segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Twitter: não tenho

Ranzinza.

Uma boa palavra pra me definir quando trato de alguns temas.

Um deles: twitter.

Tenho 28 anos. Uso o computador desde os 14. Conheço a Internet desde os 16, acho.

Mas sinto que tenho a mesma intolerância com o Twitter que a maioria das pessoas de idade têm com o mundo digital.

A verdade é que tenho birra mesmo. Aversão. Não gosto e nunca gostei.

Impliquei de primeira.
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Logo quando começaram a falar de Twitter (tão recente, no fim do ano passado), torci o nariz.
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Muitos podem dizer: "Ah, é porque você ainda não entrou! Quero ver você manter a opinião depois que se cadastrar!"
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Admito que grande parte dos nossos objetos de implicância são assim. Desdenhamos, protestamos, mas acabamos aderindo.
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Acabamos virando casaca.

Mas minha antipatia pelo Twitter não se renderá.

E começo a defesa dos meus pontos de vista, ironicamente, destacando o lado positivo da nova ferramenta.

Há muitas qualidades nele!

É rápido e preciso. As notícias circulam numa velocidade maior do que nos sites jornalísticos.

No dia da morte do Michael Jackson, quem usa a página de relacionamentos já sabia 3 horas antes de os canais de televisão bancarem a informação.

A concisão é seu maior trunfo. 140 letrinhas e espaços para dar o seu recado. Quem tem tendência a elaborar demais, escrever demais, como eu, é peixe fora d'água.

Se você também é muito prolixo, o Twitter tem um símbolo que nos retrata bem. Somos o "Fail Whale", uma baleia pesada e antiquada, ícone que aparece na tela quando o site sai do ar.


Somos o contrário do passarinho lépido e gracioso, figura-logotipo do Twitter, marca dos usuários da rede dos recadinhos curtos.

Para virar membro, é preciso ser objetivo, saber resumir e passar a mensagem com apuro.

Claro, twittar é importante também para mudar o mundo. No Irã, grande parte das imagens dos protestos contra a eleição fraudulenta de Ahmadinejad apareceu nele.

Os usuários se avisavam dos lugares de risco a passeatas e manifestações, alertavam para os pontos de Teerã que estavam infestados da polícia repressora. Uma ferramenta democrática.

Palmas, palmas ao Twitter!

Mas com ressalvas. Muitas ressalvas deste mal-humorado que vos fala.

O que me incomoda não é tanto a funcionalidade do site, que serve para fazer circular tantas informações bacanas, mas sim o conceito que está nele.

O Twitter nada mais é do que um espaço plural demais para mil vozes que interagem o tempo todo. É como uma grande sala onde todos gritam e ninguém se escuta de verdade. Impossível prestar atenção nos outros, devido à quantidade de "posts" diários de cada membro.

Além disso, acho que no coração do Twitter está o caráter descartável dos nossos tempos. Descartável e apático. Todos nós podemos passar nossas existências inteiras como o usuário-padrão do Twitter: dizendo um bando de bobagens pra serem jogadas fora, para serem substituídas no dia seguinte, na hora seguinte, no instante seguinte.
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Nossa sociedade contemporânea sem ideologias cria um bando de acomodados sem desejo de criar nada que dure de verdade.

Nós, ocidentais do século XXI, nos contentamos, muitas vezes, em viver sem elaborar pensamentos, sem mergulhar na autocrítica, sem tentar enxergar o mundo.

Uma passividade que funciona, diariamente, como um reloginho de palavras curtas sem aspiração a nada mais importante, a nada mais profundo. Um dia-a-dia que se repete, se repete, sem crítica e sem sal, até que a pilha acabe.

O que me incomoda no Twitter é a falta de ambição... é a falta de pretensão à posteridade.
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Conquistar a posteridade, penso eu, está na essência do ser humano.

Como o homem é mortal, ele tenta se perpetuar por gerações através de seus feitos, da sua arte, das suas criações.

Pra quê tirar foto de um aniversário com a família toda reunida? Para que os tataranetos possam olhar para o retrato e se lembrar dos ancestrais.

Por que os Beatles compuseram tantas músicas belíssimas? Além de ganhar dinheiro, para que nossos descendentes cantem "Let it be" daqui a 200 anos e se lembrem de Lennon e McCartney.

