quinta-feira, 30 de julho de 2009

Homem na corda

Tive medo de chegar à janela. Tomei coragem e olhei lá pra baixo.

Em 1998, subi ao último andar do World Trade Center, em Nova York.
Havia um mirante no 104° piso da Torre Norte.

Das coisas que mais me lembro, uma delas era a velocidade do elevador. Do chão até o topo, os andares iam ficando pra trás no mostrador digital. Parecia um cronômetro: cada piso passava como um segundo.

A outra era assustadora. Quando olhávamos, lá do alto da janela, para a outra torre gêmea, a víamos balançar. Sim, os dois prédios, de tão altos, gingavam levemente, como um pêndulo, de um lado para o outro. Foram feitos assim para resistir às rajadas de vento.

Morrendo de vertigem, olhando para os carros pequenininhos lá embaixo, eu ainda não sabia dos dois grandes ataques da história daquelas torres.
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Um deles ainda estava por vir; seria letal, catastrófico e definitivo.

O outro tinha acontecido mais de vinte anos antes. E foi algo belo e assustador como o mundo nunca tinha visto.
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"A morte está muito próxima", disse o francês Phillippe Petit pouco antes de começar a caminhar pelo cabo de aço que ligava as duas torres. Ele conhecia os perigos e sabia que estava prestes a cometer uma loucura total. Mas aquele ato era, também, fruto de muito estudo, muita coragem, uma pitada de subversão e a conquista de um sonho de 6 anos.
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Assisti, esta semana, ao filme Man on Wire, chamado no Brasil de O Equilibrista, vencedor do Oscar de melhor documentário de 2009.

É um filme mágico, que conta a peripécia de Petit em agosto de 1974, quando caminhou entre os prédios do WTC a 410 metros de altura. Quem não viu, tem que ver!

É a história de uma obsessão que começou em 1968, na sala do dentista, quando Phillippe viu o desenho dos arranha-céus numa revista. Eles ainda nem haviam sido construídos.

Com a ajuda dos fiéis amigos e da namorada, o equilibrista já havia caminhado na corda bamba sobre a Catedral de Notre Dame, em Paris, e numa ponte em Sydney. Precisava dos companheiros mais do que nunca para realizar a façanha em Nova York.

Phillippe viajou aos Estados Unidos várias vezes durante um ano. Estudou tudo o que era preciso saber sobre as torres. E, de primeira, concluiu:

"É realmente impossível fazer isso. Então, vamos começar a trabalhar."

Quando lemos ou ouvimos falar da loucura de Petit, não conseguimos ter a dimensão exata da dificuldade do que o camarada fez.

Pense na proeza por um segundo: Como levar um cabo de aço de 200 kg até o topo? O que fazer para atravessar o cabo de um terraço ao outro? Como fazer isso sem ninguém perceber, já que era proibido???
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E como, finalmente, caminhar no infinito dos céus, aguentar as rajadas de vento e suportar a assustadora visão da imensidão abaixo dos pés?
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O planejamento parecia o de um assalto a banco: havia desenhos, simulações, cálculos e maquetes. Phillippe treinava na França e pedia para os amigos balançarem a corda bamba, simulando a ventania de Nova York. Sabia que se tratava de um feito histórico. Registrou tudo com a própria câmera.

Para enfrentar o medo, havia um jogo psicológico: o francês alugou um helicóptero e sobrevoou as torres. Era uma maneira de ficar ainda mais alto do que ele estaria quando realizasse a extraordinária caminhada. Um modo de dizer a ele mesmo que o monstro não era tão assustador assim.

Quando enviou à namorada um cartão postal de NY, escolheu a foto das torres. E desenhou sobre elas um fiozinho, ligando o topo das duas. Uma vitória simbólica sobre o perigo que iria enfrentar.

"O objeto de desejo, o sonho, fica ali parado, imenso, te encarando, te desafiando"; descreveu Petit. O francês se sentia provocado, instigado pela presença arrebatadora daquelas torres.

Petit. Você já deve ter notado, né?

Petit significa "pequeno" em francês. Um revival de uma das fábulas bíblicas mas conhecidas: o pequeno contra o gigante. David contra Golias!

Mas o nosso David não usava estilingue. Na verdade, até cogitou usar a atiradeira. Mas seu melhor amigo acabou sugerindo o arco e flecha! Foi uma arma mais eficiente para fazer a corda, enrolada em carretel, na calada da noite, percorrer o vão de 60 metros de um edifício ao outro. Uma vez atirada, a flecha desfez o rolo de fio e teceu-se o tênue caminho entre as torres.

O plano para chegar até o topo era incrível: todos disfarçados de operários, de capacete, crachá e macacão, usando o elevador de cargas para carregar o cabo de aço. Um álibi perfeito, já que o complexo não havia sido inaugurado. Estava ainda em obras.

Viraram a madrugada escondidos dos policiais. Uma dupla de um lado e a outra do outro. Um disparou a flecha, o outro a recolheu no prédio vizinho. Com a corda entre eles, experientes na labuta e na contravenção, puderam, assim, passar, de um lado para o outro, cordas mais pesadas, mais densas, até que fosse possível, também, atravessar o cabo de aço. Tudo com muita discrição.

Voilá! Apesar de muita tensão, tudo pronto com o nascer do sol. Petit estava prestes a enfrentar o gigante.

Manhã de 7 de agosto de 1974. Petit deu os primeiros passos, com medo, para testar o caminho. Tão logo ficou seguro, começou a se apresentar!

Ia pra lá, pra cá. Deitou-se na corda bamba, ajoelhou-se e fez reverência para o público. Uma multidão, lá embaixo, acompanhava tudo aterrorizada e fascinada! Mas não podiam ver os detalhes! Phillippe Petit era um pontinho negro meio-quilômetro lá nas alturas.

