sexta-feira, 27 de março de 2009

Como desaparecer por completo

Como desaparecer por completo.

Essa fórmula existe. Foi escrita em inglês.

É uma letra de música do Radiohead, banda que se apresentou, na semana passada, no Rio e em SP.

Toda vez que ouço essa canção, do disco Kid A, acabo viajando nos seus versos:

A letra diz o seguinte:

"Este aí
não sou eu.


Eu não estou aqui
e isto não está acontecendo.

Eu vou
onde eu estiver a fim

Eu atravesso paredes
e flutuo sobre o rio

Daqui a pouquinho
Já terei ido embora

E o momento já passou
Sim, já foi

E eu não estou aqui.
Isto não está acontecendo!"
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Incrível uma letra que contraria a realidade mais concreta que conhecemos: Nós existimos!

E só existimos porque temos corpo. Podemos tocar e ser tocados.

O poder desta canção está exatamente na negação deste aspecto tão visível da vida.

Quando Thom Yorke, vocalista do Radiohead, diz "Eu não estou aqui./ Isto não está acontecendo"... o que ele pretende?

Todo mundo sabe que as palavras têm poder. Experimente chamar alguém de fraco a vida inteira, ou de burro, ou de incapaz... o que essas pessoas se tornarão, senão exatamente o que ouviram a vida toda?

Se as palavras têm poder, será que somos capazes de nos abstrair da nossa própria realidade? Será que repetir os versos "Eu não estou aqui, isso não está acontecendo?" serve para alguma coisa?

Será que as pessoas infelizes podem usar esse recurso para escapar da vida difícil?

Será que somos capazes, ao negar a realidade, de convencer nosso cérebro e nosso corpo de sentir menos dor? Dor física e psicológica?

Repare que o título da música não fala em "ficar invisível". Não é um conceito divertido, tipo aquele sonho de criança (e alguns adultos) de poder escutar a conversa dos outros e entrar no vestiário feminino sem ser visto. A canção fala em desaparecer. Sumir.

A música tem uma cadência bem lenta, bem lamuriosa. Segue um embalo triste, quase um choro, embora belíssima. Como um mantra, vai, lentamente, através da repetição, dissolvendo o ego de quem a escuta.

Em última instância, os versos da música estão cobertos de razão. Ela trata não apenas do questionamento da própria existência, mas fala também do caráter passageiro do tempo: "Este momento já passou./ Sim, já foi"

Ao cantar a velocidade de segundos e minutos, ao prosear sobre o ser humano que deixa de existir no próprio corpo, a canção retrata algo óbvio: Em breve (ou não tão breve assim), cada um de nós não existirá, e nada estará acontecendo.

É uma letra existencial, na qual mergulho cada vez que escuto.

Hoje, ou daqui a 100 anos, ela será real.

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Ps 1: Não estou deprimido nem triste! Pelo contrário! É que esta música desperta o meu lado filosófico mesmo.

Ps2: Quem também quiser viajar na canção HOW TO DISAPPEAR COMPLETELY, é só clicar aí embaixo. É preciso estar preparado. Não dá pra ouvir como uma trilha sonora enquanto se faz outros afazeres. É necessário tempo para apreciá-la (Ah, e boas caixas de som também!)


2 comentários:

MClara disse...

ATUALIZAAAAAAAAAA

BJSSS

Fernando Burgés disse...

realmente, que música, que letra!
Héidiourréd rules!!!!