terça-feira, 14 de abril de 2009

Teto

A média de altura, entre os humanos, deve variar entre 1,50m a 1,75m.

Todos temos uma característica comum: vivemos nossas vidas sem olhar pra cima.

Ok, às vezes reparamos na lua cheia ou percebemos que o céu está bonito.

Mas nosso 'default' é mirar sempre reto, em frente. Como se um grande toldo acoplado a nossos crânios nos impedisse de prestar atenção no que paira sobre nossas cabeças.

Para provar minha tese, recorro à seguinte pergunta: Como é o teto do seu lugar de trabalho?

Como é o teto do restaurante que você mais gosta?

E do shopping que você frequenta?

Consegue fechar os olhos e imaginar seus detalhes? Aposto que não.

Já tenho essa teoria faz algum tempo. Toda vez que me lembro dela, olho para cima e percebo como é verdadeira.

No meu trabalho, por exemplo. Consigo descrever, com certa precisão, a disposição dos computadores, as cores das poltronas. Mas só fui perceber o teto outro dia. É escuro, tem algumas partes metálicas, é possível enxergar tubulações de ar condicionado.

Andei perguntando por aí a amigos e queridos. A verdade é que nunca ninguém confirmou minha tese com a veemência que eu gostaria. Para ser sincero, todos mostraram pouco entusiasmo. Concordaram com pouca ênfase. Desconfio que só para me fazer feliz.

Como, admito, sou teimoso pacas, quis trazer a questão para o blog. E talvez, quem sabe, encontrar a mesma indiferença que senti esbarrando por aí.
Basta afastar o queixo do peito o máximo possível para começar a perceber as pequenas manchas que existem lá no alto, as sujeiras, os relevos, as sombras e outras surpresas.

Quero acreditar, inclusive, que no decorrer deste texto, boa parte dos amigos interrompeu a leitura para experimentar este novo mundo.
E nessa aventura de descobertas, me lembro de uma brincadeira que me intrigava muito quando criança. Bem simples.

Apenas um objeto era necessário: espelho.

Instruções: coloque o espelho virado pra cima, na altura do umbigo, e ande pela casa olhando para ele.

Quando a previsibilidade do chão se transformava em teto misterioso, dava medo de dar um passo a mais.

Cada batente da porta, que separa um cômodo do outro, parecia um obstáculo no qual eu estava prestes a tropeçar. Alguns trechos da casa davam a sensação de serem precipícios.

Teto: um limite dentro de casa. Um limite ao ar livre também.

Essa metáfora do desconhecido se estende para outro teto, o mais impossível que conhecemos; o Espaço Sideral!

Como já disse em um post passado, o ser humano foi criado para ficar preso à terra. Só não cria raízes para não ser confundido com plantas. Já que não viemos ao mundo para voar em direção ao céu, por que devemos prestar atenção nele? Nossa vida é aqui. No chão. Olhando pra frente!

E da mesma forma que a humanidade aprendeu que a infinitude do céu é algo inalcançável, aprendeu também a não olhar para os tetos de concreto que conhecemos. Ou que julgamos conhecer.

Será que tem alguém aí que discorda? Que se acha um expert no ponto mais alto dos recintos fechados?

Fique à vontade, pode atirar pedras. Eu as jogarei também. Todo mundo tem teto de vidro.

7 comentários:

MClara disse...

Eu brincava parecido quando eu era pequena!!! Eu brincava de ficar olhando pro teto e fingindo que aquilo era o chão...depois de um tempo parece que é verdade!

Lembra quando a gente resolveu olhar para o teto do Rio Sul e levou um susto? rsrs

Beijoo

Tat disse...

Eu tb tenho essa mania de olhar pro teto. Acho que pq qd eu era pequena morei num barraco de telha de amianto, e era lindo ver a luz do sol passar pelos buraquinhos da telha. kkkk
Sei lá, mas eu evito olhar, ou olho disfarçadamente, pq quem vê pensa que vc é louco ou que tem lagartixa no teto, te olham estranho ou perguntam: O q foi?
Então acho que sua teoria tem base, senão pq a estranheza?

Zelma Rabello disse...

Interessante! Me fez lembrar uma crônica do Carlos Drumond de Andrade quando escrevia crônicas no Jornal do Brasil e que achei (e continuo achando) lindíssima. Ele contava que estando em casa sentado em sua poltrona, faltou luz. E como perto de sua mão havia uma lanterna, ele ficou brincando com ela, de iluminar aqui e ali. E passou a ver no que iluminava a conjugação de pedaços de diversas coisas, circunscritas pelo foco, o que criava uma realidade nunca antes imaginada ou vista. E concluía, criando uma das frases mais lindas que conheço e da qual jamais esqueci: "Mas o que é a realidade, senão o acaso da iluminação?..."

Rach disse...

matéria da time out, se não me engano, que se chama look up. revela detalhes daquela imensidão que a gente não vê.

e eu, que qdo ando, olho pra baixo? um horror!
bjos

TATIANA SÁ disse...

MClara, eu tbm adorava brincar disso quando pequena. Eu deitava no chão da sala e passava horas imaginando como seria se o teto fosse o chão de casa. E eu achava lindo!...rsrsrs
Valew o post!

Remi disse...

Nossa, também brincava dessas duas coisas! Mas eu ficava com a cabeça pra fora da minha cama, e começava mais a pensar que o chão era o teto do que eu contrário, e começava a pensar como era estranho as coisas caindo pra cima. Mas também me divertia demais quando pegava o espelho, mas em geral passava pouco tempo brincando com isso, só ia até a parte mais emocionante, que é quando o teto subia muuito e parecia que eu cairia num precipício, eu demorava pra passar, mas quando eu conseguia, eu largava o espelho, e deixava a brincadeira de lado.
Teoria absolutamente verdadeira, mas eu acho que atualmente já projetam os tetos na pretensão de não serem coisas interessantes de serem observadas.

Ísis disse...

Engraçado que eu adoro olhar para o teto dos lugares, para o céu.. ficar observando, etc.. ^^