Lá em cima do fio, cometeu ainda mais uma ousadia: olhou pra baixo!

A polícia chegou ao topo! -Você está preso, saia já daí!; berrou o megafone.

Petit ria e provocava. Andava até pertinho do policial, dava meia-volta e retornava ao meio do caminho!

- Saia agora daí ou então vamos mandar um helicóptero te buscar!!!

O francês percebeu que era hora de dar fim à aventura. Quando abandonou a corda-bamba e se entregou às algemas da polícia, tinha permanecido 45 minutos sobre as nuvens. Cruzou o cabo de aço oito vezes.

Pela primeira e única vez na história, as torres Norte e Sul estiveram ligadas. Petit uniu os irmãos gêmeos. Transformou-os em siameses.

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O ser humano conhece duas formas de conquista: pela força ou pela genialidade.

A história consagra violentos guerreiros. Até hoje estudamos Gengis Khan, Júlio Cesar, Adolf Hitler, Napoleão.

A história também eterniza gênios e artistas. Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Platão, John Lennon mudaram o mundo.

Quando as duas torres foram instaladas no sul de Nova York, numa zona suja e pouco nobre da cidade, provocaram alguma sensação em todo homem que as admiraram.

Aquele colosso, até então a mais alta construção já erguida pela humanidade, despertou em muitos um ímpeto conquistador. Um desejo louco de ser maior do que a imensidão dos gêmeos de aço.

Osama Bin Laden (e os terroristas que ele representa) vislumbraram o impacto mundial de conquistar aqueles edifícios. Por motivos históricos, alguns bem razoáveis, escolheram o caminho da destruição. Assassinaram 3 mil pessoas e perderam a razão.

Phillippe Petit, também louco, preferiu outra direção. Para conquistar as torres, misturou criatividade, genialidade e muita coragem. Atacou-as no cair da noite e presenteou o planeta ao amanhecer.

Guerras e tragédias mudam o mundo. A Arte também.

Quando os cinco continentes ficaram atônitos com o atentado de 11 de setembro, Bin Laden deixou vazar um vídeo de longos minutos, um blablabla terrível, explicando o ataque e justificando tantas mortes.

A diferença entre a Guerra e a Arte é que, na primeira, há milhões de argumentos e desculpas, mas ninguém tem razão.

A Arte não precisa de explicação. Não tem motivo para existir. Ela apenas existe.

Perguntado, no camburão, por um repórter: "Why? Why did you do it?", Petit respondeu "There is no why!"

A Arte não tem porquê.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Corpos embrulhados

Às vezes, passamos e vemos.

No chão, corpos embrulhados. Já viu?

Dia chuvoso, friozinho do inverno, e uma massa corporal qualquer repousa sob um cobertor imundo na calçada.

Poderia ser qualquer coisa: caixas de papelão, um amontoado de coisas sem importância, lixo...

Mas são humanos. Humanos!
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Sempre que passo, imagino o porquê de se cobrirem tanto assim, da cabeça até os pés.

Claro, a baixa temperatura faz com que os moradores de rua se encolham sob as cobertas.

Mas há algo mais.
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Empacotada naquele embrulho, está também a auto-estima dos mendigos.
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À beira da sociedade, repousam sem ser incomodados. Dormem sem identidade, sem rosto. Ignorados pelos pedestres, esquecidos pelas autoridades.

A prova de que o amor ao próximo não está entre as principais qualidades do ser humano.

Contraídos, enrolados nas cobertas, diminuídos para se proteger do frio, não revelam se são homem ou mulher. Se são menina, adulto ou idoso.

Nada se vê. Apenas um volume se insinuando sob um cobertor fétido.

Nas entrelinhas, lê-se o seguinte:

Estão vivos? Estão mortos? Não importa. Ninguém se importa.

Afinal, o que é um embrulho com uma pessoa dentro senão aqueles sacos pretos para transportar cadáveres?

Empacotados, caídos na calçada, berram em silêncio:

-Somos mortos-vivos, sujos indigentes. Mas você não está nem aí!

Talvez sim, talvez não

Amigos,

A enquete foi bem bacana!

A discussão nos comentários foi bastante produtiva!

E o resultado da votação mostra que o assunto é polêmico mesmo e divide opiniões.

9 internautas acham que o homem pisou na lua.
7 leitores acreditam que o homem não pisou na lua.


Entre dúvidas, fatos, versões e conspirações, meu querido irmão Ricardo, mais conhecido pelo Rio de Janeiro afora como "Dão", comentou de forma definitiva:

"Todas as teorias são legítimas e nenhuma tem importância. O que importa é o que se faz com elas." - jlb

Perfeito e objetivo. Mas, Ricardo, elucide a questão para nós, mortais e ignorantes:

Quem é JLB??? A minha ficha não caiu!

Obrigado a todos que participaram.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Bilhete premiado

Milhões de pessoas apostam.

Gente do Brasil inteiro tenta.

Acertar os 6 malditos números não é nada fácil.

Às vezes, passam-se sorteios e sorteios, bolinhas e bolinhas rodando no globo de metal e nada... ninguém é contemplado!

Pois, desta vez, o prêmio saiu para o Rio de Janeiro.

De todos os municípios possíveis no Brasil, os felizardos vivem aqui, na cidade onde moro.

Digo mais:

Neste exato momento em que escrevo, se me desse na telha sair de casa de chinelos e pijama e ir até a casa lotérica onde foi feita a aposta premiada, sabe o que eu teria que fazer?

Eu faria, simplesmente, o seguinte: caminharia até o elevador, apertaria o botão, desceria até o térreo, daria, talvez, uns 120 passos até a porta de um Shopping Center, subiria quatro andares de escada rolante e... pronto! Lá está a lojinha que representará, para sempre, o dia que mudou a vida de tantas pessoas.