Por que Michelangelo teve um ataque fulminante de realização e júbilo quando terminou de esculpir o Moisés, e tirou uma lasca de mármore do joelho da estátua num rompante incontrolável? Porque percebeu que viveria eternamente através da perfeição daquela obra.

- Por que não falas??? - Berrou o artista para a escultura, maravilhado com o resultado.

O ser humano tem sede de posteridade. E não é preciso ser gênio como Michelangelo.

Com este blog, tenho profundo orgulho dos leitores que recebo aqui. E vou acumulando, um a um, os posts que escrevo.

Estão todos aí, do lado direito, organizados em ordem cronológica, ao alcance de qualquer clique do mouse.

Quem sabe, daqui a muitas décadas, estes escritos não signifiquem alguma coisa para meus netos?

O Twitter não. O Twitter não tem o mesmo tesão. O Twitter se satisfaz em migalhas de letrinhas diárias que se perdem no tempo. Frases ao vento sem esforço, sem finalidade, que se empilham e acumulam poeira.

É a pomada paliativa que satisfaz momentaneamente, mas não aplaca a dor da busca pelas verdades do mundo.

O Twitter é o chopinho do fim do dia, o papo-furado, a risada fácil, a piadinha da moda. Divertido, é verdade. Mas raso, ilusório e passageiro.

Para voar de verdade, não use as asinhas da ave risonha do Twitter.

Infelizmente, os vôos de verdade são mais difíceis, mais angustiantes, mais trabalhosos. Mas muito mais recompensadores.

6 comentários:

Cristiano disse...

Tô contigo, Drei. Acho o twitter uma bosta, não consigo entender aquela merda (é muito caótico, uma cacofonia de informações visuais, se é que posso me permitir a licença da sinestesia)e acho esse esquema de devassar sua vida privada na internet uma roubada.

PS Para o Touro: Estarei em Genebra na terceira semana de agosto. Bora marcar na Rue du Mont Blanc de novo?

Remi disse...

Minha melhor amiga era totalmente contra Twitter. 2 de agosto, ela twitou pela primeira vez: "ok, me rendi."
Eu tenho twitter há um tempinho, no começo eu usava pra caramba, twitava coisas como "quero sorvete de flocos", mas atualmente, quando twito duas vezes por dia, já é demais!
Minha amiga alega que ela entrou no twitter para perseguir as pessoas que a interessam, que são sites de bandas e coisas do gênero, para poder saber mais facilmente quando tem show, por exemplo. [E mesmo assim, ela está me seguindo. O ser humano não foi feito para ser compreendido!]
Eu acho, sinceramente, extremamente inútil! Tem aliás, um vídeo que vale bastante a pena assistir: http://www.youtube.com/watch?v=N2Ji1ahzJ60&eurl=http%3A%2F%2Folhometro%2Ecom%2F&feature=player_embedded
É uma crítica ao twitter, falando o que você disse, mesmo!
ps: não entendo que segue mais de 15 pessoas, eu sigo 11, e já tenho MUITA dificuldade em acompanhar tudo isso!
pps: eu também não fui feito para escrever coisas curtas! Volta e meia tenho q screve asim p/ kb na twitagem! um cu, isso!

Fernando Burgés disse...

Eu tb acho twitter mais uma dessas histerias babacas que tomam conta sem motivo aparente. Como se não bastasse todos os big brothers e reality shows do planeta...

(e Cris, tá marcado!!! hahaha
Acho que foi o fato mais inacreditável da vida, eu ter trocado de calçada sem motivo aparente, segundos antes de te ver lá!
Aí, come aquele camarão no tailandes de novo! Rue Neuve du Mollard!)

Rach disse...

meu.
eu ia escrever algo MUITO semelhante a isso outro dia. muito mesmo.
desse volume de informação que me parece falso até, de tão intenso. é impossível acompanhar aquele ritmo absorvendo.
na verdade, o twitter me parece uma vitrine para aqueles que querem mostrar seus conhecimentos "hypados", para é quem mais moderninho, mais anteando. uma briguinha de egos virtuais bobos.
ai, desabafei.

Remi disse...

Eu coloquei um trecho do texto no meu blog! =D
http://sohdaheu.skyrock.com/

André B. disse...

Que incrível. Todos os comentários também são muito críticos ao Twitter.

Com tantos adeptos, achei que fosse encontrar pelo menos um defensor ferrenho!

Abs e beijos