sábado, 27 de junho de 2009

Caminhando na Lua


Quando eu tinha 2 ou 3 anos, talvez muitas coisas me fizessem ter medo.

Mas nenhuma delas me marcou tanto como um certo videoclipe.

Morávamos nos Estados Unidos, em Los Angeles. A MTV já existia por lá em 1982 e 83.

Na época dos canais abertos e da TV convencional, os EUA já tinham este canal dedicado exclusivamente à música.

Bastava começar, na telinha, a saga daquele magrinho de roupa de couro vermelha e sua namoradinha que eu saía correndo da sala de TV:

- NO thriller, NO thriller! - eu gritava, em inglês.

Eu morria de medo do clipe Thriller, do Michael Jackson.

- Como assim? O Michael não era pra ser do bem? Como é que ele aceita esse conluio com um bando de zumbis pra aterrorizar a própria namorada? - Eu estranhava.

Aqueles monstros, aquela maquiagem me deixavam em pânico.

Era a primeira marca de Michael Jackson na minha vida.
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Michael morreu ontem, mas já tinha morrido havia muito tempo.

Ontem o coração dele parou. Mas fazia anos que ele já estava afastado da mídia e dos holofotes.

É claro, aqueles que compraram os ingressos para a mega-turnê que começaria em Londres, em julho, devem ter sentido um luto mais intenso.

Mas as demais pessoas do ocidente, estas não. Acredito que elas já não viam Michael fazer parte da vida delas havia tempos.

Alguns, agora, devem estar me questionando:

- Como assim? Michael Jackson já morreu há muito tempo??? E a sua obra?? E sua genialidade???

Concordo, amigos. Também acho que a arte de um homem o transforma em imortal. Acredito que o talento e as habilidades de um ser humano, diferente dos demais, faz dele digno de ser lembrado durante muitos séculos.

Gênio? Não preciso repetir o que é óbvio, e o que temos visto tanto nas TVs, Jornais e Internet.

Esquisito? Também não preciso bater nesta tecla. Todo mundo está careca de saber como o Michael era.

Mas o artista já tinha sucumbido, faz tempo, à pressão de ser um mega-star! Fazia décadas que vivia recluso.

Eu, por exemplo, não me entristeci tanto assim. Talvez por essa ausência recente de Jackson. Talvez por ainda não ter caído a ficha.

Talvez por ele ter se transformado, com o passar do tempo, em um ser sobre-humano.

Um ser que, ao contrário da maioria dos mortais, andava de máscara, tinha um parque de diversões em casa, se vestia de maneira carnavalesca, tinha hábitos infantilizados.

Alguém que perdeu radicalmente o maior traço de identidade pessoal: o próprio rosto!

Quem desembarcasse de Júpiter e pegasse duas fotos de Michael, uma dele quando criança e a outra já adulto, jamais diria que é a mesma pessoa.

Por todos essas características, não consegui ter a compaixão e o sentimento que teria pela morte de um outro humano querido. É como se faltasse um traço de identificação.

No entanto, não pense que eu o condeno. Pelo contrário.

Jackson morreu há exatos 45 anos.

Morreu quando ainda era criança, o caçula de 9 irmãos, e foi forçado para as vísceras do mundo do estrelato.

Apanhava do pai, era o astro da banda formada por outros 4 irmãos já marmanjos.

Perdeu ali sua inocência, sua infância e sua vida.

Acho que poucos perceberam, mas tivesse Michael morrido com 80 anos, teria sido o único caso da humanidade em que a pessoa viveu em frente às câmeras desde criança até a velhice.

Um autêntico "Show de Truman". Um reality show da vida real! E que não acabaria nunca.

Imagina a pressão.

Talentoso que era, mudou a música e a estética POP para sempre. Humano que era, não aguentou manter a sanidade.

Um tributo a Michael Jackson, que marcou a vida de tanta gente. Fundamental para a música do mundo. Essencial para formar os conceitos dessa geração que, hoje, tem a minha idade.

Mas fico pensando.

Isto é o que Jackson, em meio a tanta loucura, conseguiu dar à humanidade.

Se pudéssemos voltar no tempo, será que a humanidade teria aberto mão de fazer daquela criança um ícone?

Será que Michael não teria trocado sua vida meteórica pela chance de fazer tudo de novo?

Será que ele não preferiria ter vivido a vida de uma criança normal, de voz afinada e poderosa como só os negros têm, mas bem longe do showbiz?