(Está nos jornais: apesar de uma aposta única ter vencido a Mega Sena, tratava-se de um bolão com dezenas de funcionários da mesma empresa. Do diretor à faxineira. Quanta gente não vai aparecer pra trabalhar amanhã, hein?)

Voltando à minha saga particular: a casa lotérica que vendeu o bilhete premiado fica aqui do lado de casa! Do lado mesmo!!!

Fica no Shopping Rio Sul, onde vou todos os dias para jantar (sim, tenho preguiça de fazer comida em casa).

Durante 3 anos, por várias vezes, passei em frente à lojinha com total indiferença, sem levar fé que ali estava a mina de ouro para alguns sortudos... por que não eu?

A sensação é esquisita. A Mega Sena parece um sonho tão impossível e, de repente, o bilhete premiado surge na porta da minha casa! Fica um gosto azedo de traição: "Você, logo você, lojinha querida... tão conhecida, tão íntima! Me apronta uma dessas!!"
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E a incredulidade que existia antes da bolada milionária se renova, agora, com muito mais força: "A probabilidade de o prêmio sair de novo aqui na lotérica é remotíssima! Você perdeu a oportunidade de uma vida!", avisa minha consciência. Obrigado, muito obrigado por me lembrar disso!

Flutuando nas nuvens do que poderia ter sido, das hipóteses mirabolantes, da oportunidade única que apareceu debaixo de meu nariz e fugiu debochada, surge um lampejo de juízo sensato e caio de cara no chão!

Mas peraí!!!! Quem é que disse que eu teria ganho só porque a Lotérica é vizinha da minha casa????

É verdade! Caí na real!

Podia ser até pior. Imagina se eu tivesse jogado, descobrisse que o prêmio saiu aqui pertinho e tivesse a desilusão de encontrar a sorte beijando outro homem? Oh, terrível deslealdade!
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Eu ainda não tinha mencionado esse pequeno detalhe, não é? Eu nunca aposto na Mega Sena.

Não tenho esse hábito. Sem jogar, é bem mais difícil ganhar...
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Pensando bem, todas essas palavras, todo esse texto foi tempo perdido. Tempo seu, leitor, e meu também. Um grande resmungo sobre o nada! Um grande exercício de elocubrações sem propósito.

A história de um bilhete que jamais foi comprado, jamais foi preenchido, jamais me pertenceu, e que tirou a sorte grande a poucos metros do meu apartamento.

Fortuna. Sinônimo de dinheirão! Sinônimo, também, de sina!

Este é apenas um conto sobre a chacota do destino, cheio de cifrõe$, que resolveu fazer a curva aqui na minha esquina enquanto sorria, caçoando da minha cara.

Terra estrangeira

História de um gringo no Brasil.
O dinamarquês chegou ao nosso país sem falar uma palavra da língua portuguesa.

Faz mais de 10 anos. Hoje ele já está adaptado, trabalhando e falando superbem.

Mas naquela tarde fatídica, resolveu, não sei por que cargas d'água, sair para tomar uma bebida bem brasileira.

Talvez, inconscientemente, quisesse obter, através do primeiro porre no país, a sensação de que daria conta de tudo o que pintasse pela frente.

Se aguentasse o sabor estranho do álcool desta nova pátria, provavelmente estaria pronto para todas as dificuldades.

Parou no boteco, botou o umbigo no balcão e apontou para uma garrafa com um amarelo bem vivo, que lhe chamou à atenção.

O atendente esticou o braço, buscou a garrafa e a colocou sobre o balcão.

Perguntou se ele queria um pouco d'água com aquilo.

O gringo não entendeu.

Apanhou uma garrafinha d'água e pôs sobre o balcão, ao lado do líquido amarelo.

De jeito nenhum! O dinamarca queria beber puro! Sem frescura!

Abriu a tampinha de enroscar!
Virou o líquido de gut-gut.

O dono do boteco e o atendente fizeram cara de horror.

Era suco Maguary concentrado. De maracujá.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Percevejo a 100 km/h

Entrei no carro, bati a porta.

Estava quase dando a partida quando percebi, pousado no vidro dianteiro, um percevejo.

O carro dormiu na rua. Uma rua cheia de árvores.

Imaginei que aquele ali era o habitat natural do percevejo. Sabe aqueles bichinhos verdinhos, que se escondem nas folhas?

Conforme comecei a acelerar, pensei: - Caramba, estou levando o inseto pra longe daqui. Considerando que estou indo para o outro lado da cidade, como será que ele reagirá ao novo bairro?

Será que ele se adaptaria? Será que, pra ele, é tudo a mesma coisa? Ou talvez estranhe a nova morada, com fauna e flora novas, e não resista?

(Incrível como minha imaginação pode ir longe às 7h da manhã)

Ou será que ele é um aventureiro?

Quem sabe o seu cérebro de percevejo já não percebeu, lá de cima da árvore, que esses bichões arredondados de metal, de várias cores, roncam os motores e transportam corpos para lugares distantes?

Quem sabe não quis uma carona? Quem sabe não é um jovem animalzinho de índole nômade, aberto às novidades da vida?

Conforme eu acelerava, percebi que ele não arredava pé dali. Não saiu voando, não se deixou levar pelo vento forte.

Continuei viajando: Como o mundo cria oportunidades maravilhosas, não é? Como a vida é um ninho de contrastes!

Quando nasceu o primeiro percevejo, com anteninhas, pernas grudentas, corpo achatado e um exoesqueleto habilmente projetado para os riscos da natureza... será que Deus sabia que, um dia, o pequeno estaria a bordo de um carro motorizado, construído pelo homem, surfando do lado de fora?

É o encontro da natureza mais rudimentar com um dos aparatos que mais representam a tecnologia humana!

Suas patinhas foram feitas para resistir a rajadas de vento na floresta, gotas de chuva nas folhagens... mas conseguiriam se equilibrar no vidro de um automóvel em movimento?

