quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Choque de ordem

Na cidade do Rio, tá na moda.

"Choque de ordem".

Desde que o novo prefeito assumiu, vem fazendo blitzes pela cidade e multando tudo o que é irregular: Carros parados em calçadas, acostamentos, lugares proibidos.

Multas e reboques.

Motos também. São todas carregadas no guincho.

Tá tudo certo, boa parte dos "cidadãos" do Rio estava precisando mesmo dessa chacoalhada.
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Muitos bobalhões da classe média ficaram acostumados, após anos de impunidade, a prestar atenção no próprio umbigo e mandar um Éfe-se para os demais cariocas.

Muitos cometiam a bandalha e ainda agiam como se estivessem certos.

No acostamento, por exemplo. Quantas vezes não coloquei meu carro propositalmente fechando a passagem para que os espertinhos não tivessem caminho livre.

O que ganhei de volta? Faróis piscando, xingamentos com palavras e com dedos.

Até isto o choque de ordem está punindo. Apressadinhos no acostamento estão sendo multados.

Palmas para a iniciativa.

Porém, ah porém.

Há uma grande, enorme contradição nesses procedimentos do choque de ordem.

É a seguinte: As ruas e autoestradas do Rio de Janeiro foram construídas numa época em que a quantidade de carros era, no mínimo, dez vezes menor do que a atual.

Nas décadas de 50 e 60, quando as principais vias da cidade foram abertas, não era possível imaginar que cada cidadão da classe-média-alta teria um carro, e que boa parte das pessoas de classes mais baixas também teriam automóveis.

Aqueles eram os áureos tempos de um Rio de Janeiro utópico, charmoso e com vocação para um futuro bacana.

Veio a explosão demográfica. Agora tem gente pra todo lado. Comprar carros ficou mais barato para essas milhões de pessoas. E, obviamente, a infraestrutura urbana não acompanhou o crescimento populacional.

Vejo muitos guardas e policiais multando pessoas que param seus carros em qualquer canto.

Mas será que há um controle da quantidade de carros que são feitos e despejados no mercado?

O Estado e o Município arrecadam com a multa aos infratores. Ok.

E também ganham muito dinheiro com os impostos pagos pelas indústrias automobilísticas, faturam fortunas dos bolsos dos motoristas que pagam IPVA.

Mas não deveriam também fazer um levantamento para saber quantos carros e veículos as ruas do RJ são capazes de comportar?

Para o governo é fácil. Lucram com as montadoras, lucram com os impostos, lucram com as multas de estacionamento irregular.
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E na cidade, NÃO HÁ MAIS ESPAÇO PARA TANTO CARRO!!!

Na minha opinião, deveria haver uma política radical semelhante à do filho único chinês. No país asiático, cada casal só pode ter um filho porque já existem chineses aos bilhões.

Aqui no Rio, e em outras cidades do Brasil, só deveria ser permitida a circulação de uma quantidade X de veículos.

Quando o governo vai trocar o lucro fácil por beneficiar, de verdade, a cidade?