixadas de lado por medo. Medo de enfrentar uns tantos desafios. Mas é isso. Temos que enfrentá-los sem competir, sem brigar. Puramente para se orgulhar.
Um grande beijo. Você é meu orgulho. TietA

TATIANA SÁ disse...

Parabens!!
Que delicia, não?

valmir disse...

Viu o Aprendiz ontem? O que achou?
Minha opinião. Exagero total do programa, de querer mostrar uma prova com adrenalia, para exigir criatividade das participantes., colocá-las no meio do nada, no Chile, e mandarem elas se virarem pra voltar pro hotel de sp, só com passaporte nas mãos. O que elas fizeram? Foram mendigar. E isso é empreendedorismo onde???? Elas inventaram historias doidas, mentirosas, para conseguir dinheiro nas ruas. Por muito menos, Justus demitiu vários outros candidatos em provas diversas. Ali, ele avaliava a postura fajuta de uma possível estagiária? Quem convence melhor, na base da mentira ou da humilhação?
Achei que a prova se perdeu, quando elas não foram estimuladas e conseguir dinheiro a partir de alguma atitude mais ‘comercial’. Pedir não é desonesto. Mas pedir inventando que a mãe ta doente ou que a irmã ta grávida no Brasil? Ruim a beca.
Diz aí o que achou!

valmir disse...

Cara, vc viu Justus dando resposta “pra gente” ao vivo ontem, na final do Aprendiz? Hahaha.... ele defendendo a prova da esmola no Chile” ‘Vcs não conhecem o que é empreendedorismo?’. Torci pela Marina, achei que ela ganharia mesmo.
Mas nenhuma das duas reconhecer Margareth Thatcher... francamente! E foi só o justos falar ‘dama de ferro’, que ambas se impressionaram e saíram discursando a favor dela. hahaha

Ísis disse...

Que legal! :)