sábado, 21 de março de 2009

História de metrô (pelas lentes de uma mente imatura)

((Caraca, metrô é, realmente, o melhor dos transportes públicos! A gente mal entrou e já sente o friozinho do ar condicionado. Tudo parece limpo. Às vezes, fica cheio. Mas eu gosto assim: fim do dia, horário mais tranquilo, entro logo na primeira estação e sento sem pressa...))

...O trem começa a andar. A segunda estação a caminho...

((O que esse cara tá lendo? Saco, caderno de esportes. Já li inteiro hoje. Tomara que vire logo a página. Agora sim, editoria Rio. Manchete: "Bando faz cinco reféns em prédio da Zona Sul". Na Zona Sul? Em que bairro foi isso? Um grupo de cinco bandidos renderam o porteir... Não, não vira a página ainda! Ah, não! Pior que não vou me lembrar de ler essa notícia quando chegar em casa.))

... O trem pára e as portas abrem. Uma galera entra no vagão...

((Droga, o ruim de pegar lugar no metrô é ter que viver essa angústia. Se chegar um velhinho, vou ter que interagir. Perguntar se ele quer o lugar. Pô, logo hoje que eu queria ficar na minha! Sei que eu não devia, mas fico ansioso! Não sei se a pessoa vai aceitar bem o gesto, ela pode recusar, aí vou ficar com cara de b... sei lá, não lido muito bem com isso.))

... O metrô segue viagem. Portas se abrem na terceira estação. Mais entra-e-sai...
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((Pronto, taí o velhinho. Parado bem na minha frente, de pé. E de costas pra mim. Vou ter que cutucá-lo. Será que ninguém da outra coluna vai levantar pra ele se sentar não? Vou dar uns 10 segundinhos. Juro, nem é questão de egoísmo. Não tô nem aí pra esse lugar confortável. O ruim é esse ritual de ter que chamar o cara! E ele nem parece tão velhinho assim. Pra falar a verdade, velhinho é exagero. Ele deve ter uns 60 anos, 65 no máximo. Mas tá forte, segurando firme no poste do metrô))

... Portas fechadas, o trem começa a andar de novo...

((Saco, 10 segundinhos já passaram. Vou fazer o que? Juro que não é egoísmo mesmo! De verdade! Se eu soubesse de antemão que ele aceitaria o lugar, já teria me levantado! O chato é levar um toco. Tentar fazer um gesto bonito, levar um 'não' e os outros passageiros, confortavelmente sentados, julgando mentalmente meu bom ato. - 'Pagou mico!', poderiam pensar alguns.))

... O vagão ginga no balanço da viagem. As pessoas sentadas se fingem distraídas. Olham para o chão, deixam o olhar perdido. E o senhor segue em pé...

((Por que estou tão agoniado com esse assunto? O que quero mesmo é o bem estar do cara! A cada dia me convenço: Sou mesmo incrivelmente imaturo! Se ele não quiser o lugar, tudo bem! Não vai tirar pedaço, eu volto pro assento e acabou o problema! Chega, decidi! vou cutucar o cara!))
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Eis que uma menina se antecipa, sai lá de trás e caminha até o senhor.

Simpática, pergunta se ele quer o lugar dela, e aponta lá para o fim da fileira.
Ele nega, diz que está bem ali.

Ela não quer perder a viagem. Insiste, deixando clara a intenção de ceder o lugar.
Ele não está fazendo cerimônia. Esté convicto da idéia de continuar ali, se equilibrando no chacoalhar do vagão.

Vendo que já tinha atraído a atenção de todos que seguiam a viagem outrora monótona, não fosse aquele cabo de guerra entre gerações, tentou convencê-lo, pela terceira vez, a aceitar o gesto generoso.
Resposta: Não!

Acanhada, alvo de todos os olhares, a única pessoa solidária do vagão, a única que teve coragem de quebrar o gelo, voltou sem graça para o seu assento.

Na minha mente imatura, acho que o arrependimento dela pelo mini-constrangimento público foi maior do que a sensação do dever cumprido.

Minha conclusão é a seguinte: sentar-se no metrô é um risco tremendo! Para evitar fortes emoções, o melhor a fazer é viajar em pé mesmo!
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E aos senhores da "melhor idade", faço um pedido:

- Aceitem, por favor, o oferecimento dos mais jovens!

Mesmo aqueles com saúde de aço. Mesmo aqueles que consigam se equilibrar no metrô em movimento melhor que muito garotão.

- Aceitem o lugar cedido! Nem que seja só por educação.
Os mais jovens precisam de aprovação pública. São imaturos!

No fundo, o gesto caridoso é de vocês para eles.

7 comentários:

Anônimo disse...

Já sabia o assunto do seu próximo post e mesmo assim me surpreendi! Top 10. Maravilhoso. Amei.

Há alguns dias tava pensando em criar meu blog e este seria meu primeiro post: o metrô! Exatamente por essa sensação. Talvez nem você saiba mas toda semana eu pego o metrô e NUNCA sento. Por mais que tenha mais de 30 lugares vazios, eu NAO sento. Pelo visto eu sou bem imatura, hehe...o problema é esse. Você nunca sabe o quão velho é a pessoa. Por via das dúvidas é melhor nao perguntar.

E só perceber. Quando entra um idoso, todo mundo retorna à infância e faz aquela cara de quando o professor procura um aluno para responder uma questão.

Você pode olhar para o chão, fingir que está lendo ou que tá distraído. Mas nunca, nunca, nunca olhe nos olhos do professor!

Valeu
Beijão

Anônimo disse...

ahhhhh e vc viu que agora os metros daqui falam "mind the gap"????? hehehehheehhe

bjss

André B. disse...

Eu não sabia!!

Eles estão falando Mind the Gap?

Pro gringuinhos?

Outro dia, peguei o metrô mas não ouvi!

Anônimo disse...

E pq agimos assim apenas no metro? Pq essa atitude de 'gentileza/educação', não impera tb nos onibus?

Lara disse...

André Post simplesmente PERFEITO! hahaha Cara.. eu sempre espero para ver se alguém vai fazer a boa ação. E se eu acho o "velhinho" não é tão velhinho assim prefiro ficar na minha do que acabar magoando a pessoa, porque ser "chamado" de velho é pior do que ficar em pé no metrô!!!
beijosss

Anônimo disse...

Pois é, Drei, você tá certíssimo. Há anos que não me sento no metrô. Tenho a mesma neurose que você... Que merda essa ansiedade...

Anônimo disse...

e... COLOCANDO MAIS LENHA NA FOGUEIRA.
vC JÁ CEDERAM LUGAR PARA ALGUMA MULHER QUE PARECIA GRÁVIDA E ELA SE RECUSOU DIZENDO QUE NÃO ESTAVA??? ERA PURAMENTE UMA BARRIGUINHA SEM VERGONHA DEBAIXO DE UMA BATINHA, DESSAS QUE ESTÃO NA MODA??ENTÃO...ISSO SIM É PAGAR MICO AHAHAHAH!!!