segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

De volta do DF

Mais uma cidade para a lista.
Agora sim, posso dizer que conheço a capital do país.

Do cockpit até a cauda, passeei pelo Eixo Monumental.

Da Asa Norte à Asa Sul, senti de perto como é a tal cidade construída na forma de um avião.

Ficamos hospedados na casa do jovem casal de diplomatas mais culto da capital. Foi muito bom rever meu amigo, os dias voaram com a rapidez de quem está feliz demais para prestar atenção no tempo.

Mas realmente, morar no Distrito Federal não faria muito a minha cabeça não.

A cidade é, de fato, previsível demais.

Ela não te deixa esquecer nem mesmo o nome de uma rua. Aqui no Rio, sempre me pergunto: "Qual é a rua que fica entre a Garcia D´Ávila e a Joana Angélica mesmo?"

Lá é impossível. A rua entre a Q2 R3 e a Q2 R5 será sempre a Q2 R4! (ou algo assim).

Há muitas retas e ângulos retos. Muitas formas geométricas, feitas por máquinas e não moldadas pelos mares e montanhas da natureza.

Até o lago Paranoá foi esculpido pela mão do homem.

As ruas não foram feitas pra andar. Quase não se veem seres humanos nas suas formas normais, caminhando, convivendo. Não se veem corpos, pernas e braços fazendo parte da paisagem.

As pessoas estão sempre dentro de carros e ônibus, travestidos de máquinas, talvez para se integrar mais suavemente ao cenário do planejamento urbano.

No entanto, eu me senti mais musical na cidade-berço do Legião Urbana e dos Paralamas do Sucesso. O violão lá tem mais graça do que no Rio.

Aquelas linhas retas, quadrados e quadrantes imploram por uma dose de imprevisível.

Aquele espaço urbano não respiraria sem a poesia e a melodia das curvas do Niemeyer. Sem a inspiração e o som do Renato Russo. É questão de sobrevivência.

O planejado precisa do espontâneo para viver, senão torna-se insuportável.

E, por favor, leitores de Brasília. Levem em conta que este relato é um estranhamento de um forasteiro, sem autoridade alguma para dar pitaco na cidade dos outros.

Quem sabe, se eu morasse na capital, descobriria também algum encanto particular?
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PS: Velho Niemeyer! Me enganou durante 28 anos, precisamente até a última quinta-feira à noite! Me deixou acreditar que as metades de esferas do Congresso Nacional, uma virada pra cima e a outra pra baixo, eram tão simétricas quanto o resto da cidade! Me iludiu, me fez crer, pelas fotos, que elas tinham o mesmo tamanho.

Pois precisei ver de perto para descobrir que a meia-bola do Senado, virada pra baixo, é bem menor do que a da Câmara dos deputados.

E você, sabia disso?

3 comentários:

Anônimo disse...

quando você começava a ser um ser falante e observante, dizia-me quando chegávamos a São Paulo:mamãe, aqui não tem nenhuma montanhinha?
viva Brasília com sua idiossincrasia e nós, com as nossas!

Rach disse...

minha tia é muita fantástica.

Anônimo disse...

Fala, Drei! Cheguei de férias e só agora vi seu post sobre Brasila. Em primeiro lugar, Nássara e eu agradecemos pela parte que nos toca. São palavras muito gentis e não sei se merecemos tanto. O tempo voou pra nós também. Sua visita, desde o dia em que recebi o email confirmando que ela ocorreria, foi um sopro de alegria na aridez do planalto central (que nem estava tão árido assim nesta época do ano, como você pôde comprovar...). Bom, esperamos vocês aqui de novo, e o violão é sempre bem-vindo! Abraço enorme.