terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Carona pro mendigo

Uma das histórias que mais causam risos à minha irmã é a "de quando dei carona a um mendigo".

Mendigo nas palavras dela. Na realidade, era um vendedor de rua, tinha seus trinta e poucos anos.

É verdade que a história tem sua dose de humor. Parei o carro no sinal, e o cara me abordou:

- Fala, Fiel! Vai levar aquele chocolate pra me ajudar?
- Pô, não vou não, cara!
- Ah, é você né? Outro dia mesmo você passou por aqui e comprou um!
- Isso mesmo, mas hoje não vou levar não. Não tô a fim e...
- Ah, leva sim, fiel! É o último! O último pra eu poder ir embora pra casa.
- Beleza, você me convenceu. Toma aí. Dois reais? Toma aí!
- Valeu fiel! Agora acabou, posso ir embora... Escuta: pra onde você tá indo, hein?
(Não acredito) - Cara, tô indo pra aqui pertinho, pra Botafogo.
-Ih, demorou então de me dar um bonde até ali na frente, na ladeira da Macedo Sobrinho? Já é?
(Putz...) - Er... Bem, vamos nessa. Sobe aí.

Acaba que eu levei o cara até dois quarteirões adiante. Pensando nisso agora, tenho até um certo orgulho. Qual é o problema de botar um desconhecido no carro? A gente fica cheio de melindres, de não-me-toques. Só levei o cara até ali em frente e não teve problema nenhum...

Por outro lado, quem é que coloca um desconhecido no carro? Pode ser perigoso, é arriscado. Não sabia se o cara era assaltante, traficante, maníaco.

Enfim, tive menos de dois segundos pra pensar na proposta dele. Um "não" seria mal-educado demais, não sei se eu seria capaz de recusar um auto-convite tão direto. Mas o "sim" também me soou exagerado. Afinal, o cara demonstrou índice baixíssimo de 'semancol'.

No fim das contas, a história rendeu apenas dois quarteirões de um bate-papo inusitado, sobre como todo mundo que vende balas ali é da família dele. E, verdade seja dita, ele não exalava um dos melhores odores. Pudera, o dia inteiro debaixo daquele sol.
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Essa minha mania de virar camarada dos malandros de rua.
Tinha um que era guardador de carros perto da praia. Flanelinha. Eu brincava com meus amigos que era meu Valet-parking.

Seu nome era Fabiano, mas o apelido que era mais legal: Braço.

Invenção dele. Mas o apelido era meu e dele, na verdade.

Em todos os diálogos, nos chamávamos assim.

"E aí, Braço? Beleza? Tem vaga hoje?"
"Tem sim, Braço! Chega mais, bota o carro ali."
"Valeu, Braço!"

Interessante também foi quando confessou, com linguajar folclórico (e um pouco grosseiro), um dos problemas que mais o agustiavam: A traição da esposa.

"Pô, Braço. Não tá fácil ganhar a vida aqui não. Eu fico ralando aqui nesse calor o dia inteiro e não tiro muita coisa. E minha mulher só fica recramano, recramano. Por que ela não vem aqui trabalhar? E o pior? Enquanto eu tô aqui, tem vagabundo lá com ela, machucando. Machucano, machucano ela, que eu sei!"

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa história é sensacional! hhahaha! Beijao

p.s: tem ainda os garçons que sempre te conhecem!