sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

De volta ao Takanakuy

Socos, chutes, muita agressividade.
Sangue. E um juiz para interromper a luta quando alguém começa a se machucar muito.

Assim é a festa do Takanakuy.
Este é o método usado para resolver rixas pessoais num povoado do Peru.

Uma vez por ano, dia 25 de dezembro, habitantes se enfrentam, dois a dois. Até crianças entram na briga. A aprovação popular beira o 100%.

Uns posts atrás, escrevi sobre isso e coloquei uma enquete. Deu empate. Metade acha o método válido para extravasar a raiva imbutida. Metade condena a prática.

É difícil opinar, por isso o caso é tão interessante.

Se adotarmos o relativismo cultural, tudo aquilo que nos parece estranho mas pertence a outra cultura é válido e legítimo.

Ou seja, tudo pode.
Burka sufocante nas mulheres de Cabul pode. Sapatinhos 5 números menores que os pés das concubinas chinesas, que os deformam, também pode. Mulheres apedrejadas por adultério na Arábia Saudita, ôpa, esse também é supernatural!

Mas como não dá pra aceitar tudo, deve haver alguma linha que separe o absurdo do tolerável, algo que respeite o senso comum de todos os habitantes do planeta. Aí está o desafio do homem, encontrar esse limite.
Assim, voltamos a nossa vila peruana, onde todos trocam tapas até tirar sangue para dar vazão às angústias do dia-a-dia.

Na minha opinião, não podemos apontar o dedo à agressividade dos outros sem esquecer que o nosso cotidiano urbano é tão bélico quanto o peruano. Aqui, se buzina à toa, se xinga no trânsito, se faz gestos obcenos.

Briga de mão? Surge em qualquer lugar, a qualquer hora, seja entre bêbados no bar, entre torcedores nos estádios, entre motoristas desaforados, entre pitboyzinhos na boate.

Raiva, ódio. Afloram em qualquer cidadão de bem que leia as notícias deste país, reino da impunidade. Que vontade de esmurrar aquela cara cínica do Luiz Estevão, do Maluf, do Collor!

Nosso dia-a-dia também oferece elementos para sermos tão violentos, ou mais, que a comunidade do Takanakuy. Mas será que a troca de socos e pontapés por lá estimula uma sociedade mais violenta, que autoriza a agressão física como modo de resolver pendengas?

Para responder isso, teríamos que pesquisar o cotidiano, os índices de criminalidade e violência deles. Tenho a impressão de que a briga fica dentro da arena, apenas lá dentro, e não transborda para o convívio social.

Minha única restrição ao Takanakuy é com relação às crianças. Não acho que elas devessem fazer parte da troca de tapas. Não acho que têm estrutura psicológica para compreender aquele fenômeno social. Acho que expô-las a essa festa da agressão pode deformar a índole que ainda não amadureceu.

Só assim, talvez, a futura geração não aprendesse a violência como regra. E pudesse festejar o Takanakuy só com dança e fantasias, abrindo mão dos chutes, dos socos e do sangue.

2 comentários:

Anônimo disse...

prefiro jogar Imagme e Acao

Ƭ. disse...

É. É preciso mesmo enfiar o fio terra com força e respirar fundo, de vez em qdo.