"Mãe, vê o desenho que eu fiz!"
"Tá lindo, filho!"
"Tá lindo, filho!"
Todo mundo gosta de um elogio.
Receber crítica é uma merda.
Puxação-de-saco também não é bom pro ego não.
Digo isso porque eu sou um pseudo-fotógrafo, e ainda por cima, frustrado.
Às vezes, tiro umas fotos que curto muito, mas raras são as pessoas que dizem, de verdade, "Pô, tá muito legal".
Às vezes, tiro umas fotos que curto muito, mas raras são as pessoas que dizem, de verdade, "Pô, tá muito legal".
As reações são mais assim:
"Ah, essa aqui era pra não sair tremido"
"Ih, tentou foto artística, né?"
.... (indiferença total, conforme passa para a foto seguinte).
Acho que o vínculo do criador com a criatura paira acima, bem acima, do senso comum de qualidade.
A verdade é que sou o tipo do cara que ofende os fotógrafos de verdade.
É a mesma sensação de quem já é fã de uma banda há muito tempo e, de uma hora pra outra, surgem milhares de pseudo-fãs instantâneos só porque o conjunto vem tocar no Brasil.
Eu, para os fotógrafos de verdade, sou esses fãs-de-última-hora.
Destruo o ritual e a liturgia de uma boa foto.
A de comprar um filme, desenrolá-lo com cuidado, não deixá-lo queimar quando se tira da câmera, misturar as quantidades certas de reagentes químicos para a revelação.
Não. Eu não sou "ativo", não há suor para tirar uma foto.
É algo totalmente passivo e, sendo assim, ainda mais irritante para os amantes da boa fotografia.
Desde que ganhei minha câmera digital, passeio com ela no bolso, trivial como um celular.
Não, não vou à loja comprar pilhas pra câmera.
Quando acaba a bateria, deixo-a recarregando na tomada enquanto durmo e ronco.
Se eu quiser, aponto a lente para uma bela cena do mesmo modo banal como tiro foto do meu joelho.
O total desrespeito à essa Arte na sua pré-concepção, no entanto, dá lugar a um profundo entusiasmo depois do botão apertado.
Quando dou meus cliques, pergunto aos mais chegados: "Pô, mas essa aqui não ficou legal não, hein? Ah, olha bem!"
Se me crucifiquei nas primeiras linhas, agora é hora da advocacia do diabo.
Por que não posso desfocar uma foto? Por que não posso deixar a lente aberta à esmo, sem o domínio da técnica, para buscar "(d)efeitos"?
"Ah, essa aqui borrou, né?" - dizem alguns.
Pombas, gênios como Monet já borraram muitos quadros, mudaram o conceito da Arte para que os medíocres pudessem aproveitar a onda!
Sou um desses que vêm surfando logo atrás!
"Ah, se esse cara aqui não tivesse aparecido na foto teria ficado muito melhor, né?"
-Não!! Esta foto só é esta foto porque tem esse mané aí plantado mesmo!
Sim, sou um preguiçoso das lentes. Um escracho para os flashes perfeitos.
Uma criança tosca, com um rabisco primário nas mãos, à espera de um aprovação sincera.
-Não!! Esta foto só é esta foto porque tem esse mané aí plantado mesmo!
Sim, sou um preguiçoso das lentes. Um escracho para os flashes perfeitos.
Uma criança tosca, com um rabisco primário nas mãos, à espera de um aprovação sincera.
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Ps: Três craques da fotografia visitam, de vez em quando, este blog.
Um é profissional mesmo, o melhor que já vi.
O outro é um recém-médico, que provavelmente terá a mesma precisão nas mãos que já tem para capturar momentos sublimes.
E a outra só não faz isso da vida porque não quer. Tem o talento pra isso.
O outro é um recém-médico, que provavelmente terá a mesma precisão nas mãos que já tem para capturar momentos sublimes.
E a outra só não faz isso da vida porque não quer. Tem o talento pra isso.
A vocês três, este post não é um provocação.
Pensando bem,
é sim.
7 comentários:
Este é uma tentativa de comentário.
Tio Zé.
Beleza, tentativa feita!
Agora comenta direito pô!!!
Quem só veio ouvir Last Kiss pode ir embora, porque eles não vão tocar essa, não...
Tô brincando... Gostei muito da foto do Big Ben. A da Torre Eiffel vista por baixo foi você que tirou?
Fui eu sim, Hirmão! (É com "H" mesmo.)
Tirei essas fotos todas que tô usando nas foto-versos
"Aponto para uma cena bonita da mesma forma que fotografo meu joelho." Interessante.
"A esmo" é uma possibilidade que obviamente não exclui as outras. Este olhar, hummm, "isento"(?), pode ser dito ou tido como documental, ao léu. Pode, ao mesmo tempo, ser apreciado, visto como arte. Ou lixo. Você há de convir que a fronteira é quase subjetiva.
Convenção, a palavra que importa.
Um fotógrafo amigo, e ex-chefe, me disse que o nome, nesta profissão, é tudo que temos. Se a foto borrada for assinada pelo beltrano ela é conceitual. Senão, não. Exemplo recente: sob o crédito de Steven Klein, "Madonna como você nunca viu" na capa da Vogue. Nunca???! Já sim, e bem melhor. Mas é na Vogue... (http://cyanatrendland.com/2008/12/09/madonna-by-steven-klein-for-vogue-brazil/)
Das 36 poses do filme para os cartões de 4 gb, gigas de possibilidades foram abertas. Flickr, blog, fotolog, orkut. Tanta foto, tanta imagem... Olho com muito receio para alguns coletivos. Também porque arte e quantidade jamais andam juntas. Soa velho, eu sei, mas foto não é thumb, deve ser vista só, para ser lida e compreendida.
Nem de longe, quero que haja um "ar romântico" no comentário, mas o excesso fotográfico nos impede de ver as melhores fotos. Caímos na (bola de neve) da convenção de novo. De tanta foto, tanto ver, temos que escolher. Vamos atrás dos nomes, dos beltranos. E toda esta revolução digital acaba soterrada.
putz, acabei fazendo um post...
força do hábito.
Amigo,
você é um cracaço das fotos!
É óbvio que este post foi uma provocação.
O trabalho de vocês, mergulhados de verdade na arte da fotografia, é único e fundamental.
O resto é o resto, o resto somos nós. Aventureiros, que temos algum feeling sim, às vezes. Mas não temos o esmero, nem o estudo, nem a prática de vocês, fotógrafos.
Olhei a tal foto da Madonna. Realmente interessante, mas nada demais.
Tomara que, neste futuro breve, "de nome" vivam os fotógrafos bons de verdade!
Que tenham, por mérito, se transformado em grife de qualidade.
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