- Me desculpa, seu percevejo, mas tenho que acelerar mais um pouco! Nessa rua aqui, não posso ficar de bobeira!

Aos poucos, o inseto foi perdendo a aderência. Com muito vento, foi sumindo, pouco a pouco, na parte de cima do meu vidro, logo atrás do retrovisor.

Acho que a obstinação daquele bichinho não foi páreo para os 60 cavalos do motor do meu Celta Chevrolet.

Quando ele finalmente desapareceu, fiquei triste...

...

... mas posso jurar que ouvi uma vozinha miúda, gritando do lado de fora!

"Valeu fera! Vou saltar aqui mesmo!!! Depois pego um 'bonde' de volta pra Gávea!"

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Pisou ou não pisou?

40 anos se passaram e a discussão só aumenta.

E aí? O homem pisou ou não pisou na lua?

Os argumentos são bons dos dois lados. Há quem pense que foi tudo propaganda yankee típica da Guerra-fria. Outros pensam que chegamos lá sim, por que não?

Conheço muita gente boa que defende a tese de que "óbvio que não chegamos à lua, é muita mentira!"

Meu primo Fernando, também conhecido como Touro, é um deles. Estudioso, inteligente, fascinado por fatos históricos e... sempre do contra!

(Mas eu diria que a rápida aparição dele no Fantástico de domingo passado, comentando o tema num videozinho enviado pela internet, jogou grande parte da credibilidade dele pelo ralo! Trocou sua boa reputação por 5 segundos de fama. Um legítimo BBB disfarçado.)

Cristiano, diplomata cheio de informações e fontes no mundo da conspiração, acredita que o homem na lua foi um grande truque. Ele também duvida da versão histórica apresentada para o 11 de setembro.

Maria Clara, minha namorada, e Francisco, irmão dela, também acham que é história da carochinha. Chico dá bons argumentos. Ele diz o seguinte:

"Me explica como os russos foram os primeiros em tudo: os primeiros a mandar animais para o Espaço, os pioneiros em mandar expedições tripuladas, orbitar a terra e descobrir que ela é azul... mas eis que, do nada, os primeiros a pisarem lá são os Americanos! Como pode isso?"

Além disso, ele crê que tudo foi encenado em estúdio. Concordo com ele que é bem possível reproduzir aquela paisagem até no Projac.

Existe, ainda, a seguinte desconfiança sobre os três personagens pioneiros: Já perceberam como os 3 astronautas, Collins, Aldrin e Neil Armstrong não são pessoas públicas? Ninguém dá entrevistas.

Buzz Aldrin, de fato, teve problemas com alcoolismo e Neil Armstrong mora num pacato rancho distante da civilização. Mas Michael Collins virou professor em Harvard. E dois dos cosmonautas escreveram biografias, o que retira um pouco do caráter sigiloso da vida deles.

Com o assunto em voga, saí por aí perguntando, a amigos e queridos, a opinião de cada um.

Meu pai tem certeza de que os três mosqueteiros foram à lua em julho de 1969, um evento transmitido ao vivo para o mundo inteiro. Afirma o seguinte: "As pessoas esquecem que não foram apenas Armstrong e Aldrin que pisaram lá. Outros dez astronautas também fincaram as pegadas no satélite!"

Tenho que dar o braço a torcer. Com um pouco de pesquisa, vi que as expedições lunares Apolo duraram de 69 a 72. No total, doze humanos pisaram lá. Sem contar as dezenas de astronautas que fizeram parte das viagens cósmicas.
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"Já pensou a quantidade de gente envolvida nesse projeto? Como seria difícil manter todo mundo calado para sustentar essa farsa pra sempre?", meu pai pergunta.

Meu amigo Felipe também crê que é tudo verdade. Ama estudar história, é viciado em dvds de documentários, confia plenamente nos filmes que viu contando como toda a expedição foi planejada e posta em prática.

Amigos, entre prós e contras, revelo minha opinião. SIM, O HOMEM PISOU NA LUA!

Como um último argumento, faço a seguinte ponderação:

Já perceberam como, tragicamente, as guerras foram as maiores molas-propulsoras da evolução tecnológica?

Ironicamente, o maior símbolo do atraso e da destruição, que são as guerras, é também o que faz a ciência caminhar pra frente.

É assim desde os primórdios. Os homens primatas que usavam o fogo conquistavam as outras tribos. As civilizações de arco e flecha perdiam para as que chegavam munidos de pólvora.

As primeira e segunda guerras mundiais são responsáveis por quase todos os avanços que usamos hoje no nosso cotidiano: Aviões de carreira, carros, forno micro-ondas.
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A Guerra-fria é culpada de outros avanços: internet, telefones celulares, computadores pessoais.

Com tristeza, constato: munido da vontade de guerrear e dominar a própria espécie, o ser humano consegue feitos admiráveis!

Por motivos tolos e toscos, consegue conquistar o que sempre foi tido como impossível.

Nas décadas de 50 a 80, USA e URSS despejavam milhões para ver quem era o melhor em tudo. Desses milhões de dinheiros, dólares e rublos, nasceram feitos incríveis e lamentáveis.

Ditaduras foram instaladas em todo o mundo, guerras massacraram vietnamitas e outros povos, mísseis e ogivas nucleares foram desenvolvidos aos milhares...

...mas, sim, amigos. O homem pisou na lua!
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E você, o que pensa? Acha que é tudo verdade? Ou tudo mentira???

VOTE NA ENQUETE AQUI NA PÁGINA PRINCIPAL. É ALI NO ALTO, À DIREITA!

São sete dias para clicar. Essa é a homenagem do Blog à semana dos 40 anos da polêmica.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Alzheimer - Uma vida em 15 segundos


Cena: neto e avó sentados no sofá. Maria, a enfermeira da avó, está mostrando as opções de roupa para um casamento que se aproxima.

