A selva urbana que vivemos produz algumas anomalias que já se tornaram banais, tal é a frequência com que insistem em acontecer.
Caminhoneiros que carregam toneladas pelas estradas afora, sem poder dormir. Como pode existir essa profissão? Um acidente ambulante, esperando para acontecer. Ah, e com obstáculos esburacados para dar mais emoção.
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Este é apenas um dos absurdos cotidianos. Tem também os seres-humanos que puxam carroças de entulhos; casebres que desafiam a gravidade, crescendo morro acima, com alicerces frágeis. E tantos outros que, às vezes, nem causam mais indignação.
Mas há um, menos perigoso e degradante que os citados acima, que me chama muito a atenção. E me revolta bastante.
Por que será que a classe média aceita ficar fazendo fila pra comer?
Ok, o restaurante é bacana, a comida é de qualidade, frequentar aquele lugar dá status e tal... Mas esperar mais de uma hora para sentar-se à mesa é um exagero!
Sem contar que o sujeito já chega ao restaurante com fome. Eu, quando tenho fome, se esperar mais uma hora me transformo no Senhor Rabugento!
Confesso, é uma opinião meio radical. Cada um é cada um, quem quiser esperar que espere. Sei, sei, não tenho nada a ver com isso.
Mas por algum motivo ainda não decifrado, isso sempre me irritou. Na Zona Sul do Rio tem os campeões da fila. Filé de Ouro, Braseiro, Pizzaria Brás... claro, e o campeoníssimo OUTBACK, o maior fenômeno de lotação da história da gastronomia do Brasil.
Pense em qualquer horário e qualquer dia. Qualquer um! Tem fila!
Cara, quer aberração maior que um cliente ganhar um "pager" que vibra quando chega a vez de sentar?
Me irrita um pouco passar por esses lugares e ver as pessoas sorridentes, conversando (e suando, várias vezes, quando a fila é ao ar livre). De pé, ou mal sentadas, mal acomodadas. Mas na boa, conformadas, esperando a vez.
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Sei lá, acho que me incomoda tanto porque parece uma metáfora social. Esse "aguardar passivamente" representa um comportamento cotidiano maior, de acomodação, de que tudo está bom como está, contanto que seja imposto pelos lugaresinhos-chiques-formadores-de-opinião.
Me irrita um pouco a apatia, o ar blasé, amparado e abençoado por uma grande marca de restaurante: "Ah, estou aqui perdendo tempo mas, afinal, estou esperando para comer no Outback!"
Me transmite um pouco de descaso com o próprio tempo livre. É como se a experiência social vazia se sobrepusesse à vontade que as pessoas têm de se divertir, de gastar o lazer com coisas mais prazerosas.
Sei lá, ultimamente tenho andado pensando muito que o homem se realiza mesmo é no seu tempo livre, e não tanto no trabalho. Trabalhar com o que se gosta é uma benção, que não sorri para todos. Mas escolher o lazer é algo totalmente pessoal, que não depende de mais nada.
Dar uma corrida, dar um pulo na praia, ver um bom filme, dormir e sonhar, ir a um show, escrever, ler, pintar, pedalar, viajar, jogar bola, tocar um instrumento, tirar fotos, ficar de bobeira, namorar... Isso tudo nos traz realização de uma forma quase-transcedental.
Mas ficar parado na porta de uma birosca, sorrindo e suando, isso não!
5 comentários:
Pegar pager no outback é tão tranquilo! O pior é colocar seu nome numa fila de espera que quando chega a sua vez, você...é colocado em outra lista! é isso mesmo, aquela lista de espera só serve para ordenar os que têm seus nomes colocados em outra lista. O pior é que quando vc pergunta quantas mesas têm na sua frente, a resposta nunca é 15 (o q já seria muito!), é sempre 47, 48, 49.. e por aí vai!
E como se o outback fosse baratinho, baratinho...
Pois é, MC, e ainda temos que nos sujeitar ao raio desse pager. Um dia (de fúria), com trocadilho, no meio do resturante do boomerang, ainda faço daquele pager um frisbee!
neurotico
muito neurotico
odeio
André,
Eu perdoo seu mau humor.
Realmente, não tem nada haver ficar em fila de espera para comer uma cebola apimentada , que mais tarde dá uma baita azia e outras cositas más, muito very,very expensive.
Drei, texto genial! Concordo com tudo, sem alterar nem uma só vírgula. Esperar em fila pra gastar seu dinheiro é um absurdo que não entra na minha cabeça. E concordo com você sobre o trabalho...
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