segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Inerte

Parado. Estático.

De carabina em riste, apoiada no ombro.
Roupas militares, mangas longas.

Olhar parado, fixo.

Seria melhor se fosse uma estátua. Mas era um ser humano.
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Eu sempre quis saber: Por que os soldados em guarda não podem se mexer?

Claro, tem a ver com a disciplina militar. Um soldado inerte, que não responde a estímulos externos, mostra força e controle. Estar parado enquanto o planeta gira mostra que, ao contrário dos demais cidadãos, aquele sujeito não responde às ordens do mundo. Aquele soldado só recebe ordens de superiores militares!

Calor? Incômodo? Coceira? Ah, isso é coisa da reles gentalha. Um guarda em serviço jamais sucumbe a esses pormenores.

Os soldadinhos vermelhos de chapéu preto de Londres protegem a Rainha.
O cabo brasileiro em frente ao Palácio da Alvorada vigia o presidente.

Ambos congelados, tristes, feito coisas.

Que pena. Uma das tradições das Forças Armadas é viver do discurso e não da verdade. É acreditar ser uma máquina de guerra quando, na verdade, o que existe é um menino com medo.

É vociferar coragem e disciplina, é se afirmar na masculinidade de um rifle. Mas os defeitos mais comuns da raça humana estão lá, escondidos, na camuflagem dos uniformes.

É fazer alguém acreditar que ficar parado, estático, durante horas é símbolo de poder e vigília, e não a maior das agressões que se pode fazer a um corpo de gente.

Organismo vivo que fica imóvel não é humano. É árvore. O homem foi feito para mexer.

Firme, estático, o soldadinho paralisado é o símbolo da disciplina militar que leva nas vestes: enquanto o mundo muda, evolui e involui, ele fica estagnado, amarrado, estancado.

De vez em quando, ele varia um pouco. Marcha. 10 passos à direita, roda, 10 passos à esquerda, uma voltinha, estático novamente.

Ritual tão cruel quanto ficar parado.

O que deve contar aos entes queridos quando chega em casa? "Amor, hoje fiz minha rotina 200 vezes, e fiquei sem mexer durante 3 horas".
Por tudo isso, vejo uma ponta de razão no soldadinho que agrediu um turista equatoriano em Londres. Razão não! Na verdade, vejo emoção. A emoção aflorando, espontânea, ao menos uma única vez.

O video deu voltas no mundo pela internet. E está aí embaixo, é só dar play. Claro que o guardinha agiu errado. Mas eu estou do lado dele.

Deixe explodir essa raiva, saia da rotina, deixe de lado os passos calculados, improvise!

Rasgue essa roupa vermelha, jogue fora esse chapéu! E aprenda de uma vez que disciplina e competência não precisam ser escravas da ignorância e do atraso!


Um comentário:

Fernando Burgés disse...

Sensacionaaaal!!!! Pô, pena que o video corta no ápice!!!
Teria o soldado de chapéu preto utilizado sua baioneta pela primeira vez ??? Adoro.