- O vestido está muito bom! Preto ficou ótimo, chique mesmo!
- Viu Maria? A vó gostou do seu vestido preto! Prova lá o outro pra gente ver!
- Tem outro?
- Tem sim, vó. A Maria tá indo lá provar pra gente ver como é que fica.
...

- Xi, mas essa roupa vinho tá muito bonita! Que chique!
- Também gostei, vó. Tá bem legal mesmo, Maria, prefiro este vinho a aquele preto.
- Que outro? Tem preto?
- Tem sim, vó. A Maria também tem um vestido preto, mas este vinho tá melhor e...
- Ah, então prova lá pra gente ver como fica, Maria!
...

-Ah, mas este vestido preto tá muito chique! Que linda!
- Vó, tá mesmo. Mas Maria, eu prefiro aquele outro vinho. Tá mais elegante e...
- Vestido vinho? Ah, Maria, prova lá pra gente ver como é que fica...

A cena tem um quê de cômica mas, na verdade, é muito triste.

Esta repetição poderia durar séculos. Maria poderia trocar de vestido até o fim dos tempos e minha avó nunca lembraria que já tinha visto as duas roupas. A única forma de fazê-la comparar as peças seria tirar foto das duas e mostrá-las lado a lado. Não sendo assim, é impossível.

A memória dela dura, de forma contínua, no máximo um minuto. Depois disso, pum, branco total.

Conforme a doença piora, outros sintomas a afligem:

Ela acorda durante a noite pedindo socorro, berrando e chorando. Quando a acompanhante acende a luz, ela diz que não reconhece o lugar onde está, clama pelo pai e pela mãe, pede pra ir pra casa. Ela não se dá conta de que já está em casa.

Maria mostra as fotos da família dela, mostra a foto do vovô, mostra as roupas dela. Às vezes ela se acalma. Outras, ela insiste que mora na Tijuca, bairro onde viveu quando era criança.

Só depois de alguns goles de água com açúcar, ela sossega. Não que tenha acreditado na Maria ou se lembrado de tudo. Ninguém sabe. Ela apenas se conforma com a versão apresentada.

Os fragmentos de consciência que lhe sobram dão a ela a noção perfeita de que tem um problema de memória. Como reconhece isso, muitas vezes consente, recua, silencia para não parecer tola aos olhos dos outros.

Mas no caminhar dessa vida que lhe parece cada vez mais escura, há um aspecto interessante:

minha avó não perdeu o senso de humor, a sagacidade para perceber algumas piadas. Quando brinco com ela, quando faço deboche com o fato de ela falar "automóvel" em vez de "carro", ela compreende perfeitamente e dá uma gargalhada gostosa.

Ela sempre foi dócil. Dócil ontem e hoje. Dócil como muitos seres humanos que se lembram de tudo não são.

O que é viver, afinal?

É ter memória?

Será que vale a pena viver sem ela?
Muitos sentem pena. Acham que é muita crueldade uma pessoa perceber que está esvaziando, que está perdendo as recordações mais importantes e a capacidade de interagir.

Eu não concordo.

Acho, sim, que é uma pena. Acho, sim, que é um sofrimento enorme, para ela e para nós.

Mas saibam que, entre uma breve existência e outra, interrompidas por paredões de ausência de memória, minha avó consegue ser feliz.

A cada piada, a cada carinho, ela me diz, efusivamente, "que bom que você veio aqui, meu filho!"

Apesar da cabeça ruim, dá pra perceber a satisfação e a sinceridade da afirmação. Estava nos gestos e no sorriso dela.

Um sentimento forte e real, que durou alguns segundos... 5 minutos depois de eu sair, ela vai se esquecer completamente de que eu fui lá fazer uma visita.

Amigos, humanos, o que somos?

Somos só razão? Só existimos se nosso cérebro está 100%?

Quem disse que o coração não tem memória?

Eu creio, de verdade: mesmo que minha avó não se lembre com a cabeça, o corpo dela sai mais feliz, sua saúde sai mais revigorada após cada visita dos netos.

O corpo, ainda quente do abraço recém-recebido, ainda lembra do carinho que a mente já esqueceu!
O Alzheimer torna as pessoas prisioneiras de frações de segundo. Elas só existem durante aquele espaço de tempo.

Mas cada um desses instantes valem tanto!
Tem gente que passa a vida inteira, totalmente lúcida, sem conquistar a alegria que minha avó sente nos intervalos de consciência!

E aí? O que é viver, afinal?

Antes de responder, leve em conta que nada restará deste grande piscar de olhos que são nossos 80 ou 90 anos de vida...
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Esta é uma redação de amor à minha avó, por quem sempre tive muito carinho, e que sempre teve muito carinho por mim.

Com ela, criança, eu ia jogar pão pros patos do laguinho de Santo André. Na casa dela, eu comia pão com maionese.

Eu brincava com os imãs que ficavam na geladeira dela, que já tinha 50 anos 20 anos atrás. Eu engatinhava no tapete grosso e meio feito de palha, com cheiro forte de casa de vó.

Memórias. Se ela já não as tem, continua sendo responsável por algumas das minhas lembranças mais importantes.

Enquanto ela se esquece de tudo, eu escrevo as recordações mais queridas da nossa vida de neto e avó.

Estas, meu amigo, a partir de agora, lavradas em tinta, não serão apagadas nunca mais.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Luz vermelha x linhas paralelas

O feixe de luz infravermelha e o código de barras da conta de telefone deveriam ser amigos.

Muitas vezes, não é isso que acontece.
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Me irrita muito quando fico na fila do caixa eletrônico para pagar a conta e o ritual não se concretiza.

Que mistério deve explicar o fato de alguns códigos de barras serem lidos com facilidade e outros serem ignorados?

