terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Back in the USSR

A primeira vez que Paul McCartney se apresentou em Moscou foi em 2003. E pensar que ele começou a fazer sucesso em 1960.

Um fã que gostasse dos Beatles quando era garoto, e nunca tenha saído da Rússia, teria que esperar 43 anos para ver um show do ídolo.

Imagino o significado deste show para esse menino fictício. Além da longa espera, os jovens da década de 60 corriam o risco de ser presos fossem flagrados ouvindo os Beatles.

Os rebeldes de Liverpool eram considerados "vozes da liberdade", e, porque não, da subversão ao comunismo fechado da União Soviética.

Isso tudo é mostrado no documentário da A&E, de 2003. Com foco principal na turnê de McCartney na capital russa, há também todas essas histórias paralelas.

Como a do rapaz, 4 décadas depois, mostrando uma foto da banda inglesa rasgada clandestinamente de uma revista. Detalhe: ele não sabia quem era Lennon e quem era Mc Cartney.

Mas o mais impressionante é o drible na censura utilizado por jovens para ouvir os discos do quarteto. Usavam velhas chapas de Raio-x para fabricar cópias ilegais dos LPs (você sabia que dava pra fazer isso? Eu nunca tinha ouvido falar que era possível).

Assim, evitavam dar bandeira aos inspetores do governo. E não gastavam com os originais, que custavam o salário de um mês inteiro em Moscou.
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Ouviam os discos no Raio-x.

Raio-x, usado para conseguir enxergar o que está invisível, sem precisar abrir, rasgar, furar.

Raio-x, revelando a eles os ventos do mundo externo, sem que precisassem viajar, romper a bolha da cortina de ferro.
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Raio-x, expondo as entranhas hipócritas da ditadura soviética, que sufocava a arte externa como se isso impedisse que cidadãos tivessem acesso à música e à ideologia de outras nações.

Ditadura. Comunista ou capitalista, todas são muito, muito parecidas.

Em qualquer uma delas, a proibição só aguça a sede do povo por aquilo que é proibido.

Quando se consegue o fruto da árvore, o sabor é ainda mais doce. E o valor da conquista é inestimável.

Por isso, o frenesi da multidão cantando o refrão "Back in the USSR", mesmo que Paul nunca tivesse estado lá. Nunca fisicamente, nunca com permissão.

Mas ele estava de volta, tão presente como sempre esteve.

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