Meu palpite é que sim.

Acho que teria aberto mão de caminhar na lua para poder andar tranquilo pelo planeta Terra.

Uma homenagem a Michael Jackson, por tudo o que ele foi. E por tudo aquilo que ele não pôde ser.

8 comentários:

mmys disse...

terei sido eu a primeira pessoa prá quem vc ligou prá contar que o Michael tava morrendo? se positivo, por que será?

Fernando Burgés disse...

Excelente post dézão.
Cara, eu acho o Michael um dos caras mais talentosos que já existiu no mundo da música, senão o mais.
Foi meu pimeiro LP comprado (tamo ficando velho, LP??) e sempre achei sensacional.
Rolou uma coisa estranha esses dias, não chegou a ser uma premonição, mas quase...
No facebook existe o campo "what's on your mind?", tipo status, que vc escreve o que te dá na telha.
No dia 22 eu, do nada, escrevi "Fernando Burges thinks that Michael Jackson rules!" , totalmente out of the blue.
E não é que o cara me morre dois dias depois???
a prova tá lá no meu mural do facebook!

enfim, queria compartilhar apenas.
fiquei chocado com a morte do cara...
lembro da tieta marina ouvindo incessamente uma das músicas do Dangerous! muito bom!

belo post!
beijão

Maria Clara disse...

Eu acho que o Michael teria escolhido viver como uma pessoa comum, e acho que nós, com o nosso egoismo, teriamos escolhido que ele passasse por tudo isso, mas nao nos privasse da sua genialidade. Para mim ele era (e é!) o maior talento da música.

Bastava dançar como ele dança e bastava cantar como ele canta, mas o cara quis fazer os dois!

Eu gosto MUITO dele e sofro por ter visto tudo q ele passou na vida.

Ele nao merecia.

Mas eu agradeço por ele ter conseguido sobreviver até os 50 e ter nos presenteado com todos os discos, todas as performances, todos os clipes.

Michael, vc nao era uma pessoa comum. Mas vc nao era uma pessoa pior.

Ele morre, mas fica para sempre.

Estou triste.

Bj

HBO disse...

Cara fiquei estarrecida agora...
Li o que oTouro escreveu e pasme, o pai dele, que por coincidência é seu tio, numa conversa sobre vc, ele disse, o Dé ainda tem que escrever do No Thriller, no thriller. Rimos, mas , se vc quer acreditar, foi um dia antes do Michael morrer. Por isso , eu te liguei e queria ter falado sobre isso, mas vc estava ocupado e deixei para outro dia. Mas, fiquei impressionada com a "premonição" do seu tio Guarani Zé.
Agora, quanto a ele, sempre fui uma adoradora, principalmente da mágica que ele tinha nos pés. Adorava vê-lo dançar, parecia que eu me via um pouco naquele lindos passos. Mas, concordo, ele morreu há muito tempo. Mas, cé la vie.
Querido, nunca deixarei de lembrar dele, porque me vem à mente vc, com aquela carinha bobechuda e cabelo tigelinha, assustado, correndo e gritando No thriller, no thriller. Te amo

Rach disse...

não falei que vc não ia escrever alguma coisa comum sobre a morte do mj?

André B. disse...

é, família...

O Michael partiu e nós ficamos aqui, estarrecidos...

Incríveis as premonições de filho tourinho e papai touro...

estavam sintonizados, de alguma forma!!!

beijos

hbo disse...

È Dé, e para completar , os dois, Touro e Tourinho não creem em nada que não seja concreto. Pode?? Vai explicar né. bj

Laz disse...

MJ, de longe o maior talento da música. Apesar de não ter feito absolutamente nada nos últimos anos, a genialidade nos anos 70, 80 e início de 90 foi tal que ele certamente foi um divisor de águas.

Agora, quem, na condição de pirralhos na época do Thriller (eu com meus 4 anos), quem não ficava com medo dos zumbis do clipe...sensacional!

Tourinho, "out of the blue" mandando um "MJ rules" nada mais prova de que ele, de fato, caiu e quicou com a cabeça no chão quando pirralho tb.

Concordo com a MC tb, a pena é que o que o cara mais queria era ter tido uma vida normal, e nunca teve essa chance. Foi um sacrificado pelo bem de milhões, que puderam compartilhar da genialidade dele.

RIP MJ.

abrs!