Se eu te contasse, você provavelmente diria que é mentira.
Mas quando sai no jornal, cruza a fronteira do impossível e vira verossímel.
Você seria capaz de fazer surgir, do nada, com um único gesto, 10 milhões de dólares? E, mais ainda, sem querer?
Nestes tempos em que o dinheiro some das bolsas e a liquidez do mundo encolhe, é possível fazer o caminho contrário. É possível inventar grana.
O caso do jornalista iraquiano que atirou seus sapatos no ainda presidente Bush virou capa de todos os jornais.
No meio do noticiário do O Globo, uma linha não teve o devido destaque, mas me chamou muito a atenção:
"Milionário Saudita oferece 10 milhões de dólares pelo par de sapatos".
O ato hostil do jornalista iraquiano lavou a alma de boa parte do mundo islâmico e o transformou em herói.
Mas 10 milhões de dólares pelos sapatos???
O exagero mostra algumas faces deste mundo contemporâneo:
Tem pouca gente com muito dinheiro na mão, e que não sabe o que fazer com ele.
As relações "coisa-valor" estão muito distorcidas.
Como pode a Petrobrás valer, na segunda-feira, X bilhões de reais e , na sexta-feira, 1/3 de X?
Como pode um site de internet criado no fundo de garagem passar a valer milhões da noite para o dia?
Como pode o gesto de atirar os sapatos fazer surgir, do nada, 10 milhões de dólares?
Isso me faz pensar numa contradição ainda mais cruel:
O jornalista, ironicamente, nunca poderia usar esse recurso em seu próprio benefício.
O homem capaz de fazer dinheiro não pode lucrar com isso (dificilmente o dinheiro da venda dos sapatos iria para ele).
Nestes tempos, estalam-se os dedos e se ganha muita grana. Os olhos piscam e se perde muita grana. Está tudo muito desequilibrado, fora de proporção.
É uma pena. O homem aprendeu a colocar uma etiqueta com preço em tudo. Coisas concretas, coisas abstratas e, agora, gestos.
Ao atribuir valor monetário a tudo, a humanidade não conhece o valor de nada.
5 comentários:
Melhor post do blog so far.
que bonito.
To com o Touro. Melhor post so far..
Foda!
Não posso deixar de comentar, com lágrimas emocionadas nos olhos, que percebo nosso querido Drei retornando aos poucos à sua origem de esquerda... Logo ele, que tanto me influenciou em minha ideologia política... valeu, Drei! Viva a justiça social!!!
Infelizmente, Hirmão, esquerda e direita se misturaram. Hoje em dia, depende do ponto de vista de onde você olha.
Vista de um lado, direita é direita. Vista do lado oposto, direita é esquerda. Assim estão as coisas hoje em dia.
Só nos resta, penso, as opções que independem da direção em que a seta aponta: solidariedade, justiça social, amor ao próximo, desapego aos exageros materiais, felicidade com arte!
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