Por que será que cada vez é mais frequente eu ficar parado com cara de pastel, segurando uma folha de papel sob um feixe de luz e encontrar na telinha a seguinte frase: Não foi possível ler o código de barras. Tentar novamente ou digitar o número?

Já experimentaram digitar, ou recitar ao telfone pelo disk-banco, uma sequência de números do código de barras? Amigo, são uns 37 dígitos escritos em letra minúscula, um desafio à paciência e ao bom senso.

O que fazer, então, para pagar a conta? Tentar de novo, e de novo, até concluir que a folhinha de papel e a luzinha vermelha são incompatíveis?

Olha, pagar conta já não é nada prazeroso. Com esses brindes agregados, então, a litugia mensal beira o insuportável.

Isso sem contar o ato em si, bizarro na essência, mas aceito por todos os seres humanos do século XXI.

Se víssemos isso nos "Jetsons" algumas décadas atrás, não acreditaríamos. Que tipo de prática alienígena seria essa a de segurar uma folha com linhas negras paralelas, de diferentes tamanhos, e colocá-la sob um feixe de luz horizontal?

Não é um feixe comum não. É luz vermelha, estilo raio-laser do filme Exterminador do Futuro!

Se me dissessem que, para pagar uma conta, eu deveria segurá-la do lado de fora da janela e esperar o carrinho da Tim passar na rua e fuzilá-la com uma bazooka de luz branca, eu acreditaria.

Para mim, o imaginário é tão surreal quanto a prática real.

Mesmo com toda essa tecnologia de hollywood, a engenhoca insiste, cada vez mais, em não funcionar.

A mim, não me assusta.
Nunca acreditei em ficção científica mesmo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Abandonar

Uma história de cortar o coração palpitou nos jornais no início desta semana.

Após uma festa junina, uma mãe deixou a filha de apenas cinco anos dormindo no apartamento e desceu para buscar a outra filha.

Num intervalo de 20 minutos, já estava de volta à casa.

De forma trágica e irônica, o sistema das câmeras de segurança, que mostrava a mãe entrando no elevador, exibia também, no monitor ao lado, imagens do pátio do prédio, onde caíam um cobertor e uma mochila.

Enquanto a mãe subia ao encontro da filha, voavam janela afora objetos saídos do apartamento dela.

Apenas 38 segundos após a mãe ter entrado pela porta principal, quem despencou frente às lentes do circuito interno do edifício foi a própria menina. Desabava, ali, a vida de uma família inteira.

Vamos considerar a hipótese mais provável: não houve crime. Trata-se de um horrível acidente.

É possível imaginar a dor do pai e da mãe desta criança, que poucas horas antes, enquanto mastigavam salsichão e cocada, nunca pensariam que não teriam a filha na festa junina do ano seguinte?

Deste drama catastrófico surge uma importante questão: É necessário punir os pais de uma criança que morre em circunstâncias assim? Será que a tragédia em si não é castigo mais do que suficiente?

Fátima e Gilson, pai e mãe, foram detidos imediatamente, sem direito à fiança, por abandonar uma menor incapaz sem o cuidado adequado.
O que pensar deste caso? Foi abandono de fato? Foi negligência? Ou foi apenas uma infelicíssima coincidência?

Fico me imaginando daqui a alguns anos, como pai de uma criança que ainda não existe.

Será que é tão absurdo assim deixar o filho rapidamente em casa, entretido pelo desenho animado da TV, enquanto o adulto desce, num pé lá outro cá, para buscar uma encomenda na portaria?
Na minha opinião, esta é uma cena diária, comum e inofensiva na vida de muitas famílias.

O desafio de criar um filho é como ensiná-lo a andar de bicicleta sem rodinhas: nunca se sabe o momento exato de desampará-lo e deixá-lo pedalar, livre, rumo a uma aventura particular.

O paradoxo angustiante está no seguinte: a criança só aprende se você sair de perto. Só aprende se correr o risco real de se machucar. Só vive e amadurece se souber que as mãos seguras dos pais não estarão ali do lado na hora da queda.

É isto que faz desta desgraça, ocorrida no Rio de Janeiro, algo tão cruel.

Toda mãe já sofre pelo simples fato de deixar o filho encarar, sozinho, os desafios da vida. Todo pai fica aflito quando percebe que é impossível cuidar do filho 24 horas por dia.
Quando tudo dá errado, a culpa é insuportável.

Frente à esse sofrimento tão difícil de compreender, e mais difícil ainda de traduzir em frases ou idéias, resta-me o desejo de que essa mãe e esse pai sejam, em breve, visitados por anjos.

Anjinhos do bem, cheios de calor divino e palavras de conforto. E que, no meio deles, eles reconheçam o rosto familiar de uma menininha de 5 anos, sorridente, cheia de perdão a oferecer.

É disso que eles mais precisam.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Foto-verso

(Sol Poente: Harbin, Norte da China. Inverno de 2008)

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Há lugares em que o sol nasce congelado.

Bola de fogo,

30 graus abaixo de zero.


Bem longe das terras onde reina

sobre praias e montanhas.


O vento rasgante sopra frio,

pessoas se encolhem sob os casacos,

o sol se põe atrás das árvores

intimidado, vencido.


Tem saudade

da aurora dos dias.

Possuía a coroa real.

Agora, baixa a cabeça sob o horizonte.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um de cada vez

Rádio Nextel é uma chatice.

Quem tem, sabe.
O pii pii na hora imprópria é bem inconveniente.

Mas, por incrível que pareça, o Nextel tem muito mais a nos ensinar do que os modernos telefones celulares.

Eles mesmos, que lembram antiquados walkie-talkies de seguranças de shopping, coisas com as quais já estamos acostumados há anos.


A sabedoria do Nextel está em algo simples e óbvio.

Antes de falar, você tem que saber escutar.


