terça-feira, 2 de junho de 2009

Cuidado

2 de junho de 2009

Um dia difícil para fazer piadas em público.

Um dia impróprio para puxar outro assunto.

Um dia para ficar ligado na tv, rádio e internet, em busca de notícias do avião que sumiu.

Não é o caso de esquecer, como muitos pensam, as mazelas do nosso cotidiano.

Claro, muita gente morre de fome todo dia sim! Muita gente sofre com a injustiça social. Muita gente sucumbe, todos os dias, às doenças, à violência e à miséria.

Os assuntos não se excluem. Mobilizar-se com o avião da Air France que desapareceu sobre o oceano não significa que devemos ignorar todo o resto.

Mas hoje, sem dúvida, é dia de refletir.

De pensar nas inúmeras viagens que a maioria de nós, da classe média, já fizemos de avião.

De sofrer com a perda das outras famílias, que poderiam ser as nossas.

De conhecer, pela imprensa, a história de cada uma dessas pessoas que tomaram aquele avião. Pessoas, como nós, e não apenas números integrantes do total de 228 a bordo.

É dia de viver a dor de nossos amigos. Alguns, como eu, conhecem familiares de passageiros daquele vôo.

Hoje é dia de se indignar com o absurdo que é decolar para nunca mais pousar.

Um dia de consternação.

Mas não é, definitivamente, um dia para fazer galhofas.

Não é o cenário ideal para brincar com coisa séria.

Não é hora de se precipitar, não é a ocasião de ser impulsivo. De perder vários leitores para não perder a piada.

No mais importante jornal do Rio de Janeiro, hoje, havia uma charge inspirada pelo acidente.

Não tinha tom de homenagem. Os traços não revelavam pesar, abatimento, aflição, desalento.
Pelo contrário, o desenhista pareceu não ter a medida exata da tragédia.

Ao brincar com um aviãozinho prestes a se espatifar contra uma nuvem em forma de paredão, perdeu uma excelente oportunidade de manter os dedos calados.

Me surpreende, também, o editor responsável pelo jornal ter bancado a publicação.

O cartunista pode, até, ter sido mal-interpretado. Mas não era a ocasião de arriscar figuras ambíguas.

Hoje era dia de ter muito cuidado com as palavras. E com as imagens, que valem por milhares delas.

2 comentários:

Cristiano disse...

Meu caro,

Estou contigo nessa. Fiquei extremamente chocado com o mau-gosto do colunista em questão. Mas não fiquei surpreso. Isso tudo faz parte de um movimento bastante perceptível de declínio da imprensa brasileira, que tem deixado de lado sua função de informar para assumir contornos indisfarçáveis de oposição política ao governo atual. A charge do Globo, embora não tenha, a meu ver, nada de político, tem muito da falta de qualidade que permeia toda a imprensa brasileira nos últimos tempos. No plano político, e ainda nas organizações Globo, o Noblat usou descaradamente a tragédia para atacar o governo Lula. Acusou erroneamente o Presidente Lula de haver embarcado em viagem internacional mesmo tendo ciência do acidente. Lula embarcou domingo de manhã, antes, pois, do acidente, e, assim que ficou sabendo, enviou o presidente em exercício, José Alencar, para dar todo apoio às famílias das vítimas. Você tem toda razão, André. Agora não é momento de piada e nem de política. É momento de solidariedade com todas as vítimas dessa tragédia e de todas as tragédias que assolam a humanidade todos os dias.

http://sertaoemfotoepoesia.blogspot.com disse...

É lamentável ver isto num jornal, num meio de comunicação, que deveria servir para informar, pelo menos! Se não tem como ajudar, fica quieto, poxa! Falta de respeito e solidariedade com a dor alheia.
Poderia ser qualquer um de nós, ninguém sabe o acontece amanhã com nossa vida.