"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.Porque se você parar pra pensar, na verdade não há."
Uma frase simples e cheia de inspiração.
É verdade, não há amanhã. Ele não tem consistência e duração suficente para "existir".
Pois o amanhã sempre chega bem rápido. Tão rápido e sorrateiro que surge disfarçado de hoje.
E logo chega o amanhã do amanhã. E mais rápido ainda chega o amanhã do amanhã do amanhã.
E quando nasce o último dos amanhãs, a frase de Renato Russo faz todo o sentido: é melhor você ter amado alguém!
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Verso bom esse. Não à toa virou um dos refrões mais cantados da música brasileira.
Mas há outra estrofe do Legião Urbana que me intriga. Ainda não consegui desvendar.
Gostaria de contar com a interpretação de vocês.
O que quer dizer, afinal, as três últimas frase da canção "Há tempos"?
"Disciplina é liberdade.
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem."
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-Disciplina é liberdade?
Disciplina me parece mais falta de liberdade! A não ser que alguém interprete 'disciplina' como sinônimo de organização do tempo. Assim sendo, a pessoa teria mais liberdade para fazer o que quer sem preocupações!....
... ou seria a disciplina de um viciado em drogas, caso de Renato? O auto-controle ofereceria a verdadeira liberdade. Pode ser...)
-Compaixão é fortaleza?
Quanto mais se sente uma mistura de pena com solidariedade à situação infeliz do próximo, mais o sujeito se isola na sua auto-afirmação? Quanto mais compaixão ao próximo, mais o indivíduo se protege, inatingível, em sua fortaleza?
- Ter bondade é ter coragem?
Seriam todos os bondosos corajosos, nesses tempos em que a crueldade parece ser o mais rotineiro dos sentimentos?
Alguém tem resposta para este enigma?
10 comentários:
Oi André! Sempre leio seu blog, mas nunca comentei e criei coragem hoje =).
Gosto muito desses 3 versos e acho que a intenção é justamente que eles façam sentido diferente, dependendo de quem os escuta e da forma como os interpreta.
Na adolescência, o "disciplina é liberdade" pra mim fazia todo o sentido. Imaginava que a forma de conseguir a tal sonhada liberdade que todo adolescente quer para sair à noite (isso ainda existe atualmente?) era agindo de forma disciplinada e responsável.
A Compaixão e o respeito aos outros seriam os alicerces que nos fortaleceriam enquanto pessoas.
E é preciso coragem para ser bondoso com pessoas desconhecidas, de forma desinteressada, nesse mundo-cão.
Como eu falei, acho que cada um encontra um sentido que lhe é particular nesses versos.
Parabéns pelo Blog, é inspirador! =)
Fala, Drei. Concordo com suas interpretações sobre a disciplina e a bondade, mas, sobre a compaixão, tenho outra opinião. Acho que a compaixão gera fortaleza porque cria uma corrente de solidariedade, em que as pessoas ajudadas por aquelas que têm compaixão passam, por sua vez, a ter compaixaão pelos outros e a ajudá-los também. No final, gera-se uma grande massa coesa, solidária, resultando na máxima "o povo, unido, jamais será vencido".
Acho que a resposta está nos versos anteriores aos quais vc se inquietou. A música traduz a desesperança atual. Diz que “há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade/ E há tempos são os jovens que adoecem”. Logo, o mundo anda tão perdido que, olha só a que ponto chegamos, "disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza/ Ter bondade é ter coragem"!!! Olha só a solução pro caos, que Renato propõe: “Só o acaso estende os braços/ A quem procura / Abrigo e proteção”. É justamente o contrário de ‘proteção’ que o acaso nos dá, não é mesmo? Logo, disciplina e liberdade tb fazem parte desse irônico jogo de aproximar sentidos tão antagônicos como sendo uma coisa só. Sinal dos tempos, ele queria dizer.
Entrevista do homem:
O que você diria a uma pessoa que acha o verso “Disciplina é liberdade” fascista?
É claro que não é! Ali eu estou falando de autodisciplina. Se você pensar numa relação sujeito-objeto é fascista, mas numa relação sujeito-sujeito, não é. Não é: “Eu vou disciplinar você”. A natureza é disciplinada. Eu preciso de muita disciplina! Fica tão bonito escrito “Disciplina é liberdade”, É uma inversão do double think do 1984: “Liberdade é escravidão”, “Ignorância é força”. Se você tiver um conceito legal de liberdade, imediatamente surge uma idéia positiva. Mas eu acho bacana que as pessoas se preocupem. Deve ser uma questão importante para essa pessoa, para o verso chamar a atenção. O que mais me chama a atenção nessa música é: “Lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa”.
Eu já tinha pensado no "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", mas eu só pensei que, se realmente fosse o último dia da minha vida, eu provavelmente não estaria tão preocupado em apenas amar.
Os outros eu ainda pensarei um pouco mais de tempo...
Engraçado isso...
e tem gente cuja única preocupação num momento de fim de vida seria, exatamente, amar e ser amado...
abs
O que eu mais acho interessante e a forma dele expressar um sentimento como em Há Tempos.
Disseste que se tua voz tivesstes foça igual a imensa dor que sentes teu grito acordaia não só a tua casa mais a vizinhaça inteira.
A explicação da Clarisse é muito boa...Penso da mesma forma...Esses versos sempre me despertaram atenção e, lendo-os bem como tantos outros do Legião, me deparo pensando: Meu Deus, é isso mesmo!! É como em "Metal Contra as Nuvens", onde o Renato usou: "É a verdade o que assombra. O descaso o que condena. A estupídez o que destrói..."
As letras escritas pelo Renato levam à uma reflexão profunda, porém tão natural pra alguém, como ele, quem tinha enorme sensibilidade, maturidade e experiencias suficientes para delas tirar lições, pensamentos... e clarear o que, no fundo, todos sabíamos, mas não expressávamos....Que bom que tivemos esse poeta!!
Parabéns pelo blog! Abraços a todos os fãs!
vc é o único q percebeu a ironia, incrível como as pessoas não conseguem colocar o final da música no mesmo tom que vem desde o início; certamente esse final não tem nada de redenção, é uma crítica irônica ao ideal de pureza
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