Quantas vezes já pensamos em interromper a pessoa que está falando, presumindo já saber o que ela vai dizer? Pois, com o Nextel, é impossível!

Se o amigo do outro lado da linha for alguém sem poder de síntese, paciência. É necessário esperar o cara completar a frase.

Se ele fala devagar, você tem que engolir. É necessário esperar até o bip, que indica que ele já acabou e que é a sua vez.

Pois é. Este mecanismo nos ensina muito.

Na nossa sociedade de autocentrados e egoístas, queremos, muitas vezes, falar mais do que ouvir. Somos cobrados saber de tudo sobre tudo, julgamos que realmente sabemos muito sobre tudo. Achamos que sabemos, inclusive, o que nosso camarada quer dizer antes mesmo de ele terminar.

Somos uma tropa de ansiosos, acelerando nossos carros, atrasados para compromissos. E nos atropelamos uns aos outros na hora de nos expressar.

Quantas vezes você fala por cima do seu amigo? Quantas vezes ouve a frase "deixa eu terminar!"? Quantas vezes nos importamos, de fato, mais com o que estamos dizendo do que com o que está sendo dito para nós?

Eu tinha um professor, aquele de filosofia sobre quem tanto escrevo, que dizia: "o homem de hoje não fala; ele se explica!"

É verdade. No bombardeio de informações do dia a dia, na concorrência de vozes a mil por hora, quantas vezes temos que repetir o que queremos dizer para nos fazer entender?

Antigamente, na época de Shakespeare, ou ainda antes, na época dos gregos clássicos, falou uma vez tá falado!

A palavra tinha um poder muito maior. Era tudo mais sintético, mais enxuto, menos prolixo.

Eu sempre tive essa impressão ao ler ou ver a encenação de alguns textos antigos, nos quais o personagem diz algo que causa uma mudança tremenda! Algo radical mesmo, sabe?

Tipo: "Nossa nação vai entrar em guerra! E você será o soldado raso que deve morrer primeiro!"

Em vez de retrucar, como faríamos hoje em dia, pedindo explicações, esclarecimentos e dando justificativas, o sujeito simplesmente acatava a ordem. Sim senhor!

Tenho a impressão de que a palavra valia mais pelo simples motivo de que as pessoas sabiam ouvir. Não era preciso falar duas, dez, mil vezes.

Hoje, no mundo das milhões de palavras e informações, as vozes precisam se sobrepor, umas às outras, para sobreviver.
E é por isso, exatamente por isso, que o Nextel é tão importante.

Ele dá cadência ao nosso discurso. Ele silencia o ouvinte enquanto o falante se pronuncia. Obriga todo mundo a obedecer a sabedoria popular, que prega:

"Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha!"

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Antipaparazzi


Já viram a bolsa antipaparazzi que foi inventada?

O fotógrafo bate o flash e um dispositivo reflete a luz, impedindo que a celebridade vire capa de revista.

Meu amigo Marquinhos, no blog dele Dois Cliques, começou uma discussão muito boa.

Eu dei um pitaco.

Vejam só:
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Li no G1 que desenvolveram a primeira bolsa antipaparazzi.

Em vez de a dona atirar a bolsa sobre o fotógrafo, como já vimos tantas vezes por aí, um dispostivo (led) reflete o flash estragando a foto. Vamos ver qual vai ser a primeira celebridade a usar a invenção. Lindsay Lohan, Amy Winehouse ou Britney Spears?

O inventor diz ainda que estuda maneiras de diminuir o tamamho do led para que ele seja cada vez menor e, portanto, possa estar em uma gravata ou colar. A tecnologia anda dos dois lados e uma questão ética virá pela frente. As câmeras, não demora, vão ter mecanismos anti-led. Claro.

Aí vão dizer o seguinte, “mas a Canon está desenvolvendo câmeras para que a privacidade das pessoas seja invadida?” A discussão parece boba? Não é não.

E se sairmos da área de celebridades e entrarmos em outros terrenos? Os senadores de determinado país não querem ser fotografados na sessão que trata de mais um aumento salarial.

Apesar da cobertura da imprensa, eles estão sorridentes, todos com dispostivos na gravata que inibem flashes. Estranhamente, justo neste dia, a luz do Senado está fraaaca. Será coincidência?

Será que não pagaram a conta de luz?
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Marquinhos,

quando vi a notícia da bolsa que emite esse Flash estraga-prazer de paparazzi, confesso, até achei bom.

Afinal, talvez o dispositivo servisse para trazer um pouco de bom senso à celebritymania. Um basta aos exageros.

Um contra-ataque em forma de luz espocada na lente do fotógrafo, e, mais importante, na cara das grandes revistas e sites ultrafúteis.

Mas quando você fez sua ponderação e usou Brasília como exemplo, parei pra pensar:

- É mesmo. E quando o grande prejudicado for o interesse público? E quando os caras-de-pau da capital começarem a usar a ferramenta para poder chafurdar em paz, ainda mais, na própria sujeira?

Quer saber? Talvez toda essa discussão sobre os flashes daqui e flashes de lá sirva para trazer à luz que, na verdade, o que precisamos é de um competente sistema judiciário e um bom sistema legislativo.

Só assim para punirmos, independentemente de câmeras, bolsas e fotos, os canalhas que merecem ser punidos e a mídia que ultrapassa as fronteiras da privacidade.
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E vocês? São a favor ou contra do dispositivo antipaparazzi?

E são a favor ou contra o desenvolvimento de câmeras que consigam "driblar" este recurso?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Desvendando o restinho

Há um mal que assola os restaurantes do Rio de Janeiro:

Os garçons que levam o copo embora com o restinho da bebida.

Não é qualquer restinho não. É líquido suficiente para bons instantes de degustação.

Quantidade para arrematar a refeição, a pá de cal sobre a sede.

Em medidas antigas, em que partes do corpo substituíam os centímetros, são três dedos de suco ou refrigerante que deixam de ser consumidos.

Qual a explicação para o fenômeno?

Tenho minhas teorias:


A primeira hipótese é a do "garçom distraído".

No afã de atender várias mesas, é capaz de sequestrar, sem perceber, a última dose de prazer do cliente. Não faz por mal.

Talvez seja este descuido, a falta de más intenções, que irrite mais o freguês. Como pode ser tão desatento com algo tão precioso?
É como cochilar, de pernas pro ar, o segurança que toma conta da Monalisa no museu do Louvre.


A segunda hipótese: "trama maquiavélica".

Funcionários do restaurante, a mando do patrão, ficam à espreita esperando o cliente baixar a guarda. Se vai ao banheiro, se conversa com a namorada, se atende o telefone celular, o garçom dá o bote certo. Ágil, captura o copo e leva embora.

Quando o indivíduo percebe, já era.

É claro, os funcionários estão instruídos a agir naturalmente, como se não tivessem cometido delito algum. Quem vai reclamar de um restinho de bebida no copo? Quem protesta corre o risco de ficar com fama de mesquinho. E, dizem por aí, não é chique fazer questão de beber até o fim.

O motivo da conspiração é vender mais bebidas. Com os preços lá em cima, (já perceberam como a coca-cola, que vale R$ 1,50, custa R$ 3,50 no restaurante?) e os clientes sedentos por seus restinhos, aumentam o consumo de latinhas e o lucro do restaurante.


Terceira possibilidade: presunção.

Ao constatarem o copo esperando pelas interrupções de longas conversas, jogado à própria sorte, os garçons deduzem: "É lógico, o cara não quer mais!"

Trágica suposição. Certos da decisão do freguês, que abandonou o copo que bebeu, vão lá e apoderam-se do recipiente de vidro.

Assim, privam-no do sabor mais gostoso e mais doce. Aquele que você achou que degustaria, mas nunca mais terá a chance de fazê-lo. (Ver o restinho de bebida partir tem um quê de ruptura existencial).


Quarta hipótese: menosprezo.

- "Ah, isso aí é só guaraná misturado com água"; conclui o garçom ao observar aquele gelo derretido que clareia a cor amarelada do refrigerante.

Não é produto nobre. Não é produto digno de ser ingerido. Fosse um combustível de automóveis, seria a gasolina adulterada mais chinfrim que existe do posto furreca da esquina.

Convicto da pobreza de paladar daquela última dose, tchau tchau bebida. O garçom não compreende que aquela sobra era importante EXATAMENTE por estar aguada.

Quando terminamos de comer, doce e salgado, um de cada vez, já duelaram no interior da nossa boca: gole, garfada, gole, garfada, gole, gafada.

Tudo o que se quer, ao fim, é um pouco de PH neutro. Algo insosso, inodoro, quase incolor e que não seja água. Nada melhor, então , do que um gole de suco misturado com bastante degelo.

E é precisamente este tesouro que vemos se afastando na bandeja do garçom, rumo à cozinha.
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Epílogo:

A justiça tarda mas não falha. Hoje eu sofro com meus goles de bebida roubados. Ontem, quando criança, era eu o ladrão de sabores de última hora.

Minha irmã, três anos mais nova, sempre teve o hábito de guardar o pedaço mais gostoso para o fim. Se havia arroz, feijão, couve e carne no prato, ela deixava pequenas delícias de filé mignon para serem comidas por último.

Como um mosqueteiro aplicando um "touchê", espetava-lhe os pedacinhos de filé e levava-os imediatamente à boca, sem dar-lhe chance de reagir.

Tudo o que ela fazia era espernear, protestar, gritar... em vão.

Hoje, a vida dá o troco.

A vingança é um prato que se come frio.

A vingança é, também, um restinho de refrigerante que nunca se bebe.

Verídico

4 ou 5 anos.

É a idade da pequena personagem dessa história.

Menina espoleta, de personalidade forte. Desde pequena, competitiva.

Adora se dar bem, ganhar, "ser a campeã", coisa e tal.

Principalmente para provocar a irmã 3 anos mais velha.

Outro dia, às vésperas de uma viagem, a mãe disse assim pra ela:

- Filha, precisamos tirar o seu passaporte porque o seu venceu.

- O meu venceu? O meu venceu!!! Aha, o meu venceu! O meu é o melhor, o meu venceu!!!

Os pais explicaram exatamente o que queria dizer "o passaporte venceu".

A menina entendeu. Mas nunca abriu mão da primeira impressão que teve da frase.
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Continua, até hoje, se gabando da aura vitoriosa de seu documento de viagem.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Desabado

Tem semana que não dá pra curtir aqueles segundinhos de descompromisso total.

Aqueles breves instantes em que a próxima obrigação está a horas de distância, e o tempo parece estar do seu lado.

Aqueles momentos em que a cabeça não está acorrentada a algum horário ou compromisso, presa a preocupações de como fazer tal coisa, de quando sair para não se atrasar.

Esses segundos, minutos ou horas na vida do ser humano são fundamentais.

Livres do ritmo frenético do relógio cotidiano, é possível dormir mais um pouco, ler um livro, visitar pessoas queridas, criar, escrever no blog.

Mas tem semanas que essa sensação é impossível.

Os dias se resumem a trabalho, um almoço rápido, mais trabalho, algumas outras complicações resolvidas pelo telefone, cama, despertador, trabalho.

Todos os ingredientes encadeados de maneira indestrutível.

O que resta é, apenas, obedecer à inexorável aceleração do trator.

Hoje é sexta-feira. Tenho, finalmente, alguns instantes de lazer.

Embora pareça, isso não é um...

Desabafo.

Isto sou eu.

Desabado.

Por hora.

Mas não há de ser nada.

Semana que vem vem aí.